Quando se fala em sustentabilidade no agronegócio já se pensa logo em reserva legal, áreas de preservação permanente, desmatamento e uso excessivo dos recursos hídricos. Será? O agronegócio, que contempla as cadeias de insumos, primário (dentro da porteira), agroindústria e serviços, tem se modernizado do ponto de vista da sustentabilidade em todo o mundo, e no Brasil, a maior parte dos agentes do setor, segue nesse caminho.

Apesar de todos os esforços para se ter um agronegócio melhor do ponto de vista econômico, ambienta e social, ainda há muito o que fazer. E tem gente investindo na melhoria desse cenário.

Recentemente participei do 1º Seminário Brasileiro de Economia Circular no Agro, na Escola de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), onde fui apresentada a um conceito relativamente novo de se produzir, com processos e formas que olham todo o ciclo de vida de um produto e se preocupam em gerar o menor impacto possível. De acordo com o professor da Escola de Engenharia da USP de São Carlos, Aldo Ometto, a economia circular é a solução da prosperidade econômica sem promover a exaustão dos recursos naturais. “É uma mudança no modo de se fazer negócios, no qual o objetivo final não é somente o de se obter lucro a qualquer custo.”

Dessa forma, a economia circular promove uma maior geração de valor do produto, que foi produzido e será comercializado de forma a causar os menores impactos possíveis ao meio ambiente. Acredito que essa seja a fórmula para alcançar o consumidor do futuro próximo.

Nesse modelo, o crescimento econômico deixa de estar diretamente ligado ao aumento da extração e consumo de novos recursos, e facilita a inovação no aproveitamento de recursos que já estão dentro de algum processo de produção.

A economia circular é uma tendência e um movimento em ascensão nos últimos anos, vista a importância da sua implementação para a sobrevivência das futuras gerações.

Entre os principais preceitos da economia circular está a mudança do modelo linear de produção para o circular, onde todos os elos do processo são interligados e baseados em três princípios: preservação, otimização e estimulação.

Parece tudo muito perfeito do ponto de vista teórico, mas como aplicar a economia circular no agronegócio? O professor da Esalq/USP, Weber do Amaral idealizou o Seminário e trouxe exemplos de economia circular sendo aplicada no setor, com ganhos de valor e de receita.

Entre os cases de sucesso estão a LF Pec, propriedade especializada em pecuária, que abate 100 mil cabeças/ano com total respeito ao meio ambiente. As fazendas, localizados nos estados de Mato Grosso, Bahia e são Paulo, além da criação de gado, produzem soja e silagem para a alimentação dos animais e adubo orgânico e biodigestão com os dejetos, entre outras práticas como a integração lavoura/pecuária/floresta.

A Cosan Biomassa também foi apresentada, com a geração de energia por meio da queima da palha e do bagaço da cana-de-açúcar. A empresa criou uma nova commodity energética, os pellets de biomassa, que pode ser vendida e exportada. Em parceria com montadoras de implementos agrícolas, a Cosan Biomassa desenvolveu maquinário que retira parte da palha do campo e embala em pellets. De acordo com Mark Lyra, presidente da empresa, o Brasil tem potencial para ser a Arábia Saudita da energia renovável.

Dessa forma, pode-se dizer que é possível produzir de forma mais sustentável e responsável, mas ainda temos um longo caminho pela frente como a adoção de políticas públicas que favoreçam essa prática, além de ganhos logísticos, tecnológicos e educacionais.

Fonte:  AgroMulher