Armando Soares #22: Oportunidade de falar a verdade

armando-soares (1)Mais uma vez a Amazônia geográfica está em evidência e sujeita a avaliação e condução por estrangeiros. Essa Amazônia não é a dos Estados amazônicos, onde existe o social ignorado, o que facilita os interesses ocultos dos piratas internacionais. Estou me referindo a Conferência da ONU que irá tratar sobre problemas da habitação e desenvolvimento sustentável entre os dias 17 e 20 de outubro em Quito, no Equador. Nessa Conferência vai estar presente o governador do Pará participando na mesa onde serão abordadas as diversidades de modelos urbanos na Amazônia, não se sabe qual Amazônia, se a Amazônia Brasileira, se os Estados amazônicos, se a Amazônia Internacional ou se a Amazônia Legal. Começa aí a enganação, a mentira programada.

A Conferência espera definir novas diretrizes da ONU para as cidades, chamada “Nova Agenda Urbana” para compatibilizar com a Nova Ordem Mundial, movimento que pretende impor sua vontade, sua política que é a vontade do Governo Mundial em construção. Nesta Conferência estarão presentes e atuando especialistas do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que vão apontar (?) diretrizes para combater as privações de direitos humanos causados pelo crescimento econômico urbano desenfreado com agenda que se comprometa com respostas concretas, incluindo maior regulação do setor privado.

A ONU determina que os debates em Quito, deverão observar a necessidade da Nova Agenda Urbana produzida no evento incluir mecanismos para garantir que as partes engajadas no desenvolvimento das cidades – instituições financeiras, desenvolvedores de infraestrutura e conglomerados imobiliários – o façam de uma forma coerente com princípios dos direitos humanos.

O governador do Pará informa aos jornais de Belém que o Pará já vem trabalhando em conjunto com a ONU Habitat e o Instituto Dialog na construção de modelos de governança e marcos legais que possam num passo seguinte, ajudar a viabilizar a implementação de mecanismos inovadores de financiamento e a aplicação de metodologia proposta pela ONU, alinhada com as demandas locais.

O governador do Pará destaca ainda que “a Amazônia (qual?) sempre foi vista a partir de mitos, revelando um profundo desconhecimento acerca de sua realidade. Estar presente nessa discussão acerca do desenvolvimento que se quer (quem quer?) é fundamental para que as cidades amazônicas possam ser projetadas nesse novo modelo, combinando desenvolvimento econômico, ambiental e social. Temos diferentes modelos de ocupação e de cidades e é exatamente essas peculiaridades devem ser contempladas.”

Informa ainda o governador do Pará que “estaremos propondo que o modelo a ser implementado leve em consideração nossa realidade, uma vez que historicamente se tentam impor projetos ou modelos de contextos distintos. É uma quebra de paradigma e revela um esforço feito há um bom tempo.” O governador do Pará reitera “que a Amazônia (qual?) tem um papel importante na prestação de serviços em escala planetária e que isso deve ser o indutor da construção de base de vida digna para quem vive nas cidades da Região.”

Essa Conferência da ONU nos dá a oportunidade de mostrar mais uma vez das verdadeiras intenções dos poderosos com a Amazônia. O primeiro destaque é a intitulação dada a Amazônia como objeto de avaliação. A Amazônia como região geográfica não comporta avaliações de ordem política ou econômica. O que comporta avaliação são os estados amazônicos ou os países amazônicos. Portanto, a “Nova Agenda Urbana” da ONU não tem aplicação na Amazônia geográfica, tem aplicação nos Estados amazônicos brasileiros e nos Estados amazônicos da Amazônia não brasileira. Aonde, portanto, a ONU que impor seu modelo urbano, nos Estados amazônicos brasileiros ou nos Estados amazônicos não brasileiros? É importante que os amazônidas das duas Amazônias saibam onde a vontade pretoriana mundial vai operar.

Quando a ONU anuncia as novas diretrizes da “Nova Agenda Urbana” é porque ela já considera aprovada. A Conferência serve apenas para mascarar a realidade. Tudo já está preparado e decidido. Essa maneira de agir faz parte da estratégia usada pela Governança Mundial sobre os países subdesenvolvidos desprovidos de poder de qualquer natureza. A presença de especialistas do vergonhoso Direitos Humanos para garantia desses direitos na “Nova Agenda Urbana”, não passa de um teatro da pior qualidade isto porque o crescimento urbano desenfreado já foi realizado nos Estados amazônicos. O que se pretende diante da realidade, desocupar as cidades na marra para implantar o modelo da “Nova Agenda Urbana”? O que está escondido nessa ação são as verdadeiras intenções do governo mundial que é dificultar de todas as maneiras a dinâmica do setor privado, o motor do desenvolvimento, utilizando para esse fim as instituições financeiras, os desenvolvedores de infraestruturas e os conglomerados imobiliários, ou seja, todos os setores que poderiam oxigenar as atividades do setor privado.

O governador do Pará lucraria mais se ficasse calado e não cuspisse tanta mentira e desconhecimento da realidade amazônica política e econômica brasileira. A declaração do governador paraense de que a Amazônia sempre foi vista a partir de mitos revela um profundo desconhecimento acerca da sua realidade, se presta muito bem para quem espera sempre favores de estrangeiros ricos. A Amazônia tem que ser vista pelos brasileiros que tem o dever de desenvolver a região, o que não aconteceu porque o endocolonialismo não deixou que isso acontecesse. Melhore o seu conhecimento sobre a Amazônia e o seu Pará governador, para não expor seu desconhecimento. Como, governador, o senhor tem a coragem de afirmar que criou modelo para desenvolver o Pará, se o seu governo tem dado provas inequívocas de ser contrário ao desenvolvimento perseguindo sem parar e cada vez com mais intensidade as células produtivas rurais permitindo que criminosos e bandidos invadam as propriedades rurais?  Quando o governador afirma que “a Amazônia tem um papel importante na prestação de serviços em escala planetária e que isso deve ser o indutor da contribuição de base de vida digna para quem vive nas cidades da Região”, o senhor não está falando sério, está? O serviço que o seu governo vem prestando em escala planetária não é para os paraenses, mas para os interesses do governo mundial, para os estrangeiros. A prova disso é a sua total obediência ao aparato ambientalista-indigenista espelhado na sua política ambiental criminosa.

O que tem a dizer governador sobre o que publicou recentemente o Estadão? Que “um terço da população das grandes e médias cidades da Amazônia vive em territórios do tráfico e com violações de direitos humanos. Nas periferias da maior floresta tropical, a qualidade de vida é pior que nos morros e nas favelas de Rio de Janeiro e São Paulo. O Estado encontrou uma nova realidade na Região Norte, onde máfias desviam cartões do Bolsa Família e da Previdência, grupos manipulam relatórios de vacina e mortalidade infantil e milícias tomam o espaço dos antigos pistoleiros. Diante do aumento do êxodo provocado por políticas públicas, a fronteira e a mata perdem moradores e os assassinatos de sem-teto nas periferias superam homicídios por disputas de terra. Em defesa de seus direitos, uma nova geração de lideranças sociais desafia poderes paralelos nos centros urbanos amazônicos.” “É tempo de crime, fúria e ódio extremos na floresta. A Amazônia revive a explosão da violência urbana de morros, subúrbios e periferias de Rio de Janeiro e São Paulo dos anos 1980, a “década perdida”. Hoje, 37,4% da população das 62 cidades com mais de 50 mil habitantes da Região Norte mora em áreas ocupadas pelo tráfico de drogas, em que a reportagem teve de pedir autorização para entrar.

“A Amazônia que gerou discursos acalorados sobre uma possível internacionalização de seu território é hoje uma “colcha” de áreas onde o Estado brasileiro não entra com seus agentes de segurança, muito menos com os profissionais de saúde e educação.”

“Ao contrário do que temiam nacionalistas e militares, o território proibido não foi fechado por governos estrangeiros, mas pelos pequenos poderes internos. Por sua dimensão, a floresta resistiu em boa medida e continua de pé em muitos trechos. O homem que vive nela, porém, está sem assistência. Na era da tecnologia e das redes sociais, os brasileiros da “margem da história”, termo usado por Euclides da Cunha durante expedição aos Rios Madeira e Javari no começo do século passado, estão hoje em periferias não menos isoladas. A briga na Amazônia por direitos garantidos há décadas nas outras partes do País continua.”

“A ausência de uma rede de proteção social forte da sociedade civil e do poder público torna as favelas amazônicas – conhecidas por baixadas, quebradas e invasões – mais distantes dos setores produtivos e empregos que as ocupações urbanas de regiões desenvolvidas do País. As mortes por armas de fogo registradas no Mapa da Violência 2015 não deixam dúvida: a Região Norte teve um aumento de 135,7% nos homicídios de 2002 a 2012, período em que Rio e São Paulo, no Sudeste, apresentaram quedas superiores a 50%. O estudo foi elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com dados do Ministério da Saúde.”

“O sistema de produção baseado nas grandes obras de infraestrutura, que rendem empregos em massa, mas temporários, e das commodities da pecuária, da mineração e da soja não garantiu uma economia inclusiva. O mercado de trabalho não cresce no automático em volta dos projetos. Por outro lado, os programas federais de distribuição de renda por meio de transferências diretas nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que transformaram para melhor o sertão nordestino, não atendem à complexa realidade amazônica.”

“Na abertura da Belém-Brasília, estrada que liga Anápolis a Marabá, em 1960, a Amazônia Legal, que compreende os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Tocantins e parte do Maranhão, tinha 35% de população urbana. Esse porcentual aumentou para 44% em 1980, 58% na década seguinte e 69% em 2000. Hoje, com 24 milhões de habitantes, essa área tem quase 80% de moradores nas cidades. A ascendência constante da curva mostra que a política para atender a demandas de energia e transporte de outros centros do País iniciada no governo Juscelino Kubitschek se manteve no regime militar e na democracia e, com ela, o êxodo e a concentração de terras.”

“As cidades da Amazônia crescem desordenadamente e sem planejamento. Nas capitais, bairros surgem de um dia para o outro em áreas tradicionalmente alagadas em determinadas épocas do ano pelos rios e lagos. Em épocas de cheia, famílias têm suas casas e ruas inundadas. A figura do desabrigado em centros urbanos inchados é uma novidade numa região em que homens e mulheres, em suas comunidades tradicionais na floresta, sempre conseguiram se adaptar ao volume de água.”

“No mesmo dia em que chegou ao bairro da Coca-Cola, uma invasão na periferia de Marabá, em março deste ano, o migrante Esmael Pereira, de 16 anos, foi cercado por quatro homens no barraco onde tinha acabado de ajeitar a pequena mala de roupas. O adolescente foi amarrado a uma cadeira e executado com tiros no tórax e na cabeça. A polícia avalia que ele foi considerado um intruso pelos traficantes que temiam concorrência.”

“O complexo de comunidades da Baixada Estrada Nova Jurunas, quinta maior favela do País, na zona sul de Belém, avança pelas margens e cursos de igarapés e rios que desembocam na Baía de Guajará. O tráfico usa a posição estratégica do cinturão de casebres onde moram 53 mil pessoas para receber e distribuir a cocaína, o crack e a maconha que chegam e saem em embarcações de diferentes tipos e tamanhos pelos milhares de cais fora de controle da Marinha.”

“Num dos braços da favela, um paredão de barracos margeia um canal de esgoto e entra quase um quilômetro Rio Guamá adentro. Os casebres são erguidos em forma de palafita, sobre troncos de madeira a três metros do espelho de água escura. As paredes costumam ser de tábua, lona ou mesmo tijolo. Uma tubulação clandestina de água tratada passa por baixo das moradias, com aberturas controladas. Da bica, a água é puxada por baldes amarrados em cordas. Os fios de energia elétrica passam quase encostados aos telhados. Uma casa pegou fogo há dois meses. O incêndio devorou outros três barracos até ser controlado pelos moradores. Não houve mortos.”

“Dados do último Censo mostram que 66% da população da região metropolitana de Belém vive em favelas. O termo mais difundido em outras regiões do País para definir moradias em situação precária é menos conhecido no Pará. São nas “invasões” e “baixadas”, termos mais populares, que mora a maior parte dos habitantes da capital paraense. O tráfico controla boa parte do cinturão de favelas composto por “invasões” e bairros de Estrada Nova e Jurunas, um conjunto de comunidades formadas sem planejamento.”

“Atualmente, existem 140 fazendas ocupadas por movimentos diversos de sem-terra. Cerca de 14 mil a 15 mil famílias moram em barracas de lona e palha à beira das estradas que cortam a região.”

“Altamira e os municípios no entorno da usina, no entanto, vive uma realidade diferente da beleza dos números oficiais. As ruas das cidades são tomadas pelas águas escuras de esgoto lançadas por casas e comércios. Também faltam água, energia elétrica e sinal de telefonia.”

Eis aí governador do Pará a Amazônia e uma pequena parte da realidade paraense e de outros Estados amazônicos que vocês políticos e administradores escondem da sociedade. Todos vocês políticos estão perdendo a oportunidade de falar a verdade social, econômica e administrativa aproveitando o momento político brasileiro. Todos vocês precisam começar a dar valor à vida e não se aproveitarem da vida dos outros para obterem vantagens.

Armando Soares – economista

e-mail: armandoteixeirasoares@gmail.com

*Todo conteúdo da postagem é de responsabilidade de seu autor.

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