Estudo sobre regeneração de capoeiras embasa política pública no Pará

Adam Ronan - Capoeiras em regeneração absorvem carbono
Foto: Adam Ronan. Capoeiras em regeneração absorvem carbono.

O estudo da Rede Amazônia Sustentável que mostra o acúmulo de carbono em florestas em regeneração no Pará é um dos pilares do Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA), que foi decretado (decreto n° 941) este mês pelo Governo do Estado do Pará. De acordo com o PEAA, o estado deverá zerar suas emissões líquidas de carbono a partir do ano de 2036. Ou seja, ao mesmo tempo em que precisa reduzir o desmatamento ilegal, tem que promover o aumento da regeneração de florestas secundárias (capoeiras) que atuam na absorção do carbono.

Para apoiar a política pública, os pesquisadores calcularam o acúmulo de carbono em florestas secundárias (capoeiras) na região de quatro municípios do estado: Marabá, Parauapebas, Bragança e Santarém. “Os resultados mostram que as capoeiras em regeneração apresentam uma boa relação custo-benefício para ações de recuperação ambiental, sendo uma estratégia eficaz para tomadores de decisão”, afirma a cientista.

Segundo a pesquisadora Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, uma das instituições coordenadoras da Rede Amazônia Sustentável (RAS), há vários fatores que incidem sobre a regeneração das florestas secundárias. “A presença ou ausência de floresta ao redor das capoeiras é um deles. Ela influencia diretamente na recuperação dessas áreas, diminuindo ou acelerando seu ritmo de crescimento. Por isso equilibrar a emissão pela redução do desmatamento e a absorção pelas capoeiras é o ponto-chave para atingir o estágio carbono neutro”, explica a cientista.

“Para solucionar um problema grave com muitas variáveis associadas, como é o desmatamento, precisamos de um conjunto de politicas públicas bem desenhadas e amparadas na ciência”, afirma Wendell Andrade, diretor de Projetos Especiais, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). O gestor explica ainda que para tornar o Pará um estado “carbono neutro”, capaz de absorver a mesma quantidade que emite, foi necessário o apoio das bases de dados da pesquisa. “Nós tivemos um pool de parceiros, como o Observatório do Clima, instituições públicas de pesquisa, entre elas Embrapa, Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), Museu Goeldi, e instituições do terceiro setor voltadas a entender o comportamento de emissões do Brasil e ter uma base digital atualizada”, afirma.

Menos desmatamento, mais regeneração de capoeiras

A Rede Amazônia Sustentável, um consórcio de instituições que desenvolve trabalhos de pesquisa na região, monitora mais de 400 sítios em diferentes localidades do Pará. São  parcelas permanentes de acompanhamento do crescimento das florestas secundárias de diferentes idades, que vão de 5 a mais de 20 anos.

Os resultados apontam que as capoeiras (florestas secundárias) com menos de 20 anos – consideradas jovens – acumulam um valor médio de 1,36 toneladas de carbono por hectare ao ano. O maior acúmulo foi na região de Santarém (2,46 ton de carbono por hectare/ano) e o menor na região Bragantina (0,35 ton/carbono/hectare/ano).

Esses números são menos otimistas do que se imaginava no início das pesquisas, mas isso se deve, segundo a pesquisadora Joice Ferreira, às secas mais frequentes na regiçao de Bragança e às condições de paisagem. “As capoeiras localizadas em regiões muito desmatadas crescem mais lentamente e absorvem menos carbono. Se o desmatamento diminui, naturalmente isso contribui também para as florestas que já estão em regeneração”, esclarece.

Ela conta ainda que o diferencial desse trabalho são as parcelas permanentes que o grupo de pesquisadores vem acompanhando durante 20 anos. “Fazemos a avaliação nas mesmas áreas ao longo do tempo”, relata. As estimativas são baseadas em indicadores específicos das áreas levando em conta a realidade de cada local.

O Pará, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/Prodes), tem atualmente cerca de 152 mil quilômetros quadrados de área desmatada. Para o diretor da Semas, Wendell Andrade, a mensagem é clara e urgente: reduzir cada vez mais o desmatamento, pois o desafio de alcançar a emissão liquida zero, passa pela redução das emissões. “Quanto menos emissões, menor o esforço de regeneração de áreas para compensar as emissões”, afirma.

Foto: Alexander Lees

Ciência como elemento de políticas públicas

O decreto n°941 que institui Plano Estadual Amazônia Agora, cria também o Comitê Científico do Plano e o Núcleo Permanente de Acompanhamento do PEAA. A pesquisadora Joice Ferreira é a representante da Embrapa Amazônia Oriental no comitê.

“Trata-se de um grupo de trabalho permanente que por meio de estudos de longa duração, consegue dar respostas rápidas ao poder público”, analisa a cientista. O trabalho da Embrapa tem focado na contribuição a politicas de redução do desmatamento, seja por meio da socialização de tecnologias de intensificação sustentável da produção, quanto por meio da geração de conhecimento e informações de base científica para a tomada de decisão.

Para Wendell Andrade, da Semas, a informação gerada pela ciência é um elemento fundamental das políticas públicas. “A gente está rompendo aquele padrão de academia estudando para um lado e os órgãos executivos criando ou revisando politicas publicas de outro lado”, conclui o gestor.

Fonte: Embrapa

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