Frigoríficos buscam atalhos para vender ao Irã

Para contornar os obstáculos criados pelas sanções econômicas dos Estados Unidos ao Irã, os frigoríficos brasileiros lançam mão de diferentes – e criativas – estratégias para acessar o mercado de carne bovina do país do Oriente Médio

Para contornar os obstáculos criados pelas sanções econômicas dos Estados Unidos ao Irã, os frigoríficos brasileiros lançam mão de diferentes – e criativas – estratégias para acessar o mercado de carne bovina do país do Oriente Médio. A engenharia, que inclui a exportação de carne bovina por via indireta, sobretudo por rodovias pela Turquia, coloca o Irã como um dos mais relevantes destinos do produto brasileiro, com participação expressiva dos grandes frigoríficos nesse comércio.

Estimativas do setor privado obtidas pela reportagem mostram que as companhias brasileiras já estão exportando mais carne bovina ao Irã por via indireta do que diretamente. No mês passado, quase 4,5 mil toneladas enviadas à Turquia, Omã e Emirados Árabes Unidos tiveram o Irã como destino final. “A despeito das dificuldades, é um mercado que está bombando”, disse um executivo que não quis se identificar devido à sensibilidade do tema.

Na prática, o Irã responde por mais de 7% das exportações brasileiras de carne, que em janeiro totalizaram US$ 457 milhões. Somados os embarques indiretos e diretos que constam nos dados oficiais da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), os embarques ao país persa ultrapassaram 8,5 mil toneladas em janeiro. Com isso, o Irã empata com os europeus como o quinto maior cliente do Brasil nessa frente.

Em dezembro passado, segundo mês após a entrada em vigor das sanções americanas, concentradas no sistema financeiro e no transporte marítimo, o efeito foi ainda maior. Naquele mês, o Irã foi o terceiro maior cliente – só atrás de China e Hong Kong -, respondendo por cerca de 15% das vendas. No período, foram mais de 15 mil toneladas de carnes enviadas ao Irã, sendo dois terços do volume vendido por via indireta.

De acordo com um empresário consultado pelo Valor em Dubai, durante a Gulfood (feira de alimentos voltada ao Oriente Médio), a exportação indireta é uma das maneiras de “driblar” a imensa burocracia imposta a quem pretende exportar para o Irã. Mas não só. Embora o comércio de alimentos não seja alvo das sanções econômicas dos EUA, os armadores estão mais resistentes e encareceram o frete para restringir a relações com o Irã, afirmou outra fonte. Nesse cenário, a exportação indireta surge como alternativa.

A menor disposição dos armadores marítimos não é o único entrave para vender ao Irã. No Brasil, praticamente nenhum banco realiza operações de câmbio que tenham como lastro a exportação ao Irã. Segundo dois empresários consultados pelo Valor em Dubai, somente os bancos Paulista e Máxima – principalmente o primeiro – realizam a operação.

Em busca de atalhos para contornar as sanções dos EUA e alavancar as exportações de carne bovina do Irã, a reportagem também apurou que os frigoríficos brasileiros receberam com entusiasmo, no ano passado, uma sondagem feita por emissários chineses. A proposta, que acabou não prosperando, era que a China importasse petróleo do Irã. Parte do pagamento seria feita com carne brasileira.

Procurado, o embaixador do Brasil em Teerã, Rodrigo de Azeredo Santos, reconheceu, em entrevista por telefone, que há mais dificuldades para exportar ao Irã. O embaixador disse que chegou a tratar com representantes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) sobre o tema, buscando explicar que o relacionamento com o Irã não está proibido nas áreas de alimentos, insumos hospitalares e medicamentos e que, portanto, os bancos poderiam atuar. “Mas os grandes bancos têm relacionamento muito intenso com os bancos americanos”, disse ele, explicando as razões pelas quais as instituições financeiras evitam contratos ligados ao Irã.

De acordo com Azeredo, desde que seguida todas as regras de compliance exigidas – com segurança jurídica para os armadores -, é viável exportar aos iranianos. “Há muito desconhecimento, mas é possível vender”, acrescentou. Como argumento de que a área de alimentos está livre das ações, o embaixador citou que, no ano passado, os Estados Unidos obtiveram uma receita de US$ 400 milhões na exportação de soja e equipamentos médicos para o Irã.

O diplomata também fez questão de destacar a importância do Irã para a balança comercial. Segundo ele, o país persa dá ao Brasil seu quinto maior superávit comercial, atrás de China, Argentina, Países Baixos e Hong Kong. A maior parte das vendas feitas ao Irã é de produtos do agronegócio. No ano passado, milho (US$ 1 bilhão), soja (US$ 511 milhões) e carne bovina (US$ 328 milhões) foram os principais produtos exportados pelo Brasil ao Irã.

Considerando apenas as vendas diretas, o agronegócio brasileiro obteve US$ 2,2 bilhões com as exportações para o Irã em 2019, de acordo com dados da Secex compilados pelo Ministério da Agricultura. Segundo estimativa do embaixador do Brasil em Teerã, a receita com as exportações indiretas ao país persa renderam outros US$ 2 bilhões ao país. Se depender do otimismo dos frigoríficos brasileiros, esse montante será ainda maior este ano.

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