Merenda escolar, um prato cheio para a agricultura familiar

Houve uma época – lá se vão 20 anos – em que acompanhei de perto a discussão de inclusão da produção agrícola familiar na merenda escolar. Vivia em Cáceres, no Alto Pantanal de Mato Grosso, e o fato de ser sitiante e jornalista dedicado à agropecuária me fez partícipe de algumas reuniões promovidas pelo então prefeito eleito da cidade.

Fonte: Editora Globo
Fonte: Editora Globo

O município tinha uma produção rural diversificada: banana, leite, tomate, mel, manga – quanta manga se perdia nos quintais! – caju, cítricos, arroz, feijão, mandioca, milho, entre outros. Nada mais lógico que incluir esses produtos no prato dos alunos.

No caso do milho, uma comunidade inteira, no distrito do Caramujo, dedicava-se a seus subprodutos, principalmente pamonha e curau. Logo cedo, de ônibus, carona ou bicicleta, as mulheres da comunidade deslocavam-se até a sede do município para vender os quitutes, acomodados em grandes caixas de isopor para manter a temperatura.

A clientela era fiel, e sob o sol escaldante da tarde elas retornavam ao Caramujo com as caixas vazias. Faziam esse movimento boa parte do ano, buscando milho onde quer que houvesse. Muita gente passou a produzir milho irrigado para abastecer a produção de pamonha na entressafra. Tempos depois, criaram uma grande festa anual onde se produz a maior pamonha do mundo, com registro no Guinness Book. Fiz uma matéria a respeito para a Globo Rural.

Apesar de todas as vantagens de se adquirir alimentos dos produtores locais para abastecer as cozinhas escolares, a moda nunca pegou. Suspeito que o lobby das indústrias trabalhe duro para que isso não aconteça; põe defeito nos produtos regionais in natura em nome da segurança alimentar.

Ora, são os próprios filhos dos produtores, em muitos casos, que frequentam as escolas, principalmente as rurais, e fica difícil imaginar que tentem vender produtos inadequados. É só o diretor fiscalizar e descadastrar o espertinho. Do ponto de vista da economia, a vantagem é óbvia: o dinheiro da merenda fica no próprio município. Há outras: a logística de distribuição é muito mais simples e os alunos poderão alimentar-se de produtos que já fazem parte da sua dieta.

Por isso, considero importantíssima a determinação do governo federal de aplicar 30% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar (FNDE) na compra de gêneros cultivados por produtores da agricultura familiar. Mais importante ainda será a discussão do tema, seus benefícios e problemas, no 9º Fórum Nacional de Alimentação Escolar, marcado para os dias 23 e 24 de maio, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. Quem sabe agora a ficha caia?

Fonte: Revista Globo Rural

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