O marketing da cadeia está nas mãos de quem?

Cada um, em suas redes sociais, pode transmitir mensagens sobre a produção de carne e ser parte do marketing do setor

O marketing da cadeia está nas mãos de quem?
Mariane Crespolini

Tenho participado de alguns encontros internacionais da cadeia da carne e, claramente, os desafios de “imagem” enfrentados por pecuaristas e pela indústria são praticamente os mesmos de uma ponta à outra do mundo. O sensacionalismo da mídia contra a cadeia não ocorre apenas no Brasil. A situação é tão alarmante que, como resultado de propagandas “contra” a carne, em alguns países desenvolvidos, o consumo de carne vermelha entre mulheres e adolescentes está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde.

Pouquíssimas vezes as notícias têm fundamento científico, ou, quando tem, escolhem o que expor. Por exemplo, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo há manchetes afirmando que quem come muita carne tem mais riscos de infarto. A questão é que as manchetes “esquecem” de ressaltar outras variáveis como obesidade, sedentarismo e consumo de bebidas alcóolicas nos estudos.

A França, por exemplo, é um dos países onde mais se consome gordura animal e registra um dos menores índices de infarto, o que evidencia que a ocorrência (ou não) de doenças está muito mais atrelada aos diversos hábitos alimentares e à qualidade de vida do que ao consumo de carne. Porém, isto a mídia não informa.

Quantas notícias não saem contra a produção no campo? Nas últimas semanas, em especial, o tema foi a legislação trabalhista. Ficou claro que, diversas pessoas possuem no seu imaginário o conceito de que as propriedades de pecuária de corte trabalham escravizando pessoas. Uma pena.

Não apenas no Brasil, mas no mundo, a resposta da cadeia da carne é sempre “defensiva”. Há um ataque e uma resposta à ele.  O trabalho de diversas instituições para reverter estas notícias e falsas imagens tem sido muito bom. E, dia após dia, a cadeia começa a olhar para o marketing. Ou seja, começamos a sair da “defensiva” e começamos a ter ações “pró-ativas”

O recente afastamento do jornalista Willian Waack reforça o poder das redes sociais. Sem entrar na discussão, o fato é que foram as redes sociais e o modo como as pessoas demonstraram sua opinião, que fizeram com que a emissora afastasse o jornalista. Este caso não foi o primeiro, nem o último. Mas o que isto tem a ver com carne bovina? Tem a ver que você, caro leitor, pode ser o elo principal do marketing da carne!

Para sairmos da defensiva, há dois caminhos que precisamos estabelecer com o consumidor. O primeiro é conectar o consumidor à produção. E isto, você pode fazer facilmente. Você já parou para refletir quantas pessoas tem no facebook ou mesmo nos grupos de whatsapp que não estão relacionados à produção de carne bovina? Pense nos amigos do clube, da igreja ou da escola dos filhos. Olha como você, individualmente, tem o poder de transmitir uma mensagem positiva da cadeia.

Invista nas suas redes sociais, apresente o seu trabalho. Porém, tente traduzi-lo para um alienígena. Aquilo que é óbvio para você, não é óbvio para quem não está no campo. Por exemplo, quando postar fotos do seu funcionário, cite há quanto tempo ele trabalha com você. Quais os incentivos que você proporciona a ele. O que ele faz? O que o leva a gostar de morar no meio rural? A cidade não sabe disso!

Vou dar um exemplo. Levei meus pais no dia de campo da Agropecuária J Machado, quando fiz uma palestra em julho. E minha mãe veio me perguntar se com 100 mil reais ela comprava um touro. Ainda que seja produtora rural de outro setor, minha mãe não sabia como é a produção de carne bovina e eu, sinceramente, não tinha me dado conta disto. Ela também não sabia como que os investimentos em genética tem feito com que a produção seja muito mais sustentável. Seus amigos de facebook sabem?

Então, ressalte nas suas postagens não apenas os dados técnicos que fizeram com que a sua produção seja de um boi de “entortar o gancho de frigorífico”. Pense em como você contaria à uma alienígena sobre a vida justa que este animal teve? Vacinação e vermifugação estão relacionadas ao bem estar animal. Mas, nem todos na cidade entendem assim. Aliás, imagino que as pessoas da cidade não imaginem o quanto é trabalhoso vacinar o rebanho. Ressalte isso!

O segundo ponto da estratégia de comunicação com o consumidor vai além da produção. Conheço vários produtores orgulhosos dos cortes que produziram, apresentando o churrasco e os pratos que prepararam. Você já pensou que no seu facebook ou WhatsApp existem muitas pessoas que dividem sua rotina entre trabalho e família e, durante a semana, só querem uma receita fácil e rápida? Ou ainda, que podem ter em mente que é muito difícil preparar um prato com carne bovina? Frango é mais fácil?

Você pode fazer isso pelas suas redes sociais. Aquele prato que ficou uma delícia, apresente! Explique como preparar uma carne, deixando ela suculenta. Nem todo mundo sabe fazer um bom bife. Na Nova Zelândia e na Austrália, por exemplo, alguns supermercados oferecem diariamente para o consumidor receitas rápidas, com tempo de preparo de no máximo 10 minutos, acompanhadas de informações ressaltando os benefícios nutricionais do alimento, isto tem aumentado expressivamente as vendas.

Mas, caro leitor, o que gostaria de enfatizar ao final deste artigo é que estamos todos clamando por mais marketing na cadeia. Alguns afirmam que deveria ser a CNA a fazer isso, outros as associações. Muitos de nós ainda estão refletindo qual seria a instituição a assumir este papel. Pois bem, o caso do Willian Waack demonstrou quem tem o poder: cada um de nós.

Você, pecuarista, pode conectar o consumidor à sua produção e ensinar a ele como fazer um bom prato com carne bovina. Mas lembre-se, muitas vezes, para este consumidor, a produção de carne bovina é coisa de outro planeta, então você deve explicar para ele, como se ele fosse um alienígena, recém chegado ao planeta “pecuária de corte”.

*Mariane Crespolini possui graduação em Gestão Ambiental pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo – ESALQ/USP e mestrado em desenvolvimento econômico pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. É pesquisadora na Faculdade Rural da Escócia (SRUC) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/ESALQ/USP), na equipe de proteína animal.

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