Preço do feijão aumenta mais de 200% desde janeiro, diz Ibrafe – Globo Rural

Saca está mais cara que a de café arábica em algumas regiões, de acordo com o presidente do instituto

(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)
(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

Preço do feijão chega a custar R$ 20 no mercado varejista.

O preço do feijão no mercado interno tem sofrido forte alta. Desde janeiro, a saca de 60 quilos aumentou 260% e chegou a R$ 550 em São Paulo. O valor é mais alto que o de uma saca de café arábica de boa qualidade, que chega a R$ 525 em locais de importante produção, como a Zona da Mata mineira.Os dados são do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), entidade que representa a cadeia produtiva do grão. Em algumas regiões do Brasil, o quilo do feijão chega a R$ 20 no varejo, situação que virou até assunto para os populares memes que circulam na internet.

Segundo Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe, o que está sendo repassado ao consumidor final é a soma de vários fatores que deixaram a situação “caótica”. Tudo começou com a menor área plantada na primeira safra de 2016, quando o produtor escolheu plantar soja e milho, que remuneram melhor. A diminuição do preço mínimo por parte do governo federal também influenciou negativamente a cultura.

Lüders avalia que o governo também se ausentou ao não formar estoque preventivo nem adotar estratégias para enfrentar o El Nino intenso. O fenômeno climático causou quebra da safra nas áreas produtoras com excesso de chuva na região Sul, como no Paraná, principal produtor; e no Nordeste, com estiagem severa.

“Mesmo sabendo disso com seis meses de antecedência, o Ministério da Agricultura não adotou nenhuma estratégia para melhorar o estoque e incentivar o produtor a sobreviver aos efeitos do El Niño”, conta.

Enquanto isso, a demanda pelo grão cresce. “Arroz com feijão deixou de ser comida de pobre para ser comida de brasileiro. Ou seja, o Brasil tem consumido cada vez mais feijão per capita. E, mesmo na crise, com o feijão mais caro, o brasileiro faz a conta e percebe que o grão rende mais, nutre mais que um lanche, uma pizza, e outras opções. Ele prefere investir em uma concha de feijão”, diz o executivo.

Para este ano, o governo federal estima o consumo em 3,35 milhões de toneladas, já contabilizando a importação. A produção de 2016 está estimada em 2,8 milhões de toneladas, gerando um déficit de 550 mil toneladas. Os estoques públicos estão em 1.111.489 toneladas, o que, segundo Lüders, não atenderia nem a 15 dias de consumo.

Diante disso, pelo menos até o início de 2017, a situação atual não deve ter mudanças. Os preços devem se manter em níveis elevados com a oferta relativamente baixa e a demanda firme. Segundo Marcelo Lüders, a terceira safra deve ter área reduzida após a intensificação de contratos dos produtores com as sementeiras de milho.

Há também a redução de recursos hídricos em regiões importantes, como Mato Grosso, onde açudes e reservatórios estão secos e podem inviabilizar a irrigação durante os três meses do ciclo da cultura. As sementes de feijão estão mais caras para o produtor, há o ataque de pragas como a mosca branca, que atinge interior de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso; e a geada no interior de São Paulo, neste fim de semana, que danificou plantas em desenvolvimento.

“Quem for plantar tem que considerar que está caro, pois também aumentaram os custos de eletricidade, de semente, de produtos para defender a lavoura. A situação até a semana passada era trágica, e agora está gravíssima. Só notícia ruim atrás da outra”, alerta Lüders. “A demanda está muito alta e os estoques continuarão baixos. Quem plantar e colher feijão com certeza terá para quem vender”, diz.

Diversificar

Enquanto o plantio de feijão segue preterido, o Brasil tem comprado da variedade preta de outros países. O que também pode não ser vantagem, já que o câmbio não favorece compras do exterior e há um imposto de 10% em cima das importações e disputamos o produto com outros países como Cuba.

O Ibrafe defende diversificar as variedades para continuar atendendo à demanda interna e também exportar quando houver excesso na oferta. A entidade cobra incentivos do governo federal à produção de feijões que não perdem a cor, como o vermelho, rajado, preto, entre outras. Assim, o mercado não ficaria dependente do carioca, o mais consumido.

“Quando sobra, o produtor é obrigado a vender a saca por R$ 50. Se tivesse mais variedades que pudessem ser exportadas, teria ajudado. Mas o carioca só o Brasil produz, não dá para exportar nem importar. Se produzir muito, não tem como vender, nem exportar, nem importar se faltar. O problema é apostar apenas em uma variedade de feijão”, diz.

Por Teresa Raquel Bastos

Fonte: Globo Rural

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