Quatro safras por ano – Globo Rural

Ele dedicou a vida a desenvolver técnicas agronômicas para recuperar solos do Cerrado e aumentar a produtividade de lavouras até que criou a integração lavoura-pecuária-floresta

Lá vem ele: jeitão simples, agitado, divertido, cabelos bem loiros despenteados, camisa, calça e sandálias. Por onde o agrônomo João Kluthcouski – JoãoK no mundo do agronegócio – passa, deixa uma lição, que pode ser sobre o solo, sobre o meio ambiente ou sobre a ciência. Dedicou toda a sua vida profissional, que começou em 1970 na Universidade de Pelotas (RS), a pesquisar e, de tanto fazê-lo, tornou-se um especialista, um construtor de solos.

Cientista agrícola da Embrapa Arroz e Feijão, com sede em Santo Antonio de Goiás (GO) desde 1974, e com um currículo de 45 páginas, JoãoK atua na área de recuperação de solos desde o começo da década de 1980. Estava presente na edição número 1 de Globo Rural, em 1985, mostrando como os agricultores-leitores poderiam preparar o solo para o plantio com aragem e gradagem, uma revolução para o período. Naquela época, nem ele mesmo sabia que estas técnicas se tornariam parte de sua mais brilhante tese, a da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Hoje, JoãoK é o expoente desse sistema, capaz de recuperar solos degradados, e oferecer ao produtor rural, quatro safras por ano. “Com esta técnica, o Brasil pode assombrar o mundo com a produção agropecuária”, afirma.

JoãoK está aperfeiçoando a técnica ILPF faz muitos anos. Vive sua vida para isso. Desde o começo da carreira, busca formas de manejo nas lavouras de grãos do Cerrado que evitam o desgaste do solo. Mais ainda, com o passar dos anos, dedicou-se a buscar soluções para recuperar os solos deste ecossistema. “Com a prática no campo, percebemos como o consórcio de culturas anuais com forrageiras em áreas de lavoura, tanto em sistemas de plantio direto como convencional, poderiam ajudar o solo a recuperar suas perdas, acumuladas ao longo de anos de uso extensivo”, diz o cientista, que nos anos 1980, criou o chamado Sistema Barreirão. “Foi o início de tudo”, lembra.

O Barreirão é uma das tecnologias desenvolvidas por ele para recuperar e renovar pastagens em consórcio com culturas anuais. Arroz, milho, sorgo, milheto com forrageiras, leguminosas forrageiras. Para JoãoK, tudo é válido. “O Barreirão criou uma opção de recuperação de pastagens e proporcionou a expansão das potencialidades da área para o cultivo de arroz de sequeiro, mas outras culturas foram inseridas no sistema para superir as necessidades do pecuarista”, explica. A técnica ganhou esse nome porque JoãoK foi testa-la na Fazenda Barreirão, que fica em Piracanjuba, também em Goiás.

De lá, anos depois, passou a usar seus conhecimentos na Fazenda Santa Fé, em Santa Helena de Goiás, e testando e experimentando, criou o revolucionário Sistema Santa Fé ou a Integração lavoura-pecuária (ILP). Essa tecnologia é baseada no consórcio de cultivos anuais como soja, arroz, milho, sorgo com plantas forrageiras, especificamente a braquiária. “Eu fico até emocionado ao ver o serviço ambiental que este capim presta ao solo”, diz o cientista. E ele fica mesmo, porque JoãoK trata o seu trabalho no campo com um amor incondicional. “Inicialmente, foi criado com o objetivo de recuperar pastagens, mas depois, percebemos que era um sistema que fornecia forrageiras e culturas anuais aos animais.”

O próximo passo de JoãoK no aperfeiçoamento do sistema aconteceu em Ipameri (GO). Na Fazenda Santa Brígida, ele implementou o que todo produtor rural gostaria de ter, um sistema que permite quatro safras por ano e pastos recuperados com o menor custo possível. “A ILPF é uma evolução do Santa Fé porque além dos que já fazíamos na integração da lavoura com a pecuária, adicionamos o elemento florestal”, explica. “O pasto degradado, virou solo fértil. Há uma safra de soja, uma de milho, uma de boi e uma de braquiária. É incrível”, ressalta o agrônomo, que é descendente de ucranianos (daí o sobrenome complicado).

A ILPF funciona assim: em solos degradados, o plantio de grãos (soja ou milho) consorciado com a braquiária traz de volta à terra exaurida os nutrientes perdidos, sobretudo o nitrogênio. A cada safra, as raízes conseguem penetrar mais o solo e buscar as ‘vitaminas’ necessárias para aumentar a produtividade das lavouras. “é um esquema: planta e colhe a soja. Planta milho e capim, colhe o milho e deixa o capim. Bom, aí, você terá uma palhada farta e insere o gado, que engorda neste pasto nutritivo, mais rápido. Com seis, sete anos, você maneja o elemento florestal, que ficou anos capturando CO² para crescer”, diz JoãoK, quase lágrimas de emoção nos olhos. “Eu fico emocionado mesmo em ver esse sistema”, admite.

Hoje, de acordo com a Rede de Fomento à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, estima-se que existam no Brasil cerca de 3 milhões de hectares cultivados com esse sistema. Ainda não há dados concretos nem oficiais sobre o tamanho desta área. “Mas te garanto que não é só no Cerrado que podemos fazer isso, recuperar a pastagem degradada, diversificar o negócio da propriedade e ainda, produzir mais, muito mais alimentos, na mesma área onde antes só se produzia gado. Ou nem produzia mais gado de tão degradado que estava.”

O sonho de JoãoK é ver o Brasil crescer, nos pastos, com o sistema ILPF. “É porque é um sonho viável e que será muito benéfico, não somente para a economia do país como um todo, mas para todos os agricultores e produtores rurais brasileiros, que hoje já entenderam que uma economia de baixo carbono, sustentável, é o futuro. E nós podemos sim, assombrar o mundo com esse sistema”.

Por Viviane Taguchi

Fonte: Globo Rural

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