Starup focam no agronegócio com apoio da computação em nuvem

A inovação tecnológica está cada vez mais perto do campo. Com a disseminação da banda larga móvel no interior do país e o apoio de instituições de ensino, uma nova geração de jovens empreendedores e de startups começa a aplicar soluções modernas no campo, utilizando smartphones e tablets. São softwares que ajudam a aumentar a confiabilidade e a acelerar os processos, ao controlar estoques, rastrear produtos nas fazendas e ajudar na produtividade.

thumb-33440191103-agroinova--empresa-especializada-em-piscicultura-resized“Começamos no momento em que as gerações mais antigas estavam se aposentando e administradores mais jovens assumiam os empreendimentos rurais”, diz Adriano Romero, diretor da Agroinova, empresa especializada em piscicultura. A maioria desses empreendedores digitais trabalha com o modelo de software como serviço, e suas criações utilizam a nuvem para manter os dados sincronizados entre os equipamentos dos técnicos e as bases de dados. A Safe Trace, por exemplo, começou a crescer quando criou um método mais eficaz para a rastreabilidade da carne bovina. “No início, as empresas procuravam apenas soluções que permitissem que o lote de carne fosse exportado para a Europa. Mas isso mudou”, diz Vasco Varanda Picchi, um dos fundadores da empresa.

Conheça, a seguir, três startups que querem fazer a reforma agrária usando tecnologia de ponta e espírito inovador. E inspire-se, porque há muito espaço para empreender no interior do país.

Tecnologia na ponta do anzol

Numa fazenda localizada em Ilha Solteira, a 660 quilômetros de São Paulo, técnicos se equilibram em canoas, smartphones nas mãos, enquanto alimentam tilápias com canecas de ração. Antes, o registro da quantidade de comida despejada nos tanques se baseava em planilhas e na ponta do lápis, o que tornava o processo lento e pouco confiável. Mas isso mudou desde que o controle passou a ser feito com um sistema criado pela startup Agroinova.

“Podemos medir a temperatura e a acidez da água, além de gerenciar a quantidade de ração distribuída pelos funcionários”, diz Adriano Romero, 38 anos, cofundador e diretor técnico da empresa. Todos os parâmetros registrados no software, que roda em aparelhos Android de baixo custo, ajudam a mapear a população de peixes dos mais de 100 tanques da fazenda, além de gerar produtividade e economia com ração.

Fundada por Romero e por Dalton Skajko Sales, a Agroinova está instalada no campus da USP em Pirassununga (SP), na Incubadora de Empresas do Agronegócio da universidade.

O custo do sistema varia de acordo com a quantidade de peixe criada e vendida. A cada quilo de tilápia, o proprietário gasta 2 centavos pelo uso do software, com valor mínimo de 300 reais ao mês. “Um técnico que dá comida para o peixe pode não ter familiaridade com computador”, diz Romero. “Mas quando manuseia um celular, vemos que ele tem uma desenvoltura enorme.”

Atualmente a Agroinova possui 40 clientes. “Nossa aceitação tem sido ótima”, afirma Romero. “Antes todo o processo era feito de maneira muito rudimentar.” Com apoio para gestão da TechTrends, que reúne investidores brasileiros de tecnologia, a startup sabe que agora basta se preparar para expandir. E fisgar peixes cada vez maiores.

Um chip acompanha o boi

Um surto de febre aftosa no Mato Grosso do Sul, em 2005, mudou a trajetória do engenheiro elétrico Vasco Varanda Picchi. Hoje, aos 30 anos, ele é um dos fundadores da Safe Trace, empresa que mapeia o ciclo de vida de cerca de 1 milhão de cabeças de gado pelo Brasil. Assim, garante o controle de qualidade da carne exportada e da que chega às prateleiras dos nossos supermercados.

Desde o nascimento, os animais são rastreados por meio de brincos e cápsulas de cerâmica, equipadas com chips em seu interior, que são colocadas no estômago do bezerro. “Essa é uma cadeia de valor importante”, diz Rodrigo Argueso, presidente da Safe Trace. “Por ser um processo muito longo, o boi se torna uma unidade econômica valiosa. É diferente de aves e suínos, que passam por poucas etapas até o abate.”

Parceira de uma rede de supermercados, a Safe Trace monitora o ciclo de vida de um grupo variado de produtos, que inclui também frutas e legumes.

Uma outra empresa foi criada exclusivamente para trabalhar com a rastreabilidade do café. “Desenvolvemos uma nova técnica”, afirma Argueso. A tecnologia usada inclui etiquetas eletrônicas, aplicadas às sacas ainda nas propriedades rurais. Esses códigos são lidos por um hardware que registra as informações de cada etapa do produto. Elas são, então, reunidas numa plataforma conectada à nuvem e podem ser acessadas a qualquer momento pelos donos do empreendimento.

“Nossa história é parecida com a de qualquer empresa do Vale do Silício”, diz o fundador da Safe Trace, Vasco Varanda Picchi. O negócio começou como um projeto acadêmico junto com o colega Francisco Biazotto Neto, 32 anos, na Universidade Federal de Itajubá (MG). O pai de Varanda trabalhava como consultor em frigoríficos e havia sido contratado por uma empresa para desenvolver um sistema para certificar a carne a ser exportada para a Europa.

Insatisfeito com os modelos existentes, Varanda desenvolveu um sistema como trabalho em uma das disciplinas de seu curso de engenharia elétrica. “Pensei com cabeça de engenheiro e vi que aquelas soluções antigas impediam, por exemplo, que se fizesse um recall de determinados lotes do produto, como na indústria automobilística”, diz Varanda.

Sua invenção foi testada em um frigorífico de Sertãozinho, no interior de São Paulo, onde o pai trabalhava. Consistia em aplicar cartões acionados por radiofrequência, tecnologia que o colega Biazotto estudava, em cada pata do animal e, na hora de fracionar as partes, antes de realizar os cortes comerciais, fazer a leitura de cada um desses cartões. Funcionou.

Sem pretensões de colocar a solução no mercado, por não haver, na época, demanda para esse tipo de solução, os estudantes fizeram o pedido de patente pensando em licenciar a tecnologia no futuro. Foi só depois do foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul que a chance de fazer um negócio se tornou clara.

A empresa recebeu investimento do fundo FIR Capital, de Belo Horizonte, de onde veio o atual presidente, Rodrigo Argueso, para cuidar da gestão.

“As empresas que tinham começado antes nessa área não estavam fazendo a coisa certa”, diz Varanda. “Era preciso gerar um grupo de animais certificados. Acompanhá-los da fazenda até o produto final, num processo longo. Foi isso que gerou oportunidade para a gente.”

Mel, leite e software

Em 2008, os empreendedores Eduardo Gonçalves, André Saúde, Gabriel Coutinho e Ricardo Victório, todos da Universidade Federal de Lavras, desenvolveram um sistema que rastreava a origem de lotes de mel em um apiário. “Mas logo percebemos que esse era um mercado muito pequeno”, diz Gonçalves, hoje com 27 anos. Apesar de o perfil familiar das propriedades que cultivam mel no Brasil ter tornado o negócio inviável, a ideia de rastrear produtos agrícolas permaneceu com o grupo e em 2011 deu origem à Mitah. A empresa foi incubada pela universidade mineira e logo percebeu que havia uma oportunidade no mercado de leite.

Um levantamento apontou a existência de mais de mil laticínios somente emMinas Gerais, o que fez o grupo desenvolver um sistema de rastreamento, administração de estoque e controle de qualidade para esses produtores.

O processo começa quando o caminhão do laticínio faz a coleta do leite nas fazendas. Nessa etapa, os dados são registrados em um sistema que funciona em tablets e celulares, conectados à nuvem. Em seguida há uma análise laboratorial do produto, também integrada ao programa. Assim o produtor pode controlar a quantidade de gordura, o tipo de proteína e marcá-las de maneira diferenciada no estoque.

Se quiser produzir queijo do tipo gouda, por exemplo, o trabalho fica mais fácil com o controle preciso no estoque de cada ingrediente necessário.

“Conseguimos investidores-anjos, donos de laticínios, que toparam bancar um sistema para atender todas as suas demandas”, diz Gonçalves. “Isso inclui rastreabilidade, controle de qualidade a partir dos resultados laboratoriais e controle dos ingredientes utilizados na produção de cada tipo de queijo.”

Atualmente, o software está em fase de testes em dois produtores. “É possível acessar o sistema de qualquer lugar. Ele elimina a necessidade de ter uma estrutura grande de tecnologia”, diz Gonçalves. As tarifas pelo uso do software começam em 500 reais ao mês. Em caso de propriedades com mais de 50 usuários simultâneos conectados ao programa, a equipe da Mitah pretende cobrar pelo menos 2,5 mil reais mensais.

Fonte: Info Exame

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