Temos uma pecuária sustentável?

Em meio às discussões entre campo e cidade setor trilha caminho de muito trabalho rumo à sustentabilidade

O Brasil é um dos maiores produtores de carne bovina do mundo. Em 2018 o país tinha 222 milhões de cabeças de bovinos segundo dados do Mapa. No período de 2017/18 a 2027/28 a produção de carne bovina tem um crescimento projetado de 1,9% ao ano, o que também representa um valor relativamente elevado, pois consegue atender ao consumo doméstico e às exportações. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Pará, Rondônia e Rio Grande do Sul lideram os abates. Isso significa que a produção ocorre de Norte a Sul, em condições diferentes e com impactos também diferentes. Um terço dos rebanhos estão na região amazônica, por exemplo.

Eis o desafio que a atividade caminha para se alinhar à sustentabilidade. Com 70% das pastagens brasileiras degradadas e a emissão de metano ( que aumenta a emissão de gases do efeito estufa) pelo sistema digestivo do boi, a demanda para produzir carne e leite é elevada no país. É aí que entram medidas simples que aumentam lucros, eficiência produtiva e ainda faz a pazes com o meio ambiente. Uma delas é a ILPF, que vamos falar mais adiante.

Há mais de dez anos o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) vem trabalhando estas e outras questões com o intuito de melhorar a atividade pecuária brasileira, fazendo a articulação entre os elos da cadeia e trazendo informação confiável aos produtores e a sociedade. Nós conversamos com Luiza Bruscato, coodernadora executiva do GTPS, para entender melhor a atuação e as frentes de trabalho, além de ideias para melhorar a pecuária.

Como o GTPS trabalha hoje, ações e atuação no Brasil?
Luiza: 
atualmente, temos 3 principais frentes de atuação: o GIPS, PSA e o Mapa de Iniciativas em Pecuária Sustentável. A primeira frente é a aplicação extensiva do GIPS (Guia de Indicadores de Pecuária Sustentável) com pecuaristas de diversas regiões. Através de acordos com os dois principais frigoríficos, Minerva e JBS, estamos implementando a ferramenta com os fornecedores deles nas regiões Norte e Centro-oeste brasileira. O principal objetivo dessa ação é levar conhecimento sobre sustentabilidade para ponta da cadeia de pecuária, auxiliando o produtor a realizar uma auto avaliação da sua fazenda, bem como, gerar insumos para que este possa melhorar a gestão da propriedade.

A segunda frente é a de conteúdo, na qual estamos trabalhando, entre outros temas, com o desenvolvimento de estratégias para Pagamentos por Serviços Ambientais.

A terceira frente de atuação é o Mapa de Iniciativas em Pecuária Sustentável, uma plataforma que reúne, de maneira organizada, muitas iniciativas e projetos do setor, demonstrando que já existem ações concretas que contribuem para a sustentabilidade nas fazendas, nas indústrias, nas empresas de insumos e no varejo. Esta plataforma existe desde 2016 e está em constante atualização. Contamos com a inscrição voluntária de projetos de pecuária sustentável.

Muitos pecuaristas de corte observam a sustentabilidade como uma demanda fundamental e no leite como uma exigência já vindo de parte do consumidor. O que ele deve levar em conta para se adequar a isso?
Luiza: 
o GTPS oferece o GIPS como uma ferramenta de auto avaliação para o produtor obter uma fotografia de como a fazenda está em termos de sustentabilidade, dentro dos aspectos de gestão, trabalhadores, meio ambiente, e outros aspectos técnicos de manejo. A partir do relatório gerado pelo GIPS ele tem acesso a quais indicadores ele precisa buscar melhorar, e para isso temos o Manual de Práticas em Pecuária Sustentável. Neste manual, temos bastante conteúdo de apoio a tomada de decisão para melhoria contínua da fazenda e busca do desenvolvimento sustentável. Existem também outros conteúdos disponíveis, de outros parceiros, como o Manual de Boas Práticas da Embrapa, cursos técnicos do Senar, entre outros.

ILPF é uma boa aliada?
Luiza: 
a integração Lavoura-Pecuária-Floresta é uma importante aliada da sustentabilidade, dando destaque para as áreas em que a pecuária tem perdido espaço para agricultura. É uma alternativa para integrar as duas atividades, e utilizar o mesmo solo para ambas culturas. A ILPF tem se mostrado um sistema viável, e a sua implementação pode ser realizada por etapas. Importante ressaltar que se faz necessário ter uma boa gestão e estabelecer um bom plano de trabalho, e, claro, se possível, obter suporte técnico ou de consultorias para que a transição ocorra de forma mais tranquila. Tanto o agricultor quanto o pecuarista podem buscar essa solução, a depender do perfil de cada um.

Com a epidemia de COVID-19 a poluição do planeta diminuiu consideravelmente mas, por outro lado, ouvimos de pecuaristas “o número de bois segue o mesmo”. Ainda é preciso desmistificar essa questão da emissão de gases por parte da pecuária?
Luiza:
 a epidemia do Corona Vírus teve um maior impacto nas atividades da cidade, por isso foi observado a diminuição da poluição relativa à produção industrial e queima de combustível pelos veículos. É um assunto bastante complexo e difícil de resumir. Entretanto, o que posso relatar é que com relação às emissões do setor de pecuária, o GTPS criou um grupo de trabalho, no qual convidamos os maiores especialistas no assunto (temos Embrapa, FGV, CEPEA, Imaflora, Consultorias, entre outros), para tratar e compilar estudos sobre balanço de carbono e nos apoiar a dar encaminhamentos necessários sobre o tema. Acreditamos que o manejo adequado da pastagem é o maior aliado no sequestro de carbono da cadeia de produção bovina. Vale destacar que uma agropecuária de baixo carbono e mais resiliente é importante para garantir a produção de alimentos, principalmente em condições de restrição.

Como a sustentabilidade impacta ou vem impactando a atividade nos últimos anos?
Luiza:
 a sustentabilidade é um caminho a ser percorrido, e todo o setor vem em busca de melhoria nos aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais, principalmente porque a demanda e a exigência dos mercados interno e externo são crescentes. Acredito que não há mais como fugir do assunto há tempos. E, como todos os setores, estamos nos adequando, agregando tecnologia e conhecimento para atingir uma maior eficiência e produtividade o que caminha aliado à sustentabilidade.

Muitas vezes o produtor ou o pequeno produtor ouvem a palavra sustentável e pensa “não tenho dinheiro ou espaço pra isso”. Como é feita essa conscientização?
Luiza:
 somos bastante surpreendidos pelos produtores. A maioria já realiza ações sustentáveis, e tem alguns direcionamentos nesse sentido, mas não se dá conta até obter um conhecimento mais amplo sobre o tema. Num primeiro momento, algum investimento pode ser necessário, mas há várias possibilidades de melhoria sem investimento. Por exemplo, realizar o descarte adequado das embalagens de agentes químicos. Simples, quando for à cidade o produtor leva as embalagens até o órgão responsável pela coleta. Prático e indolor, brincamos durante o treinamento. Gostamos de lembrar que sustentabilidade abrange os aspectos ambientais, econômicos e sociais, ou seja, tem estar adequado ao bolso do pecuarista também.

Quais as metas de trabalho para este ano?
Luiza: Para este ano, temos algumas metas de trabalho nessas frentes que comentei. Antes disso, gostaria de dizer que estamos criando um novo site para o GTPS, mais moderno e interativo, e estará no ar até o final deste mês de abril.  Este ano temos a ambição de dobrar o número de produtores que preencheram o GIPS. Atualmente, temos cerca de 300 GIPS válidos de produtores, e com as parcerias estabelecidas com os frigoríficos queremos dobrar este número.Também queremos crescer o número de iniciativas cadastradas no Mapa. Atualmente temos cerca de 40 iniciativas. Pretendemos expandir para mais regiões do Brasil e fortalecer a base de projetos de boas práticas de toda cadeia, demonstrando que é possível estabelecer a sustentabilidade no setor e já temos muitos casos de sucesso na pecuária.

Fonte: Agrolink

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