Por N. Neumaier, A. L. Nepomuceno e J. R. B. Farias.
As condições proporcionadas pela variação dos elementos meteorológicos são dependentes da região, do tipo de solo, da época de semeadura e do ciclo da cultura. Assim, a descrição da fenologia da soja permite identificar e agrupar os estádios de desenvolvimento da cultura e relacioná-los com suas necessidades específicas, no decorrer do ciclo.
O uso de uma linguagem unificada na descrição dos estádios de desenvolvimento agiliza o seu entendimento porque facilita a comunicação entre os diversos públicos envolvidos com a soja. Portanto, a metodologia de descrição dos estádios de desenvolvimento deve apresentar uma terminologia única, ser objetiva, precisa e universal, ser capaz de descrever um único indivíduo ou uma lavoura inteira e ser capaz de descrever qualquer cultivar. A descrição dos estádios de desenvolvimento de Fehr e Caviness (1977) é a mais utilizada no mundo inteiro por apresentar todas essas características.
A classificação dos estádios de desenvolvimento da soja, proposta por Fehr e Caviness (1977), identifica precisamente o estádio de desenvolvimento em que se encontra uma planta ou uma lavoura de soja. A exatidão na identificação dos estádios não só é útil, mas absolutamente necessária para pesquisadores, agentes das assistências técnicas públicas e privadas, extensionistas e produtores, pois facilita as comunicações oral e escrita, uniformizando a linguagem e eliminando as interpretações subjetivas porventura existentes entre esses públicos. A aplicação de agroquímicos em uma lavoura em estádio de desenvolvimento não apropriado pode ter graves consequências (econômicas, ecológicas, sanitárias). Assim, é absolutamente necessário que o agrônomo, que recomenda alguma prática, e o produtor, que irá executá-la, esteja falando a mesma linguagem. A utilização da classificação dos estádios de desenvolvimento da soja permite perfeito entendimento, eliminando a possibilidade de erros de interpretação.
O sistema proposto por Fehr e Caviness (1977) divide os estádios de desenvolvimento da soja em estádios vegetativos e estádios reprodutivos. Os estádios vegetativos são designados pela letra V e os reprodutivos pela letra R. Com exceção dos estádios VE (emergência) e VC (cotilédone), as letras V e R são seguidas de índices numéricos que identificam estádios específicos, nessas duas fases do desenvolvimento da planta.
Estádios vegetativos
O nó é a parte do caule onde a folha se desenvolve e é usado para a determinação dos estádios vegetativos porque é permanente, enquanto que a folha é temporária, podendo se desprender do caule. Os nós cotiledonares são opostos no caule e cada um deles possui (ou possuía) um cotilédone. Para a determinação dos estádios vegetativos (V1 a Vn), os nós cotiledonares não são considerados, pois não possuem (ou possuíam) folhas verdadeiras.
Os nós imediatamente acima dos cotiledonares são os nós das folhas unifolioladas e são, também, opostos no caule e cada um deles, também, possui (ou possuía) uma folha unifoliolada. Nós opostos ocupam a mesma posição no caule e, por isso, são considerados como um nó apenas. Todos os nós acima dos unifoliolados são alternados, ocupam diferentes posições no caule e possuem (ou possuíam) folhas trifolioladas. As folhas jovens possuem folíolos que, no início de seu desenvolvimento, se assemelham a cilindros. Ao se desenvolverem, os folíolos se desenrolam e os bordos se separam até a abertura completa dos mesmos. Uma folha é considerada completamente desenvolvida quando está totalmente aberta e os bordos dos folíolos da folha do nó imediatamente acima não mais se tocam (Figura 1). A folha apical está completamente desenvolvida quando seus folíolos já se encontram abertos e se assemelham aos das folhas abaixo dela (Neumaier et al, 2000).
O estádio vegetativo denominado VE representa a emergência dos cotilédones, isto é, uma plântula recém emergida é considerada em VE. Uma planta pode ser considerada emergida quando encontra-se com os cotilédones acima da superfície do solo e os mesmos formam um ângulo de 90°, ou maior, com seus respectivos hipocótilos (Figura 2).
O estádio vegetativo denominado VC representa o estádio em que os cotilédones se encontram completamente abertos e expandidos. Uma planta é considerada em VC quando as bordas de suas folhas unifolioladas não mais se tocam (Figura 3).
A partir do VC, as subdivisões dos estádios vegetativos são numeradas sequencialmente (V1, V2, V3, V4, V5, V6,…Vn, onde n é o número de nós, acima do nó cotiledonar, com folha completamente desenvolvida). Assim, uma plântula está em V1 quando as folhas unifolioladas (opostas, no primeiro nó foliar) estiverem completamente desenvolvidas, isto é, quando os bordos dos folíolos da primeira folha trifoliolada não mais se tocarem. De modo semelhante, uma planta atinge o estádio V2 quando a primeira folha trifoliolada estiver completamente desenvolvida, ou seja, quando os bordos dos folíolos da segunda folha trifoliolada não mais se tocarem (Figura 4). E assim, sucessivamente, para V3, V4, V5, V6, . Vn, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1. Descrição sumária dos estádios de desenvolvimento da soja.
Estádio | Denominação | Descrição |
VE | emergência | Cotilédones acima da superfície do solo |
VC | cotilédone | Cotilédones completamente abertos |
V1 | primeiro nó | Folhas unifolioladas completamente desenvolvidas |
V2 | segundo nó | Primeira folha trifoliolada completamente desenvolvida |
V3 | terceiro nó | Segunda folha trifoliolada completamente desenvolvida |
V4 | quarto nó | Terceira folha trifoliolada completamente desenvolvida |
V5 | quinto nó | Quarta folha trifoliolada completamente desenvolvida |
V6 | sexto nó | Quinta folha trifoliolada completamente desenvolvida |
V… | … | … |
Vn | enésimo nó | Ante-enésima folha trifoliolada completamente desenvolvida |
Obs: Nó cotiledonar não é considerado.
Nós unifoliolares são considerados como um nó, já que são opostos e ocupam a mesma altura no caule.
Uma folha é considerada completamente desenvolvida quando os bordos dos trifólios da folha seguinte (acima) não mais se tocam.
Estádios reprodutivos
Os estádios reprodutivos são denominados pela letra R seguida dos números um até oito e descrevem detalhadamente o período florescimento-maturação. Os estádios reprodutivos abrangem quatro distintas fases do desenvolvimento reprodutivo da planta, ou seja, florescimento (R1 e R2), desenvolvimento da vagem (R3 e R4), desenvolvimento do grão (R5 e R6) e maturação da planta (R7 e R8). Na Tabela 2 são apresentados sumariamente os estádios reprodutivos da soja.
Tabela 2. Descrição sumária dos estádios reprodutivos da soja.
Estádio | Denominação | Descrição |
R1 | Início do florescimento | Uma flor aberta em qualquer nó do caule (haste principal) |
R2 | Florescimento pleno | Uma flor aberta num dos 2 últimos nós do caule com folha completamente desenvolvida |
R3 | Início da formação da vagem | Vagem com 5 mm de comprimento num dos 4 últimos nós do caule com folha completamente desenvolvida |
R4 | Vagem completamente desenvolvida | Vagem com 2 cm de comprimento num dos 4 últimos nós do caule com folha completamente desenvolvida |
R5 | Início do enchimento do grão | Grão com 3 mm de comprimento em vagem num dos 4 últimos nós do caule, com folha completamente desenvolvida |
R6 | Grão cheio ou completo | Vagem contendo grãos verdes preenchendo as cavidades da vagem de um dos 4 últimos nós do caule, com folha completamente desenvolvida |
R7 | Início da maturação | Uma vagem normal no caule com coloração de madura |
R8 | Maturação plena | 95% das vagens com coloração de madura |
Obs: Caule significa a haste principal da planta; Últimos nós se referem aos últimos nós superiores; Uma folha é considerada completamente desenvolvida quando os bordos dos trifólios da folha seguinte (acima) não mais se tocam.
A proposta de Fehr e Caviness (1977) não apresenta subdivisões dos estádios de desenvolvimento da soja. Entretanto, para melhor detalhamento do estádio R5, Yorinori (1996) propõe sua subdivisão em cinco sub-estádios:
- R5,1 – grãos perceptíveis ao tato (o equivalente a 10% da granação);
- R5,2 – granação de 11% a 25%;
- R5,3 – granação de 26% a 50%;
- R5,4 – granação de 51% a 75%;
- R5,5 – granação de 76% a 100
Referência Bibliográfica
FEHR, W.R.; CAVINESS, C.E. Stages of soybean development. Ames: State University of Science and Technology, 1977. 11 p. (Special report, 80).
NEUMAIER, N.; NEPOMUCENO, A.L.; FARIAS, J.R.B. Estádios de desenvolvimento da cultura de soja. In: BONATO, E.R. (Ed.). Estresses em soja. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 2000a. p. 19-44.
YORINORI, J. T. Cancro da haste da soja: epidemiologia e controle. Londrina: EMBRAPA-CNPSO, 1996. 75p. (EMBRAPA-CNPSo. Circular Técnica, 14).
Fonte: Embrapa Soja