O cenário da colheita da soja tem sido de especial atenção para os produtores rurais na safra 2023/24. As condições climáticas provocadas pelo fenômeno El Niño têm causado efeitos significativos nas regiões produtoras do grão no Brasil.
Para compreender melhor os desafios da colheita atual, é importante explorar o andamento de todo o ciclo de cultivo da cultura, principalmente as condições de semeadura e desenvolvimento das plantas nas lavouras dos diferentes Estados produtores.
Diversos órgãos de pesquisa, como a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), corrigiram recentemente as perspectivas de produção da oleaginosa no país, em virtude da menor distribuição do volume de chuvas na região Central, Norte e Nordeste do país, assim como o oposto – alto volume – provocou impactos na janela de semeadura de Estados do sul do país, que enfrentaram quantidades de chuva acima da média histórica para o período.
Situação das lavouras no Brasil: da semeadura à colheita
Atualmente, algumas regiões do país, especialmente aquelas com início da janela de semeadura ainda em setembro, como é o caso do Estado do Mato Grosso, já se encontram com a colheita em andamento. Em contrapartida, em outras regiões, o plantio prossegue, mas já em fase final.
De acordo com o boletim emitido pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), até o dia 15 de janeiro, a maior parte dos Estados já havia finalizado a semeadura. Além disso, os Estados de Mato Grosso, São Paulo e Paraná já haviam iniciado a colheita.
A antecipação na colheita se deve aos efeitos que as altas temperaturas e a seca, observados em algumas regiões, principalmente no Centro-Oeste, têm sobre o ciclo de desenvolvimento das plantas. Muitas vezes, as condições de estresse provocam uma aceleração no ciclo da cultura, reduzindo assim o período de desenvolvimento e crescimento vegetativo e resultando em ciclo mais curto.
Como está a colheita de soja nas diferentes regiões?
Segundo os últimos dados disponibilizados pela Conab, 1,7% das lavouras brasileiras de soja, na safra 2023/24, encontram-se com a semeadura finalizada. Esse percentual representa uma colheita de mais de 1,35% acima do registrado na safra 2022/23.
Mato Grosso
No Mato Grosso, 100% das lavouras já foram semeadas. Não houve atrasos no plantio, quando comparado à janela de semeadura da safra anterior. Até o dia 13 de janeiro, 3,9% das áreas já haviam sido colhidas, percentual superior ante a safra anterior, que registrou 2,0% da área colhida.
Entretanto, muitas áreas prontas para colheita enfrentam problemas de produtividade devido à escassez de chuvas regulares durante o desenvolvimento da cultura. Isso resultou em maturação precoce, com menor produção de vagens e grãos de qualidade inferior e em menor quantidade.
Por outro lado, as chuvas recentes têm impactado a colheita em andamento, mas as operações continuam apesar das precipitações. As áreas semeadas mais tardiamente têm se beneficiado do aumento das chuvas, mostrando sinais de recuperação e desenvolvimento pleno.
Apesar disso, a Conab prevê grande impacto das condições climáticas sobre a produtividade. As estimativas para o Estado do Mato Grosso foram reduzidas de 3.535 kg/ha para 3.290 kg/ha em relação ao último prognóstico (janeiro de 2023).
São Paulo
Em São Paulo, a colheita está apenas começando, com 1,5% da área colhida. Segundo a Conab, a colheita ainda não havia iniciado até a mesma data no ano passado e, portanto, na safra 2023, está ocorrendo de forma antecipada.
A safra de soja em São Paulo tem sido marcada por condições climáticas adversas, com chuvas irregulares e ondas de calor extremo. Isso tudo provocou não só atraso no plantio, mas também a necessidade de replantio em algumas áreas.
No Estado, estão sendo registrados baixos volumes de precipitação. As altas temperaturas registradas em novembro provocaram floração precoce, o que impactou negativamente a produtividade das lavouras, principalmente aquelas com cultivares mais precoces.
Paraná
No Estado do Paraná, o início da colheita também foi antecipada, se comparada ao mesmo período de 2023. O relatório da Conab mostra que 3% da área já foi colhida, sendo que no ano passado a colheita não havia iniciado ainda nessa mesma data.
A cultura da soja sofreu impactos significativos no início do ciclo no Paraná. O plantio de diversas áreas ocorreu de forma atrasada em função, principalmente, do excesso de chuvas que ocorreu até novembro. Além disso, foi necessário realizar o replantio em algumas áreas devido à erosão que ocorreu também por conta das fortes chuvas. Atualmente, as precipitações encontram-se regulares, contribuindo para o bom desenvolvimento das plantas.
Mato Grosso do Sul
Além desses Estados, o Mato Grosso do Sul também antecipou a colheita da soja, com 0,5% da área total colhida até 13 de janeiro, conforme boletim da Conab. Apesar disso, a semeadura havia sido recém concluída nesse mesmo período. Dessa maneira, o Estado encontra-se com lavouras em início de desenvolvimento, assim como também em ponto de colheita.
Efeitos e projeções do clima na safra 2023/24 de soja
Os eventos climáticos provocados pelo El Niño têm afetado de forma significativa o ciclo da soja nas diferentes regiões do país, tornando a obtenção de previsões para a safra 2023/2024 um desafio para produtores e técnicos.
O que observamos é que, embora o plantio tenha ocorrido de forma atrasada na maioria dos Estados produtores, até o momento já alcançou 96,6% da sua totalidade.
O excesso de chuvas no Sul atrasou o plantio e gerou problemas na realização dos tratos culturais, uma vez que muitas áreas que sofreram erosão, o que causou a perda de nutrientes do solo. Em outras áreas, o estande de plantas foi prejudicado com as fortes chuvas, sendo necessário o replantio. Áreas de baixada também sofreram com alagamentos.
Por outro lado, nas demais regiões, as chuvas foram irregulares e insuficientes, além de temperaturas altas. Por isso, houve atraso no plantio, bem como morte de plantas, abortamento de flores e vagens, redução do porte de plantas e antecipação da colheita. Dessa forma, nessas regiões, também foi necessário o replantio de extensas áreas.
Além disso, o alto volume de chuvas e a maior umidade relativa do ar associada a temperaturas mais altas gerou desafios quanto ao manejo fitossanitário das lavouras. Essas condições são ideais para a ocorrência de diversas pragas e doenças, como a ferrugem-asiática e o percevejo-marrom (Euschistus heros).
Para as próximas semanas, o Informativo Meteorológico N°3/2024 prevê chuvas em diferentes volumes nas diferentes regiões do país. Nas regiões Norte e Sul, são previstos volumes de chuva em torno de 50 milímetros. Já para as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, estão previstas precipitações mais expressivas, que podem chegar a 100 mm.
Também são esperadas temperaturas altas nos extremos do país, sendo que a máxima pode ficar entre 34°C e 38°C em áreas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Por termos lavouras muito irregulares quanto aos estádios de desenvolvimento, os fatores climáticos extremos ainda podem refletir de formas variadas.
Expectativas para a safra de soja 2023/2024
As expectativas da safra de soja 2023/24 indicam queda de 2 milhões de toneladas na produção brasileira, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Conforme apontado, os efeitos negativos do clima já foram confirmados, e ainda podem provocar novas reduções.
De acordo com as projeções da Conab, a área cultivada com soja no Brasil alcançará 45.259,5 mil hectares, o que representa um aumento de 2,7% com relação à safra passada. No entanto, a média de produtividade prevista na safra brasileira 2023/24 de soja é de 3.431 Kg/ha, 2,2% inferior ao registrado na safra anterior. O volume total de produção deve ter um acréscimo de 0,4% se comparado à safra passada, com a produção de 155.269,3 mil toneladas.
As ondas de calor e a escassez de chuvas são um agravante para as lavouras em que a soja está em desenvolvimento e na fase reprodutiva. O aumento da umidade relativa do ar também acende um alerta de atenção à saúde das plantas. Para as regiões que iniciaram a colheita, a ocorrência de fortes chuvas também pode ser prejudicial e atrapalhar as operações.
Por: Mais Agro