Conflito de gerações, resistência à mudança e ausência de planejamento ainda travam o crescimento das fazendas brasileiras.
Enquanto o agronegócio brasileiro bate recordes de produção e exportação, milhares de propriedades rurais seguem estagnadas ou até mesmo à beira da falência — não por falta de solo fértil ou tecnologia disponível, mas por um fator que poucos querem encarar: a má gestão. A resistência de muitos produtores, especialmente os mais antigos, em adotar novos formatos de gestão, somada ao conflito entre gerações dentro das fazendas, está se tornando o verdadeiro calcanhar de Aquiles do setor. Mas afinal, o que está impedindo o produtor de transformar sua fazenda em uma empresa rural de sucesso?
A gestão rural ainda é o ponto cego do agro
Apesar de o Brasil liderar mercados como soja, milho e carne bovina, dentro da porteira a realidade é outra: grande parte das fazendas ainda opera sem nenhum tipo de planejamento estratégico, controle financeiro adequado ou metas claras. A maioria age no “modo tradicional”, baseado na experiência passada e em decisões intuitivas, sem dados ou indicadores. Isso gera desperdícios, decisões erradas e oportunidades perdidas.
De acordo com dados do SEBRAE, cerca de 80% das pequenas propriedades não têm controle de custos ou fluxo de caixa. E é aí que mora o perigo: não adianta produzir mais se o produtor não sabe se está lucrando ou perdendo dinheiro. Muitas vezes, a ilusão de que “está tudo indo bem” esconde prejuízos recorrentes que só serão percebidos quando já for tarde demais.
Gerações em conflito: o que trava a modernização?
É comum encontrar propriedades onde pais e filhos trabalham juntos, mas com visões completamente diferentes. Enquanto os mais jovens desejam implementar sistemas digitais de gestão, fazer parcerias estratégicas e até investir em marketing rural, muitos pais preferem manter os métodos antigos, com medo de perder o controle ou comprometer tradições. Esse conflito trava decisões importantes, e em alguns casos, leva até à saída dos filhos do campo, por não conseguirem espaço para inovar.
Além disso, a falta de capacitação contínua, tanto para os mais velhos quanto para os mais jovens, também é um entrave. Muitos produtores sequer conhecem os conceitos básicos de administração rural, planejamento estratégico ou análise de indicadores — e ainda assim precisam lidar com decisões que movimentam milhões de reais por ano.
Gestão é decisão — e não delegar pode custar caro
Outro erro recorrente é o produtor que prefere delegar tudo ao gerente, ao contador ou até ao vaqueiro mais antigo. No entanto, uma fazenda sem comando, sem visão e sem análise profissional de dados, mais cedo ou mais tarde entra em colapso. A fazenda precisa ser tratada como uma empresa: com metas, planejamento anual, controle de despesas, análise de resultados e foco em rentabilidade. Do contrário, será só mais um negócio rural que produz muito e lucra pouco.
A solução está no planejamento — mas poucos enxergam
A boa notícia é que nunca foi tão acessível buscar conhecimento e ferramentas de gestão. Hoje, o produtor tem acesso a cursos, softwares, mentores e livros que ensinam, passo a passo, como transformar sua fazenda tradicional em uma fazenda-empresa, com mais controle, menos desperdício e mais lucro. Porém, a mudança só começa quando o produtor admite que precisa sair do piloto automático.
Em suma, a verdadeira revolução do campo não está nos tratores mais modernos ou nas tecnologias de aplicação de insumos — está na mente do produtor. Se não houver uma mudança cultural, principalmente nas lideranças das fazendas, o risco de permanecer no prejuízo, mesmo em um setor bilionário, continuará crescendo. A gestão é o pilar que separa quem colhe lucro de quem colhe apenas esforço.
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FONTES:
SEBRAE / CNA / IBGE
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