Paraense foi ao Rio realizar palestra, no Museu do Amanhã, sobre inovação de políticas públicas em negócios rurais sustentáveis na Amazônia.

Conte algo que não sei.
A Lei Federal 11.947 trata do repasse de verba para a compra de merenda escolar, em que o mínimo de 30% tem que ser destinado à agricultura local familiar. Porém, mais de 60% dos municípios da Amazônia não cumprem essa lei. Se ela fosse efetivamente seguida, promoveria desenvolvimento socioeconômico local.
É possível produzir na Amazônia e respeitar a natureza?
A pecuária sempre foi tida como vilã do meio ambiente, mas, hoje, sabemos que existem técnicas que deixam a produção capaz de cumprir o código florestal, manter reservas ambientais e ainda aumentar o lucro em até 6%. É possível, sim, e a gente vai trabalhar para que isso seja replicado.
As pessoas não enxergam a Amazônia como uma oportunidade, e acabam abrindo uma pizzaria, um sushi, uma franquia. A Amazônia é, realmente, a terra das oportunidades. Ela é o Eldorado, mas não da mineração, da extração de madeira, da pecuária extensiva e das hidrelétricas. Ela é o Eldorado do desenvolvimento sustentável, da conexão com negócios rurais, da possibilidade de fazer negócios sociais e lucrativos. A gente não encontra um ambiente tão propício para novos negócios quanto a Amazônia.
Qual é a maior dificuldade que a região enfrenta na produção agrícola?
O grande problema não é não produzir, mas a falta de quem compre os produtos. Em Belém, é mais fácil ver leguminosas de São Paulo do que da própria Amazônia. Muita gente pensa que na região não se produz nada, que é só uma grande área verde. A Amazônia produz muita coisa, e de forma sustentável.
Na maioria dos casos, a prefeitura diz que o agricultor familiar não produz na quantidade necessária, não entrega no prazo, não tem qualidade, que ele é incapaz de emitir nota e de se organizar. Do outro lado, o agricultor diz que não vende porque não sabe o que a prefeitura quer comprar, onde entregar, que tipo de documento apresentar. É um grande desencontro.
Quais as principais diferenças entre a agricultura no Sudeste e no Norte?
O Sudeste é o maior mercado consumidor. Então, produzir aqui é estar de frente para o consumidor final, enquanto que a Região Norte, mesmo sendo a maior parte do território brasileiro, é a menos habitada. A outra diferença é o caráter empreendedor. Não é que ele inexista, mas, lá, é pouco incentivado, principalmente, pela classe média e pelos mais ricos. Há uma dificuldade muito grande em se arriscar pelo Norte.
“Negócios sustentáveis têm que ser lucrativos, mas respeitando o meio ambiente e o social”, explica o administrador
Como criar um negócio sustentável?
Sustentabilidade é usar recursos naturais de forma a deixar que as próximas gerações também os utilizem. Negócios sustentáveis têm que ser lucrativos, mas respeitando o meio ambiente e o social. Não adianta ter fábrica com uma produção economicamente viável e que preserva o meio ambiente, mas que só possui máquinas, sem homens na linha de produção, ou usa mão de obra escrava ou infantil.
POR Annelize Demani
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