A rentável safra de dados, por Maurício Lopes

Presidente da Embrapa explica como as fazendas poderão se beneficiar da Internet das Coisas (IoT)
POR MAURÍCIO ANTÔNIO LOPES (Agronomo e Presidente Embrapa)

Internet das coisas é um conceito que estará cada vez mais presente nas nossas vidas. Abreviada como IoT, do inglês “internet of things”, inclui qualquer coisa que conecte e troque dados por meio da rede global de computadores, desde celulares, automóveis e geladeiras até tratores e dispositivos inseridos no corpo de um animal. Estima-se que 100 bilhões de dispositivos estarão conectados até 2025.

A IoT está entrando no mercado a um ritmo que supera qualquer mudança nos negócios desde que nos tornamos uma sociedade industrial. Ela inaugura a era da automação inteligente, com máquinas e equipamentos que executam múltiplas funções com enorme rapidez e precisão, gerando conhecimento que impactará o comportamento humano, a indústria e os serviços.

Dois componentes se destacam nessa revolução: sensores e dados. Os sensores são dispositivos sofisticados, projetados para detectar e responder a sinais que podem ser usados para monitorar, medir e coletar dados. Esses componentes são capazes de captar e responder a múltiplos sinais, como radiação, temperatura, umidade, altitude, movimento, velocidade, deslocamento, etc. Um Boeing 787 conta com 10 mil sensores, gerando 40 terabytes de dados por hora, que, analisados e transformados em informações, orientam a tripulação e as equipes de manutenção.

As fazendas são um espaço nobre para a expansão da IoT, considerando a natureza complexa dos sistemas de produção agropecuária”
A IoT está intimamente conectada a outros conceitos importantes, como big data, sistemas que organizam a enorme quantidade de dados gerada pelos instrumentos e seus sensores. E também à “computação em nuvem”, com serviços disponíveis na internet (a “nuvem”), como servidores, bancos de dados, softwares de análise e muito mais. São essas ferramentas que permitem transformar imensos volumes de dados em informações úteis para a tomada de decisão ou para a modelagem de novos negócios, como venda de informações e serviços a partir dos dados coletados.

As fazendas são um espaço nobre para a expansão da IoT, considerando a natureza complexa dos sistemas de produção agropecuária, que envolvem cultivos, criações, florestas, suas combinações e associações com diversas indústrias, antes e depois da porteira. Com inúmeras atividades conduzidas a céu aberto, e submetidas a estresses térmicos, hídricos e nutricionais, além do ataque de insetos, fungos, bactérias, nematoides, etc., a agropecuária está entre as atividades humanas com maior potencial de avanço com a incorporação da IoT.

Imagine a economia com fertilizantes e defensivos se a agricultura de precisão disseminar amplamente o uso de mapeamentos precisos de fertilidade e áreas de ocorrência de pragas nas lavouras. Em vez de fazer aplicações em toda a área, tomando como referência a média de fertilidade ou a ocorrência de uma praga em partes da lavoura, as aplicações serão direcionadas de forma precisa, apenas nos locais onde a fertilização ou a aplicação de defensivo são necessárias. A Embrapa e a fabricante de processadores Qualcomm desenvolvem juntas sistemas inteligentes que, embarcados em drones, enviam informações para que o gestor da lavoura possa irrigar ou adubar apenas nos locais e nos momentos mais adequados.

Com a disseminação da IoT, os produtores passarão a colher dados, além de grãos, frutas, hortaliças, fibras, bioenergia, proteína animal, entre outros. Dados que corretamente organizados e tratados poderão se transformar em ativos valiosos, capazes de impactar a renda e a competitividade dos agricultores, com ganhos para a sustentabilidade do agronegócio.

Fonte: Globo Rural

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