A forma mais eficiente de introdução e disseminação da doença acontece com a semeadura de sementes infectadas, razão pela qual o controle da doença começa pelo uso de sementes livres do patógeno e tratadas com fungicidas.
A soja é ouro para o Brasil. É, ao mesmo tempo, a lavoura com a maior área cultivada, o grão mais produzido e o produto que gera o maior volume de recursos financeiros para a balança comercial do Brasil. Mas tem problemas e o agricultor sabe que precisa lidar com eles.
Dentre os principais problemas que o cultivo da soja enfrenta estão as cerca de 40 doenças causadas por fungos, bactérias, vírus e nematoides, responsáveis por limitar a obtenção de altos rendimentos das lavouras. A importância econômica de cada uma delas varia de ano para ano e de região para região, a depender do clima, do manejo da cultura e da época de semeadura.
Neste espaço iremos restringir a análise a apenas uma doença: a antracnose, doença fúngica presente em diferentes partes do planeta e que ocorre em várias culturas, dentre elas a soja. A espécie do fungo mais comumente associada à doença em soja é Colletotrichum truncatum, embora outras espécies de Colletotrichum também já tenham sido relatadas. Pode causar perdas significativas na soja, principalmente no início da formação das vagens. No Brasil, está mais presente no Bioma Cerrado, por causa das condições climáticas mais favoráveis de temperatura e umidade elevadas no período primavera/verão. Em anos muito chuvosos, pode causar perda total da produção, embora seus danos mais frequentes sejam a alta redução do número de vagens e, como consequência, retenção foliar e hastes verdes.
A preocupação dos sojicultores com essa doença perdeu importância a partir de 2001/2002, quando surgiu a ferrugem-asiática no Brasil, cuja maior severidade fez o agricultor relegar a antracnose a um segundo plano. Mas as infestações do fungo aumentaram a partir da safra 2011/2012 e voltaram a preocupar os sojicultores. A forma mais eficiente de introdução e disseminação da doença acontece com a semeadura de sementes infectadas, razão pela qual o controle da doença começa pelo uso de sementes livres do patógeno e tratadas com fungicidas. O tratamento industrial de sementes é uma boa estratégia no controle da moléstia e utiliza produtos registrados e comprovadamente eficientes. Quando o fungo é transmitido pela semente, os primeiros sintomas são observados durante a germinação, causando tombamento em pré ou pós-emergência.
Na parte aérea da planta a antracnose apresenta manchas castanho-escuras e negras em folhas, pecíolos, hastes e vagens, em qualquer fase de desenvolvimento da lavoura. Os sintomas mais evidentes são lesões necróticas que ocorrem em pecíolos, hastes, nervuras das folhas e nas vagens. A diagnose da antracnose requer atenção pois os sintomas podem ser confundidos com os de mancha-alvo (Corynespora cassiicola), crestamento foliar de Cercospora (Cercospora kikuchii) e seca da haste e da vagem (Phomopsis spp.). Além disso, esse fungo pode crescer em tecidos mortos e sintomas causados por outro tipo de estresse podem ser confundidos com a doença, por causa da presença oportunista de Colletotrichum.
A semeadura de cultivares resistentes seria a melhor estratégia para o manejo da enfermidade, mas o mercado ainda não disponibiliza tal opção. No entanto, há diferenças entre as cultivares quanto a reação ao fungo, portanto pode-se optar por cultivares que manifestem menos sintomas. Na falta delas, recomenda-se realizar rotação/diversificação de culturas, fazer bom manejo do solo, aumentar o espaçamento e reduzir a densidade de semeadura para desfavorecer o desenvolvimento do fungo, que se beneficia com o microclima formado pelo excessivo ajuntamento de plantas. Deficiência de potássio contribui para maior severidade da doença. Nenhuma prática isolada é eficaz no controle da doença.
Como parte do manejo integrado da doença, pode ser necessário o uso de agrotóxicos. Existem vários produtos registrados no MAPA para controle da antracnose, mas estudos recentes indicam limitada eficácia do controle químico, principalmente devido à baixa sensibilidade do patógeno a alguns fungicidas e a variabilidade das populações do fungo. Os fungicidas dos grupos dos triazóis, triazolinthione, estrobirulinas e carboxamidas têm contribuído no controle.
Por: Amélio Dall’Agnol e Rafael Moreira Soares, pesquisadores da Embrapa Soja