Armando Soares #29: Resistir sem temor

armando-soares (1)Destaco no artigo de hoje, dia 01.12.2016, outro artigo de Percival Puggina, intitulado “O Suicídio de um Parlamento”, que retrata a ação de parlamentares que desonram o poder legislativo e que põe em risco a governabilidade do país.

O artigo de Puggina: “Na madrugada desta quarta-feira, 30 de novembro, o Parlamento brasileiro suicidou-se moralmente num acesso de fúria contra tudo e contra todos. Do alto de suas gravatas, deputados federais urravam ódio nos microfones. Eles odiavam seus colegas probos, indignavam-se, numa indignação despida de dignidade, ante bons exemplos. E aplaudiam comparsas. Condutas íntegras faziam explodir sentimentos primitivos. Nada, porém, trazia mais espuma à boca e sangue aos olhos do que a atividade de policiais, promotores e magistrados. Tais funções, um dia, poderiam apontar crimes e sinalizar o rugoso caminho da cadeia.”

“Que país é esse – pensava o Parlamento suicida – onde não mais se pode roubar em paz? Como obter mandato para servir ao povo em nobre atividade sem tomar dinheiro desse mesmo povo? Que mal atacou nossa gente, outrora dócil e tolerante, para levá-la às praças clamar contra meus negócios? De onde saiu essa corruptofobia? Tudo isso pensava e contra tudo isso vociferava o Parlamento enquanto o elevador da arrogância ascendia ao topo das torres gêmeas. E, dali, a queda livre até o solo.”

“Não se diga que o finado ainda emite sinais vitais. Com efeito, coração bate, pulmões respiram, aparelho digestivo digere. Mas está morto. Morto como um peso morto. É um traste, esse suicida moral. Nós assistimos tudo! Como não atestar, então, seu óbito? O Antagonista resume assim, no rescaldo da madrugada:”

  • crime de responsabilidade para juízes e procuradores,
  • prisão por desrespeito às prerrogativas dos advogados,
  • criminosos não terão de devolver a fortuna acumulada com propinas,
  • tempo de prescrição continuará com réu foragido,
  • partidos não poderão ser punidos pelo roubo.

“Estas medidas, que favorecem a Frente Parlamentar da Corrupção, ou Orcrim, no relato de O Antagonista, foram aprovadas pelos partidos com estas proporções:”

  • PCdoB 100% pró-ORCRIM.
  • PT: 98% pró-ORCRIM.
  • PRB: 95% pró-ORCRIM.
  • PDT: 87,5% pró-ORCRIM.
  • PR: 83% pró-ORCRIM.
  • PMDB: 82% pró-ORCRIM.
  • PP: 81% pró-ORCRIM.
  • DEM: 71% pró-ORCRIM.
  • PSD: 61% pró-ORCRIM.
  • PSB: 57% pró-ORCRIM.
  • PSDB: 24% pró-ORCRIM.

“Domingo, dia 4 de dezembro, estaremos nas avenidas e praças do Brasil como testemunhas do que aconteceu e protagonistas dos princípios e valores que em algum momento, ali adiante, haverão de prevalecer. Há que cumprir o dever moral da persistência! Covardes e inúteis seremos se jogarmos a tolha ante cadáveres morais.”

 (Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar.)

A Câmara de Deputados, na madrugada de 30 de novembro, em sua maioria temendo serem atingidos pela “Operação Lava Jato” deram uma demonstração de que pretendem oficializar o roubo dos cofres públicos, através de lei que autoriza o roubo. Esse ato de desespero demonstra uma culpa para fugir do crime de prevaricação. Um mea-culpa, um reconhecimento da culpa em público realizado através de uma instituição que representa na sua essência o povo brasileiro. Essa ação criminosa dos deputados realizada na calada da noite prova a temeridade, a ousadia de indivíduos sem escrúpulos que enganaram os eleitores brasileiros para adquirirem mandatos com objetivo de enriquecerem com dinheiro público, dinheiro do seu eleitor. Esse cenário, por si só, mostra o grave momento institucional que o Brasil atravessa tudo por exclusiva responsabilidade de políticos e governantes sem a mínima condição de representarem os brasileiros numa república federativa.  

A que momento chegou o Brasil! Economia destruída, saúde destruída, educação destruída, povo exposto à sanha de bandidos e assassinos, justiça ineficiente e causadora prejuízos irrecuperáveis, transportes públicos sucateados e perigosos, política e políticos marginais, governos estaduais e municípios falidos mal administrados e inchados de servidores, sem recursos para a infraestrutura. Um cenário que requer um tratamento tipo “esforço de guerra”, mas que está se desgastando, se consumindo ainda mais para atender interesses de uma classe política sem escrúpulos e destituídas de qualquer valor moral. O episódio de 30 de novembro ocorrido na Câmara dos Deputados prova que o Brasil se transformou numa republiqueta vagabunda administrada por políticos de baixo nível e com uma justiça impregnada por juízes fracos e comprometidos com interesses políticos caseiros. O cenário brasileiro é de um país com instituições fechadas em redor de si mesmo e cercado por mais de 200 milhões de brasileiros submetidos a governos estaduais e municipais mal administrados e roubados, e por isso, falidos ou vendidos a estrangeiros através de uma política ambiental comandada de fora para dentro. A esperar por uma recuperação do país com esse pessoal e com esse cenário é esperar por um milagre impossível de acontecer. O Brasil só sairá da crise se o povo quiser e sair da sua comodidade e se convencer que tem que trocar seus governantes e limpar o congresso Nacional dos ratos que lá habitam. Não há outro caminho.

Não esqueçamos que o roubo no Brasil é histórico e que não se altera esse cenário senão com muita firmeza e esforço. Quanto mais demorar o saneamento político e administrativo brasileiro, maior será o risco de o brasileiro ver os seus valores morais desaparecerem provocando uma descida ao submundo.

No momento brasileiro cabe o discurso do presidente ABRAHAM LINCOLN, realizado em 19 de Novembro de 1863.

 Há 87 anos, nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais.

Encontramo-nos atualmente empenhados em uma grande guerra civil, pondo à prova se essa Nação, ou qualquer outra assim concebida e consagrada, poderá perdurar. Eis-nos em um grande campo de batalha dessa guerra. Eis-nos reunidos para dedicar uma parte desse campo ao derradeiro repouso daqueles que, aqui, deram suas vidas para que essa Nação possa sobreviver. É perfeitamente conveniente e justo que o façamos.

Todavia, em uma visão mais ampla, não podemos dedicar, não podemos consagrar, não podemos santificar este local. Os valentes homens, vivos e mortos, que aqui combateram já o consagraram, muito além do que nós jamais poderíamos acrescentar ou diminuir com os nossos fracos poderes.

O mundo muito pouco atentará, e muito pouco recordará o que aqui dissermos, mas não poderá jamais esquecer o que eles aqui fizeram.

Cumpre-nos, antes, a nós, os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra inacabada até este ponto tão notavelmente adiantada pelos que aqui combateram. Antes, cumpre-nos a nós, os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que temos pela frente – que estes mortos veneráveis nos inspirem a uma maior devoção à causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção – que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação, com a graça de Deus, renasça na liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desapareça da face da Terra.

Armando Soares – economista

e-mail: armandoteixeirasoares@gmail.com

*Todo conteúdo da postagem é de responsabilidade de seu autor.

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