O último relatório Focus do Bacen revela retração do PIB em 4,40% em 2020 e recuperação em 3,49% em 2021. O IPCA fecha 2020 em 4,39% e em 2021 fica em 3,34%, enquanto que a Selic em 2,0% e 3,13%, respectivamente. Já o câmbio encerra 2020 em R$ 5,14 e 2021 em R$ 5,00. Provavelmente teremos um primeiro trimestre ainda fortemente impactados pela pandemia, até que as vacinas comecem a mostrar resultados e a elevada contaminação nos eventos de final de ano seja contida. Mas as expectativas para o ano são boas tanto no Brasil quando na economia mundial.
Foram tristes cenas nos EUA nesta transferência de governo, penso que a invasão do Capitólio foi um lamentável evento na história da democracia americana e mundial. Torcemos para que 2021 se caracterize por um ano de grandes transformações no Brasil, pois não temos eleições, a economia volta a crescer e a questão da saúde mais cedo ou mais tarde será controlada. É um ano de chance única ao Brasil para aprovar reformas estruturantes.
No agro mundial e brasileiro… pelo último relatório do USDA, a produção global de soja deve atingir 362,05 milhões de toneladas na safra 2020/21, deixando estoques menores ao redor de 85,6 milhões de toneladas. A produção brasileira da oleaginosa está estimada em 133 milhões, a norte-americana em 113,5 milhões e a argentina em 50 milhões. Já no milho, a produção global foi ajustada para 1,14 bilhão de toneladas, com estoques de 291,43 milhões. O Brasil deve produzir 110 milhões, os EUA 368,5 milhões e a Argentina 49 milhões. Preços em franca recuperação, acima dos US$ 13/bushel para a soja e quase US$ 5/bushel para o milho. Se ficarem por aí neste 2021 seria excelente.
Em seu último boletim sobre a safra 2020/21 de grãos, a Conab estima recorde de 265,9 milhões de toneladas, 3,5% superior ao ciclo anterior, totalizando 66,98 milhões de hectares cultivados (+1,6%). Assim, na soja devemos produzir 134,5 milhões de toneladas (+7,7%) em uma área de 38,18 milhões de hectares (+3,3%); no milho, considerando as três safras, a produção deve alcançar 102,59 milhões de toneladas (+0,1%) em 18,44 milhões de hectares (-0,5%); enquanto que no algodão é esperada redução de 8,1% na área, chegando a 1,53 milhão de hectares e produção de pluma de 2,67 milhões de toneladas (-11,0%).
As exportações do agronegócio somaram US$ 7,94 bilhões em novembro de 2020, queda de 1,5% frente ao mesmo mês de 2019, segundo estatísticas do MAPA. O segmento mais representativo foi o de carnes, o qual totalizou vendas externas de US$ 1,56 bilhão (-0,6%), US$ 844,09 milhões referentes à carne bovina, US$ 201,54 milhões à carne suína (+35,8%) e US$ 468 milhões à carne de frango (-11,8%). Em segundo lugar, aparece o complexo soja, o qual recuou 50,6% frente a 2019, somando US$ 1,11 bilhão, principalmente devido às quedas de 70% na exportação do grão, por conta da antecipação de vendas e baixos estoques. Produtos florestais venderam US$ 1,05 bilhão (+16,7%), aparecendo na terceira posição; na sequência tem-se o complexo sucroenergético com US$ 1,04 bilhão (+59,0%); e, finalmente, cereais, farinhas e preparações, totalizando US$ 931,01 milhões, sendo 95% desse valor atribuído ao milho. Por outro lado, as importações do setor cresceram 22,1%, agora em US$ 1,31 bilhão, deixando o saldo da balança comercial em US$ 6,62 bilhões (-5,1%). Devemos fechar 2020 com um recorde, próximo a US$ 103 bilhões.
O MAPA revelou que 70 novos mercados internacionais foram abertos no ano de 2020, em vistas à demanda crescente de alimentos e riscos de desabastecimento frente à pandemia. Foi um ano de abertura de mercados, que deve ser um esforço permanente.
O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) está estimado em R$ 885,8 bilhões para 2020, 15,1% maior que o de 2019. O valor das lavouras deve crescer 19,2% enquanto que o da pecuária, 7,3%. O número preliminar do VBP para 2021 está em R$ 1,025 trilhão, segundo o MAPA.
De acordo com a Anec, a previsão de exportações de soja para 2020 é de 82,3 milhões de toneladas, o que equivale a um crescimento de 13,4% frente ao ano anterior. Já a Abiec estima que as exportações de carne bovina devem somar 2,14 milhões de toneladas no ano de 2021, alta de 6% frente ao valor esperado para 2020, o qual está projetado em 2,02 milhões de toneladas. Em termos de faturamento, o valor deve ser de US$ 8,79 bilhões (+3%) nesse ano que se inicia, com preço médio de US$ 4.104 por tonelada (-10%).
A ABPA divulgou que a produção de carne de frango de 2020 será de 13,7 milhões de toneladas, um crescimento de 3,4% frente ao ano anterior; já para 2021, são projetadas 14,5 milhões de toneladas. Nos ovos, a associação estima fechar 2020 com 53,5 bilhões de unidades (+9,1%) e, em 2021, com 56,2 bilhões.
A safra brasileira de laranja do ciclo 2020/21 no cinturão citrícola deverá ser a mais baixa dos últimos 30 anos. As elevadas temperaturas e a falta de chuvas, agravadas pelo fenômeno de La Niña, levaram o Fundecitrus a reestimar a safra em 269,36 milhões de caixas, 30,3% a menos que na temporada passada.
Estados Unidos e Brasil lideraram a produção de transgênicos no ano de 2019, com uma área cultivada de, respectivamente, 71,5 e 52,4 milhões de hectares. A Argentina ocupa a terceira posição com 24 milhões de hectares, seguida pelo Canadá com 12,5 milhões e a Índia cultivando 11,9 milhões.
A França anunciou um pacote de medidas para reduzir a dependência de importação de soja, com subsídios na ordem de 100 milhões de euros, os quais visam a incrementar a produção em 40% nos próximos três anos. Assim, os agricultores franceses devem aumentar o cultivo dos grãos em 400 mil hectares até 2023. As exportações brasileiras para a França estão na ordem de 1,3 milhão de toneladas (farelo + grão) nos dias de hoje, e representam 2% do volume total. Mais protecionismo pela frente.
As vendas de fertilizantes no Brasil devem atingir 38 milhões de toneladas em 2020, crescendo quase 5% em relação ao ano anterior, segundo dados da Anda e StoneX. Tal crescimento se deve ao avanço no plantio de soja, bem como pela maior capitalização dos produtores.
Em iniciativa conjunta entre Abrapa, Anea e Apex, foi lançado o Projeto Cotton Brazil, para posicionar o País como maior exportador de algodão até 2030, com relativa ênfase no mercado asiático, o qual corresponde por 80% das exportações brasileiras. A Abrapa está com escritório de representação em Singapura para aumentar a presença física, além de uma plataforma on-line, cottonbrazil.com, evidenciando a rastreabilidade e sustentabilidade do produto nacional.
De acordo com a Andav, o número de revendas de insumos agrícolas é de 5,8 mil, sendo que estas representam 40% das vendas de defensivos, mercado que deve somar US$ 12 bilhões em 2020. A AgroGalaxy deve ser firmar como o maior varejista de insumos no ano de 2020, com faturamento previsto de R$ 4,2 bilhões. A holding tem 16,5 mil clientes em sua carteira e 99 lojas físicas em nove diferentes estados nas regiões do Cerrado e Sul.
O Senado aprovou, em 15 de dezembro, projeto de lei que facilita e disciplina a aquisição, posse e arrendamento de propriedades rurais no Brasil por pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras. Agora o projeto segue para aprovação na Câmara dos Deputados. Muita polêmica ainda pela frente.
Por sua vez, a Câmara aprovou, no final de dezembro, a criação do Fundo de Investimentos do Setor Agropecuário (FIAgro). Trata-se de uma alternativa para o financiamento agropecuária com juros mais baixos, através da comercialização de cotas do setor, seguindo os modelos dos Fundos Imobiliários. O projeto deve ser votado pelo Senado no começo de 2021.
Estudo realizado pelo BNDES revelou os custos necessários para implantação de conectividade em propriedades de diferentes escalas. Para aquelas com até 50 hectares, o investimento chega a R$ 46 mil/ha, no entanto esse valor cai para R$ 7,3 mil na faixa de 50 a 100 hectares, e, no outro extremo, para aquelas com mais 10 mil hectares, o valor é de apenas R$ 24. O tamanho das fazendas ainda é uma barreira para acesso à conectividade. É um grande desafio ao setor.
Algumas notas de empresas neste mês, a C.Vale deverá faturar R$ 11,5 bilhões em 2020, crescimento de 30% em comparação ao ano anterior. A cooperativa de 57 anos projeta uma boa safra 2020/21, na qual já comercializou, de forma antecipada, 47% da soja e 20% do milho. Além disso, anunciou investimentos de R$ 552 milhões em uma unidade de esmagamento de soja, a qual deverá iniciar sua operação em 2023.
A BRF inaugurou sua primeira loja-modelo, o Mercato Sadia, localizada na Vila Leopoldina em São Paulo. O estabelecimento de 600 m2 visa à comercialização de itens para churrascos e refeições, além de contar com espaço para confraternizações e eventos, e possuir tecnologias embarcadas como self check-out e QR codes para receitas. A BRF deve investir R$ 18 bilhões até 2023 e, no horizonte dos próximos dez anos, R$ 55 bilhões, com o objetivo de triplicar seu faturamento atual.
Parabéns a todos que fizeram o governo de São Paulo recuar do aumento de carga tributária. Que esta ideia seja arquivada em definitivo. O governo do Estado e o governo federal não foram eleitos para aumentarem impostos e sim promoverem ampla reforma da administração para buscar eficiência, corte de gastos e melhoria de serviços com todas as chances dadas pela digitalização e avanço do home-office. Tolerância zero a aumento de impostos.
E concluímos dezembro com a manutenção de preços muito bons. No fechamento desta coluna para entregar em cooperativa de São Paulo, a soja estava em R$ 157/saca, para março de 2021 sendo negociada a R$ 154/saca e em março de 2022 a R$ 130/saca. Há um ano estava em R$ 83/saca. No caso do milho, hoje em R$ 77/saca, para entregas em agosto de 2021 a R$ 60/saca e agosto de 2022 a R$ 50/saca. Há um ano o milho estava em R$ 46/saca. O algodão em R$ 125/arroba, contra R$ 88 do ano passado. No boi, a arroba era negociada a quase R$ 270. Apesar da chegada da nova safra, estamos percebendo preços mais altos em Chicago, que podem compensar uma eventual valorização do real.
Os cinco fatos do agro para acompanhar agora diariamente em janeiro são:
a) Ainda as chuvas no Brasil e o andamento da safra. Previsões do clima para a safra 2020/21 de grãos é, de longe, a principal variável não apenas no Brasil, mas para o mundo observar.
b) O comportamento importador dos principais mercados asiáticos após a passagem do ano, como virão as compras chinesas e de outros países em carnes, grãos e outros produtos.
c) Os movimentos no Senado e na Câmara para as eleições das casas e a governabilidade visando 2021 como um ano de grandes reformas no Brasil.
d) Impactos do final do coronavoucher no consumo de alimentos e consequentemente nas compras pelo mercado interno, refreando a inflação de alimentos. Devem acontecer um pouco nas carnes, principalmente.
e) O avanço da proposta de maior liberação de compras de terras por estrangeiros.
Por: Marcos Fava Neves, professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP.
Fonte: Portal da USB