O ano passado foi tão favorável ao agronegócio brasileiro no comércio exterior que o país assumiu a liderança mundial de exportações de mais dois produtos agrícolas. Agora são dez
Foram acrescentados à lista milho e farelo de soja. Com relação ao milho, o Brasil ocupa o lugar dos Estados Unidos. No caso do farelo, preenche a liderança deixada pela Argentina, país que sofreu forte influência do clima no ano passado.
Além dos novos produtos, o Brasil liderou, em 2023, as exportações mundiais de soja, açúcar, café, suco de laranja, carne bovina, carne de frango, tabaco e celulose.
Apesar da queda média dos preços internacionais das commodities, o agronegócio brasileiro atingiu o recorde mundial de US$ 167 bilhões em exportações no ano passado, 5% a mais do que em 2022.
Já as importações, devido à queda nos preços dos insumos, recuaram para US$ 39,5 bilhões, 24% a menos. Os dados incluem alimentos e parte dos insumos utilizados pela agropecuária.
As duas novas lideranças mundiais conquistadas pelo Brasil em 2023 deverão ser perdidas neste ano.
O país conseguiu exportações recordes de 55,9 milhões de toneladas de milho em um ano em que os americanos, líderes mundiais nas vendas externas deste cereal, tiveram uma queda de volume.
No ano comercial de 2023 (outubro de 2022 a setembro de 2023), os Estados Unidos colocaram apenas 42,1 milhões de toneladas de milho no mercado internacional, abaixo dos 63 milhões e dos 70 milhões dos dois anos imediatamente anteriores.
No caso do farelo de soja, a liderança brasileira ocorre devido a uma queda desvastadora na produção de soja na Argentina. Normalmente próxima de 50 milhões de toneladas por ano, a safra do país vizinho recuou para 20 milhões, em 2023.
O resultado foi que os argentinos, já desfalcados de reservas externas, obtiveram apenas US$ 12,1 bilhões com as exportações do complexo soja (grãos, farelo, óleo e biodiesel) de janeiro a novembro do ano passado, 46% a menos do que em igual período de 2022.
Líder mundial em exportações de farelo, os argentinos tiveram de importar soja do Brasil e do Paraguai para recompor estoques e cumprir contratos de exportação.
As vendas externas de farelo de soja feitas pela Argentina, que haviam somado 25 milhões de toneladas em 2022, recuaram para 15 milhões de janeiro a novembro do ano passado, dado mais recente disponível do Indec (o instituto nacional de estatísticas do país vizinho).
Quatro produtos foram responsáveis pelo grande salto da balança comercial do agronegócio brasileiro. As vendas de soja somaram o recorde de 102 milhões de toneladas, gerando divisas de US$ 53,2 bilhões.
As carnes “in natura”, embora tenham encontrado um cenário menos favorável em preços no mercado internacional, geraram US$ 22 bilhões, lideradas por frangos e por bovinos.
O volume exportado aumentou 6,4%, mas as receitas, com a retração internacional dos preços, diminuíram 8,3% no período, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
As vendas de açúcar atingiram 31,5 milhões de toneladas, com receitas de US$ 16 bilhões, e as de milho, 55,9 milhões, trazendo para o país US$ 13,6 bilhões.
Se a queda dos preços internacionais dos alimentos inibiu uma receita maior no ano passado, eliminaram gastos com insumos. Altamente dependente do mercado externo, o Brasil importou 41 milhões de toneladas de adubo, despendendo US$ 14,7 bilhões. Em 2022, por 38,2 milhões de toneladas, o país havia gasto US$ 24,7 bilhões.
O mesmo ocorre com os agrotóxicos. As importações recuaram 12% em volume, para 589 mil toneladas, e em 29% nos gastos, para US$ 4,9 bilhões.
O Brasil conquista novos mercados e amplia a liderança mundial em exportações, mas continua com sérios problemas em alimentos básicos. As importações de lácteos dispararam no ano passado, somando US$ 1,1 bilhão, 57% a mais do que em 2022. Baixa produtividade e concorrência dos preços externos permitiram o avanço das importações brasileiras.
O ano passado se apresenta, por ora, como um ponto fora da curva no que se refere ao mercado externo. Neste ano, a supersafra projetada de 162 milhões de toneladas para a soja não deverá ser atingida, devido a efeitos climáticos. Algumas consultorias já revisaram esse número para 151 milhões.
A safrinha de milho, a principal do país em volume, também se mostra incerta devido ao atraso na soja e às questões do clima. A produção total de milho —são três safras no ano— deverá recuar para um volume inferior a 120 milhões de toneladas, após ter atingido 132 milhões em 2023.
A produção de trigo, que despertou a atenção nos anos recentes, ficou em 8,1 milhões de toneladas no ano passado, bem abaixo do previsto. Menor produção e qualidade ruim de parte do cereal, afetado por excesso de chuvas no Sul, forçarão o país a importar mais.
Um alívio poderá vir do arroz. Com a alta expressiva dos preços no ano passado, mais agricultores optaram pelo plantio do cereal. Após a menor área de cultivo das últimas décadas, o espaço destinado ao cereal aumentou, e a produção deste ano poderá voltar a crescer, somando 10,8 milhões de toneladas, um volume, no entanto, no limite do consumo nacional.
A exportação de carnes teve evolução no ano passado, o que também deverá ocorrer neste, mas os preços não voltam ao patamar recorde de 2022. Estados Unidos e Brasil, grandes participantes desse mercado externo, elevam a produção.
Fonte: Folha de S. Paulo
Por: Portal do Agronegócio