Há uma década, Alisson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura de 1974 a 1979, deixou uma plateia atônita durante um seminário. Afirmou que o país facilmente superaria a produção de 100 milhões de toneladas de milho. Desconfiados, os participantes do evento se entreolharam, não acreditando no que ouviam.
Afinal, o país patinava e não conseguia superar os 55 milhões de toneladas por ano. O Brasil não só atingiu essa marca, como, assumiu a posição de maior exportador mundial do cereal no ano passado, desbancando os até então imbatíveis norte-americanos.
Nesta quarta-feira (5), o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos divulgou os dados finais das vendas externas do ano passado. O país colocou 41,3 milhões de toneladas no mercado externo, abaixo dos 42,7 milhões dos brasileiros. Os argentinos exportaram 36,2 milhões.
O jornal Folha de S.Paulo havia antecipado a possibilidade de o Brasil se tornar líder nas exportações mundiais de milho em meados de dezembro.
Os brasileiros, colocam, assim, mais um produto na lista das lideranças mundiais, o que já ocorre com café, soja, carne bovina, carne de frango, açúcar e suco de laranja.
Um grande importador de milho há duas décadas, principalmente da Argentina, o Brasil iniciou as exportações em 1996 pela Coamo Agroindustrial Cooperativa. Pressionada pelos baixos preços internos, a cooperativa fez os primeiros contratos de venda externa.
Essa é a segunda vez que o país assume a liderança mundial nas exportações. A primeira, em 2013, ocorreu porque os americanos tiveram uma perda muito grande na produção, devido a forte seca no Meio-Oeste do país.
No ano passado, os americanos tinham milho, mas perderam o tempo ideal para vender. Essa liderança brasileira deverá ser passageira, mas o caminho está aberto para uma evolução ainda maior no setor.
Os líderes americanos já chegaram a colocar 70 milhões de toneladas de milho por ano no mercado externo, mas em 2019 o plantio foi retardado, e o mercado esperava uma safra bem inferior ao potencial de 360 milhões de toneladas.
Esse cenário de quebra de safra fez o produtor armazenar o cereal à espera de preços melhores. A safra dos Estados Unidos teve uma quebra pequena, mas os grandes importadores, como Japão e Coreia do Sul, já haviam se decidido pelo produto da Ucrânia, Brasil e Argentina.
O resultado, para os Estados Unidos, foi a perda da liderança mundial. Paolinelli dizia naquele evento que, embora parte dos produtores era altamente tecnificada, a maioria ainda se utilizava de uma forma de produção extrativa e de subsistência.
Além disso, segundo o ex-ministro, o setor via o milho apenas como uma cultura complementar à da soja. Demanda interna crescente e exportações dariam, contudo, um grande novo impulso, segundo ele.
A utilização do milho na produção de etanol só agora começa a deslanchar, mas o impulso maior vem das exportações. Os principais importadores preferem o cereal brasileiro devido à qualidade do produto.
Enquanto em outros países o milho passa por um longo período nos armazéns, o brasileiro sai direto do campo para o porto.
Nas duas últimas décadas, a área de milho cresceu 37%, a produtividade, 127%, e a produção, 213%, segundo dados da Conab (Companhia Nacional do Abastecimento).
Fonte: gauchazh.clicrbs