Evento realizado em São Paulo reuniu lideranças do setor para alinhar discurso e propostas do agro brasileiro rumo à Conferência do Clima da ONU, em Belém.
Na última quarta-feira (18), em São Paulo, foi realizada a 4ª edição do Fórum Futuro do Agro, promovido pela revista Globo Rural e o Imaflora. O evento reuniu representantes de peso do agronegócio brasileiro com um objetivo claro: alinhar propostas concretas para levar à COP30, a Conferência do Clima da ONU, marcada para novembro, em Belém (PA). Com discursos francos e propositivos, lideranças do setor abordaram os avanços, desafios e responsabilidades do agro diante das mudanças climáticas, propondo uma agricultura tropical sustentável, rentável e alinhada às exigências globais.
O agro quer ser ouvido na COP30
A COP30 será a maior vitrine internacional da história recente para o agronegócio brasileiro. Por isso, o Fórum Futuro do Agro concentrou suas atenções em como o setor pode contribuir, de forma concreta, para os debates ambientais que impactam diretamente o futuro da produção mundial de alimentos e energia.
O evento contou com a presença de produtores rurais, pesquisadores, executivos, representantes do sistema financeiro e de organizações do setor público e privado. Todos com um objetivo comum: mostrar ao mundo o que o Brasil já faz — e o que ainda precisa fazer — para garantir um agro cada vez mais produtivo, sustentável e competitivo.
Entre tecnologia e transparência: o papel do Brasil
Durante os painéis, foi consenso que o Brasil tem um papel único como líder da agricultura tropical no mundo. “Precisamos usar inteligência de mercado e falar a linguagem dos nossos clientes internacionais”, destacou Marcello Brito, secretário-executivo do Consórcio Amazônia Legal. A mensagem é clara: o agro precisa se comunicar com clareza e transparência em inglês, alemão e até mandarim, se quiser consolidar sua posição nos mercados globais.
Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e um dos principais nomes do setor, reforçou: “Queremos que o planeta adote uma agricultura tropical com base no consenso, mas exigimos financiamento climático como contrapartida”. O Brasil, segundo ele, é exemplo em matriz energética limpa e complementar, o que deve ser valorizado no debate global.
Sustentabilidade com lucro é possível?
A agricultura sustentável foi colocada como o único caminho viável, desde que haja rentabilidade. Para o cafeicultor Matheus Vidal, de Minas Gerais, só é possível manter práticas ambientais e sociais se a atividade também for economicamente viável. “Estamos adotando fertilizantes com menor pegada de carbono, mas ainda sem retorno financeiro direto. A aposta é de longo prazo.”
Esse posicionamento foi reforçado por representantes do setor financeiro, que apontaram o crescimento de linhas de crédito verde, com juros reduzidos e instrumentos financeiros como títulos de dívida atrelados a compromissos ambientais. No entanto, alertaram: é preciso melhorar os métodos de medição desses compromissos, garantindo confiabilidade e transparência aos investidores.
Pequenos produtores no centro do debate
Outro ponto de destaque do Fórum foi a necessidade de incluir os pequenos produtores rurais no processo de transição para uma agricultura mais sustentável. O caminho apontado inclui assistência técnica contínua e fortalecimento de cooperativas, permitindo acesso à informação, tecnologia e crédito em condições mais vantajosas.
Para Leonardo Sobral, diretor de florestas da Imaflora, o Brasil deveria ter superado a discussão sobre desmatamento. “É hora de avançar para outros temas da agenda climática”, defendeu. Já o professor Ricardo Abramovay, da USP, foi enfático: “O mundo não quer mais saber se o desmatamento é legal ou ilegal. Ele não é mais aceitável”.
O Fórum Futuro do Agro reforça que o agronegócio brasileiro tem o que mostrar na COP30: produtividade com sustentabilidade, inovação com responsabilidade e, acima de tudo, disposição para o diálogo com o mundo. No entanto, como lembrou Marcello Brito, é preciso unificar o discurso e construir pontes antes que seja tarde. A COP30 em Belém será uma oportunidade histórica — e o agro precisa estar preparado, consciente de suas virtudes, mas também dos seus desafios.
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FONTES:
Globo Rural / Imaflora / Revista Exame
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Jornalismo Ruralbook
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