A agroindústria brasileira terminou 2023 em alta, com crescimento de 0,8% em relação ao ano anterior. Os dados são do FGV Agro (Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas) publicados no PIMAgro (Índice de Produção Agroindustrial).
Na visão do pesquisador Felippe Serigati, o segundo semestre foi o responsável por entregar o resultado positivo no agregado do ano. Segundo Serigati, o número mostra a força dessas indústrias, em comparação a outros tipos de empresas no olhar macroeconômico.
“Esse número a princípio pode parecer baixo, mas o grande benchmark para a agroindústria é o setor em que ela está incluída. A indústria de transformação teve uma contração de 1,1%. […] Aquela indústria mais associada às commodities tem conseguido um desempenho melhor do que o restante da manufatura”, disse.
O destaque positivo e principal fator da alta foi o setor de produtos alimentícios e bebidas, com crescimento acumulado de 3,2%. Dentro desse setor, todos os segmentos também tiveram expansão, sendo que o segmento de produtos de origem vegetal registrou 7,3% de alta.
O setor de produtos não alimentícios, que envolve produção têxtil e insumos agropecuários, por exemplo, teve uma queda de 2,3%.
Agroindústria cresce na parte de alimentos e bebidas
A alta desse setor foi motivada pelo aquecimento do mercado brasileiro, ajudada pela queda da inflação, apontam os pesquisadores da instituição.
“O aumento da oferta foi derivado, dentre outros fatores, da produção recorde das atividades agropecuárias. Do lado da demanda, ocorreu uma expansão acelerada do consumo das famílias que, junto com a maior arrefecimento da inflação de alimentos, aqueceu a procura por produtos alimentícios e bebidas”, afirmou o FGV Agro na apresentação da pesquisa.
O crescimento por segmento dentro do setor de produtos alimentícios e bebidas ficou assim:
– Alimentos de origem vegetal: alta de 7,3%;
– Alimentos de origem animal: alta de 2,7%;
– Bebidas alcoólicas: alta de 0,2%;
– Bebidas não alcoólicas: alta de 1,7%.
Segmento de biocombustíveis cresce 13,4%
O crescimento de 13,4% do segmento de biocombustíveis não foi capaz de levantar o setor de produtos não alimentícios. Esse setor engloba também os segmentos de produção têxtil, de produtos florestais, de insumos agropecuários e de fumo.
Desses, apenas fumo e biocombustíveis tiveram um desempenho positivo. Segundo a pesquisa, a produção de biocombustíveis foi “favorecida pelo aumento da oferta e da qualidade de cana-de-açúcar ao longo do ano. Além disso, o setor contou com a maior produção de etanol de milho”.
Já a explicação para a queda do setor de produtos não alimentícios como um todo é dada por fatores estruturais, como a entrada de produtos têxteis chineses. Além disso, questões conjunturais, como a diminuição das exportações e estoques altos, tiveram impacto negativo sobre os segmentos de insumo agropecuários, produtos têxteis e produtos florestais.
O resultado final em 2023 dos segmentos de produtos não alimentícios ficou assim:
– Insumos agropecuários: queda de 11,5%;
– Produtos têxteis: queda de 3%;
– Produtos florestais: queda de 3%;
– Biocombustíveis: alta de 13,4%;
– Fumo: alta de 4,5%.
Perspectiva positiva para 2024
Para Serigati, o ano de 2024 tende a ser um ano melhor do que 2023 até este momento. Um dos motivos é que a agroindústria entra em 2024 “acelerando”, diferente do cenário de 2022 para 2023.
Na análise por parte do consumidor, isto é, da demanda, o pesquisador apontou que, caso a inflação continue caindo e o mercado de trabalho aquecido, isso pode gerar mais procura. Já quando ele observa o lado da oferta, os empresários estão menos confiantes.
“Chama atenção que, apesar de os números da economia brasileira não serem 100% confortáveis, a confiança do empresário industrial está operando abaixo do que a gente tinha visto em situações semelhantes, em períodos anteriores”, pontuou.
Segundo o pesquisador, uma das hipóteses é a ausência de normas mais claras com relação à Reforma Tributária. Mesmo com o texto aprovado, ainda há uma insegurança sobre o futuro tributário do país, o que freia os impulsos para novos investimentos e expansão de produção por parte do empresariado.
Fonte: Estadão