Raoni fez o pedido a Lula ao receber, do presidente Macron, a maior honraria da França. Ferrogrão prevê a construção de uma linha férrea do Mato Grosso ao Pará. Indígenas criticam o projeto.
A liderança indígena Raoni Metuktire recebeu do presidente da França, Emmanuel Macron, a Legião da Honra, a mais alta honraria do país francês. A cerimônia ocorreu nesta terça-feira (26), na ilha do Combu, região ribeirinha de Belém. Diante do presidente Lula, Raoni aproveitou a ocasião para pedir o veto ao projeto da Ferrogrão.
“Peço que Lula não aprove a Ferrogrão. Eu sempre fui contra esse trabalho de destruir floresta, de mineração, de exploração. Se o trabalho de destruir continuar, devemos ter problemas sérios. Para todos nós”, declarou.
O projeto da Ferrogrão prevê a construção de uma linha férrea que começa em Sinop, no Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, e termina no porto de Miritituba, em Itaituba, no Pará.
A obra é questionada por especialistas em meio ambiente e sociedade, e deve passar por terras indígenas e comunidades ribeirinhas do norte e centro-oeste do Brasil. São mais de 900 quilômetros de extensão. O valor estimado do investimento é de R$ 12 bilhões.
Em sua fala, o líder indígena, reconhecido internacionalmente pela luta que articula pelos povos originários, pediu aos presidentes Lula e Macron para que apoiem a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), para que o órgão consiga proteger os povos indígenas.
“O nosso futuro depende de nós”, disse Raoni. “Considero Lula como irmão. Considero Macron como filho”.
A Ordem Nacional da Legião de Honra (Ordre National de la Légion d’Honneur, em francês) foi instituída em 20 de maio de 1802 por Napoleão Bonaparte para recompensar os méritos eminentes militares ou civis daquela nação.
A cerimônia integrou a agenda oficial de Emmanuel Macron em sua primeira visita à América Latina. Ao lado do presidente Lula, Macron participou em Belém de uma reunião bilateral sobre meio ambiente e mudanças climáticas, que ocorreu dentro da embarcação rumo à ilha do Combu.
O governo francês destacou que a França quer ser “um parceiro de referência” na preparação do Brasil para a COP, prevista para novembro de 2025.
A agenda foi centrada na preservação ambiental e na questão climática, no desenvolvimento econômico local, na promoção do comércio e da integração das áreas fronteiriças e nas comunidades indígenas.
Segundo a embaixada da França no Brasil, a visita dará aos dois líderes a oportunidade de compartilhar pontos de vista sobre alguns desafios globais, como: questões de proteção da biodiversidade, transição ecológica e descarbonização das economias.
Após a visita a Belém, Macron e Lula seguiram para o Rio de Janeiro.
O que é o Ferrogrão?
O projeto da Ferrogrão prevê a construção de uma linha férrea que começa em Sinop, no Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, e termina no porto de Miritituba, em Itaituba, no Pará. São mais de 900 quilômetros de extensão. O valor estimado do investimento é de R$ 12 bilhões. Os recursos serão injetados pela iniciativa privada e o prazo de concessão é de 69 anos.
Para ambientalistas, a Ferrogrão vai criar pressão para desmatamento e ocupação de produtores de soja perto da ferrovia porque essa proximidade cortará custos de frete. O objetivo não declarado da ferrovia é a expansão da área plantada no seu entorno. Ferrovia estimula grilagem e conflitos por terra.
A ferrovia seria uma alternativa à rodovia BR-163 conhecida como rota da soja, do milho e do algodão, construída na década de 1970 para ligar os dois estados.
A promessa é de que a construção da ferrovia consolide, a longo prazo, um corredor logístico capaz de reduzir distâncias e aliviar o bolso de quem paga para exportar produtos como soja e milho, tendo em vista que a estimativa é de recuo de 30% a 40% no preço do frete.
O Instituto Socioambiental (ISA) diz que o projeto ainda precisa ser reavaliado. Já indígenas que seriam impactados pela construção querem ser ouvidos.
Mariel Nakane, analista do ISA, afirma que o cenário atual “é uma oportunidade do governo de voltar atrás e melhorar o projeto, cumprindo com o seu dever de consultar os povos indígenas, de garantir a participação social adequada das pessoas que vão ser impactadas”.
“Enquanto não houver respeito, enquanto não houver diálogo, nem consulta para os povos indígenas, nós não podemos aceitar qualquer projeto”, anuncia Alessandra Korap, liderança Munduruku.
Por: G1