A inovação é fundamental para que o agronegócio mantenha o Brasil na liderança dos países produtores de alimentos, mas é preciso mais investimento em tecnologia. Destinar 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional à pesquisa e ao desenvolvimento é insuficiente para que o país atenda às demandas globais. Mas, mesmo abaixo do nível de investimento mínimo de 2%, recomendado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa a 13ª colocação no ranking mundial de geração de conhecimento e 68º lugar em inovação.
Na opinião de Celso Moretti, presidente da Embrapa, isso significa que o país é muito bom para gerar conhecimento, mas precisa ampliar a capacidade de transformar conhecimento em inovação. Segundo ele, a importância do agro no PIB – em torno de 22% – reforça a tese de que, com tecnologia e pesquisa, o Brasil vai conquistar mais destaque na garantia de alimentos para uma população mundial crescente.
As declarações foram dadas uma semana após a assinatura do acordo de cooperação técnica para atração de investimento, firmado entre a Embrapa e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), em Brasília-DF. O objetivo da parceria é identificar os desafios relacionados ao cenário de investimentos estratégicos dos principais mercados do mundo, direcionados a projetos do setor.
“Em função desse panorama, que exige mais empenho e alterações de direcionamento da produção científica, a Embrapa, a partir de fevereiro de 2018, reformulou o seu modelo de pesquisa, passando do produtivista para o de inovação”, explica, ressaltando que foi necessário adotar os níveis de maturidade tecnológica utilizados pela National Aeronautics and Space Administration (NASA), para que a empresa estivesse alinhada a uma linguagem tecnológica mundialmente conhecida.
Sobre o potencial da Embrapa em contribuir com a inovação para o agro, Moretti destaca o trabalho das 43 unidades de pesquisa. “Eu ainda me surpreendo com a quantidade de soluções geradas”, comenta, dando como exemplos o lançamento da nova variedade de açaí, o BRS Pai D’Égua e o bioinsumo que disponibiliza fósforo armazenado no solo e representa economia de mais de 5 milhões de toneladas de fosfato importados pelo país anualmente.
Entre as prioridades da pesquisa, voltada à inovação e soluções tecnológicas, o presidente da Embrapa chama a atenção para áreas como agricultura digital, integração lavoura pecuária floresta, edição genômica e bioeconomia, nas quais é preciso avançar ainda mais. “Mas, para que haja incorporação da inovação por parte dos produtores, a conectividade é fundamental”, acrescenta. “Dados do IBGE apontam que mais de mais de 70% das propriedades rurais brasileiras não têm acesso à internet.”
Segundo Moretti, a economia de base biológica representa uma oportunidade importante para que o Brasil se torne referência mundial em bioeconomia. E cita o projeto desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental, que coordenaram uma expedição de 7 mil quilômetros pelos rios da bacia amazônica, para coletar microorganismos que poderão ser usados para controlar pragas e doenças.
No que diz respeito à edição genômica, que prevê a utilização de tesouras biotecnológicas para edição do DNA das plantas, Celso Moretti destaca a importância dos estudos que poderão, entre as possibilidades, contribuir com o desenvolvimento de plantas mais resistentes à seca. “Os benefícios para a região do Semiárido, onde se tem entre 300 e 400 milímetros de água da chuva por ano, são enormes”, afirma.
Para o presidente, o País deve continuar investindo em instituições que trabalham com pesquisa, desenvolvimento e inovação. “Vale a pena. No ano passado, para cada real que a sociedade colocou na Embrapa, foram devolvidos 12,19 reais, mostra o balanço social da empresa”. Moretti disse ainda que o Brasil, apesar de vencer o que chama de “batalha da produtividade e da eficiência”, está perdendo quando o assunto é comunicação. “É preciso mostrar ao mundo que a produção de alimentos do País é competitiva e sustentável, e que a agricultura movida à ciência oferece o suporte para que tudo isso aconteça”.
Quanto às parcerias, Celso Moretti disse que é preciso seguir na busca pela aproximação cada vez maior com o setor privado, assim como com universidades e Oepas, no desenvolvimento de projetos. “Também é necessário capturar mais valor nos ativos colocados no mercado e com isso buscar reduzir a dependência dos recursos do Tesouro Nacional, sem prescindir das parcerias com o setor privado”, garantiu.
Para ele, é fundamental garantir que a inovação beneficie de alguma forma os mais de 5,2 milhões de propriedades rurais brasileiras, a maioria de pequenos produtores. “Temos um compromisso com eles”. Com o apoio dos órgãos de assistência técnica e extensão rural e com as secretarias de agricultura dos estados, a intenção é ampliar o acesso dos pequenos agricultores à tecnologia adaptada às suas condições, diz.
Fonte: Embrapa