Dona Maria Serrano Ferreira, 55 anos, foi criada na roça. Desde jovem, aprendeu a cuidar de frangos e gado, a plantar e a colher milho. Uma vida dedicada à terra, no entanto, não significa que não houvesse coisas que dona Mariinha, como é chamada entre os habitantes da zona rural de Niquelândia, município goiano a 300 quilômetros da capital Goiânia, não tivesse de aprender. Desde 2007, ela vem diversificando seus cultivos e adequando sua propriedade às normas de sustentabilidade ambiental, a partir de iniciativas promovidas pelas mineradoras Votorantim Metais e Anglo American, que exploram jazidas de níquel na região. As duas empresas dominam a economia do município – que tem 42 mil habitantes e, em 2011, respondeu por 49% da produção de níquel no Brasil.
Nos últimos seis anos, as duas empresas têm dado atenção especial à zona rural do município. A Votorantim Metais, do grupo Votorantim, controlado pela família Ermírio de Moraes, dá ênfase às iniciativas sustentáveis por meio do programa “Boas Práticas Ambientais”, que promove a proteção de nascentes, a contenção de processos erosivos, a manutenção das matas ciliares, a concessão de outorgas para a captação de água e a construção de aceiros, espaços de terra nua entre as áreas da propriedade, de forma a impedir o alastramento do fogo na época de seca. Na primeira edição do projeto, em 2011, os técnicos atenderam 73 produtores em duas etapas, uma de orientação e outra de acompanhamento das mudanças. Na edição do ano passado, foram visitadas 532 pequenas propriedades no entorno da mina, além dos terrenos de 49 associações, que representam 850 trabalhadores rurais.
O primeiro passo de dona Mariinha foi dado ainda em 2011, quando cercou a nascente de sua propriedade, protegendo a fonte de água das pisadas de vacas e cavalos. No ano passado, ela aprimorou a construção dos aceiros. “Antes fazíamos aceiros mais estreitos, com um metro de cada lado da cerca. Agora estamos deixando dois metros e meio de cada lado”, diz dona Mariinha, que planta milho, cana, feijão e mandioca, principalmente para subsistência.
Além de disseminar os fundamentos da sustentabilidade e o cumprimento das exigências legais, o programa também melhorou o relacionamento entre a mineradora e os moradores da região. “Percebemos que reclamações sobre o esgotamento das nascentes, que os produtores às vezes ligavam à atividade da mineradora, na verdade estavam relacionadas à falta do cercamento das fontes de água”, afirma José Maximino Tadeu Ferron, gerente-geral da mina da Votorantim Metais em Niquelândia. As iniciativas da empresa também acabaram se antecipando ao novo marco legal da mineração, que foi encaminhado pelo governo ao Congresso no final do mês de junho e deve exigir maior proteção ambiental.
Além de orientar os agricultores, a Votorantim tem premiado aqueles que mais se adequam à legislação ambiental. Dona Mariinha, por exemplo, já ganhou r$ 3 mil em insumos agrícolas. Em 2012, a empresa distribuiu um total de R$ 20 mil aos produtores e um trator avaliado em R$ 100 mil para a associação.
Trator Novo A máquina reluz ao lado da casa de José Santos Pereira, 54 anos, presidente da Associação de Pequenos Produtores rurais, Extratores e Moradores do Distrito da Vila Taveira e região, que representa 18 trabalhadores rurais. O trator chegou à entidade graças ao trabalho de proteção de nascentes e matas ciliares e à construção de aceiros. O equipamento agora ajuda a preparar 20 hectares arrendados para o plantio de milho. “No ano passado, gastamos R$ 3 mil para pagar o aluguel do trator e o combustível para o plantio do milho”, diz Pereira. “Mas, neste ano, gradeamos e plantamos na mesma área com R$ 800.”
A mineradora inglesa Anglo American também trabalha diretamente com produtores. Mas, em vez de sustentabilidade, a empresa concentra seus esforços na viabilidade econômica de pequenas comunidades de agricultores. “Temos hoje três projetos principais: o plantio de seringueira, que teve distribuição de mudas em 2007 e 2008 e agora está em fase de acompanhamento, a feira para o produtor rural e a apicultura”, afirma Marcelo Galo, gerente de desenvolvimento sustentável da unidade Níquel da Anglo American.
Embora não faça parte dos 30% dos moradores do município que trabalham nas mineradoras, dona Mariinha se beneficia dos programas das duas empresas. Com a Votorantim Metais, ela cercou as nascentes. Da Anglo American, ganhou 13 caixas para produzir mel e 500 mudas de seringueiras. “Sempre aprendo um pouco mais por estar nesses projetos”, diz ela, que soube aproveitar a vizinhança das minas.
Fonte: Dinheiro Rural