Impacto das mudanças climáticas na produção leiteira

A observação das mudanças climáticas tornou-se parte do nosso cotidiano, refletida em conversas sobre variações do clima e percepções coletivas de temperatura. Desde 2007, dados compilados pelo IPCC têm evidenciado o que as pessoas já percebem: o aumento das concentrações de gases como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera tem contribuído com o aquecimento global, a elevação do nível do mar e a intensificação dos padrões de precipitação em diversas regiões (IPCC, 2007).

Essa realidade tem impulsionado o incremento de desastres naturais, decorrentes do agravamento de fenômenos climáticos, impactando áreas habitadas e colocando em risco comunidades e cidades. Ademais, tais eventos catastróficos têm repercussões diretas sobre as atividades econômicas e sociais das regiões afetadas. No contexto das mudanças climáticas, a produção leiteira emerge como uma das atividades mais vulneráveis, podendo sofrer impactos tanto diretos quanto indiretos dessas mudanças. Os desafios enfrentados pela produção leiteira incluem a alteração nos padrões de temperatura e precipitação, a maior frequência de eventos climáticos extremos e a consequente adaptação necessária para mitigar os efeitos adversos sobre a saúde animal, a disponibilidade de água e a qualidade das pastagens.

Dessa forma, alterações nos padrões de chuva e temperatura podem afetar tanto a qualidade quanto a quantidade de alimento disponível para os animais, além de comprometer a disponibilidade de água, provocando estresse ao rebanho e, consequentemente, diminuindo sua produtividade. Em eventos mais graves, como os ocorridos no Estado do Rio Grande do Sul, podemos enfrentar a perda de infraestrutura, devido aos danos causados a estábulos e equipamentos, além da possível perda de animais. Além disso, esses eventos podem gerar insegurança nas estruturas existentes e nas estradas essenciais para a logística de mercadorias.

Nesse quesito, podem surgir desafios quanto ao aumento do custo de produção, e impacto na qualidade do leite, como também desafios relacionados aos preços dos grãos utilizados para alimentação animal, alterações quanto à distribuição de pragas e seguridade do rebanho. Além disso, sob condições de estresse, em especial, térmico, temos alterações metabólicas e comportamentais que afetarão o consumo alimentar, gestação e lactação dos animais (GUNN, 2019).

Soluções inovadoras vem sendo propostas para criação de bovinos em cenários de mudança climática. Oliveira et al. (2022) sugerem a criação de bovinos em zoneamentos bioclimáticos, utilizando métodos de geoespacialização para garantir maior conforto térmico aos animais, especialmente em áreas com temperaturas extremas durante os períodos de seca.

Em relação a qualidade da matéria-prima, estudos como os de Callahan (2016) e Holvoet (2014) indicam que eventos climáticos extremos, como inundações, podem aumentar a prevalência de grupos microbianos como Escherichia coli e Salmonella spp., devido ao carreamento de contaminantes do solo para o ambiente, equipamentos, utensílios e tubulações. Essas alterações impactam tanto o leite cru quanto a qualidade de seus derivados (ZUCALI, 2011). Assim, é crucial que a indústria e os órgãos fiscalizadores desenvolvam estratégias e procedimentos que garantam a qualidade do produto final. Neste sentido, para mitigar esses riscos e proteger a saúde pública, é fundamental a implementação de um modelo de Avaliação Quantitativa de Risco Microbiano (QMRA) (NJAGE, 2018) com o devido suporte aos produtores, especialmente, os de médio e pequeno porte.

Diante do cenário descrito, torna-se evidente a urgência de enfrentarmos os desafios impostos pelas mudanças climáticas e desastres naturais, especialmente no contexto da produção leiteira. A perda de vidas humanas, a destruição de infraestruturas e o impacto econômico desses eventos são motivos de profunda preocupação e tristeza. Assim, somente com a solidariedade e a cooperação entre comunidades, governos e setores industriais, os desafios podem ser enfrentados e superados.

Ao investir em tecnologias e práticas sustentáveis, é possível minimizar os efeitos negativos sobre a produtividade e a segurança alimentar. A pesquisa contínua e a inovação no setor agrícola e pecuário são cruciais para enfrentar os novos desafios impostos pelo clima em mudança.

Portanto, com a união dos esforços e o compartilhamento de recursos e conhecimentos será possível construir um futuro mais resiliente e sustentável para a produção leiteira e, consequentemente, para as comunidades que dependem dela. Juntos, é possível superar os desafios das mudanças climáticas e garantir um ambiente seguro e próspero para as gerações futuras.}

Por: MilkPoint

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