Buscar novos canais de venda e repensar formas de relacionamento com o cliente por meio da internet são estratégias necessárias na agropecuária neste período.
A pandemia da Covid-19 se tornou um grande desafio para o agronegócio mundial e para o brasileiro, em particular. Embora o comércio global de alimentos dê a impressão de normalidade, muitas cadeias produtivas estão enfrentando dificuldades e os profissionais do agro precisaram rapidamente buscar soluções para se adaptar a essa nova realidade.
Com as feiras, exposições e eventos agropecuários suspensos, os produtores rurais viram a necessidade de se reinventar para frear os impactos negativos e manter a comercialização dos seus produtos. Foi, então, que comerciantes e produtores de gado decidiram realizar a venda dos animais virtualmente.
Leilões online
A Estância Bahia Leilões, localizada no Mato Grosso, está há 20 anos no segmento de leilão e agora buscou alternativas para manter as atividades em meio à crise. O diretor Maurício Tonhá conta que tiveram que apelar para a internet para realizar os leilões. “Tomamos essa decisão cumprindo de forma absoluta as recomendações das autoridades de saúde para evitar a aglomeração de pessoas e a proliferação da Covid-19”, afirma Maurício.
O primeiro leilão online realizado no mês passado garantiu a oferta de quase 22 mil animais, entre eles bezerros, touros e vacas. O sucesso foi tão grande que outras edições já foram marcadas para os próximos meses. “Promover o Mega Leilão é sempre um grande desafio. E cada edição tem um momento e uma característica diferente, mas eu nunca imaginei que viveríamos uma situação com esta e que dependeríamos totalmente da tecnologia para vender”, diz o diretor.
O projeto Mega Leilão tem duas décadas e é reconhecido nacionalmente pela confiança e respeito na intermediação dos negócios. “Nossas equipes trabalham firmes com o propósito de captar animais de excelente qualidade genética, selecionados pelos melhores criatórios do Mato Grosso”, ressalta.
Maurício notou que a venda dos animais online aumenta a abrangência e o número de compradores. Por outro lado, limita o contato e a troca de experiência entre produtores. O diretor avalia: “Essa é uma grande novidade com a qual estamos nos adaptando. É uma tendência que certamente veio para ficar”.
Leite e derivados
Outro setor do agronegócio que tem se mostrado normal na maioria das indústrias, mas para o qual a pandemia do coronavírus tem gerado dificuldades, é a comercialização de leite e queijo em algumas regiões, principalmente em Minais Gerais.
No estado, houve redução no consumo de derivados, como queijos e iogurtes, e isso está afetando diretamente pequenos produtores. Para amenizar o problema, profissionais ligados ao setor precisaram traçar novas estratégias para vender o produto e, também, tiveram de adotar medidas para a redução dos custos de produção.
O pecuarista Marcus Vinícius Santos, do município de Porteirinha, norte de Minas Gerais, contou que precisava vender rapidamente o leite produzido, pois corria o risco de perder toda sua produção. Neste momento, ele e a família se juntaram para encontrar uma solução. Foi aí que pensaram em inovar no jeito de vender, utilizando os recursos da internet a seu favor. Começaram a enviar mensagens via WhatsApp para conhecidos e amigos, fizeram publicações em suas redes sociais e em grupos da cidade e, ainda, ofereceram o serviço de delivery para os compradores.
Marcus conta que, no início da pandemia, vários pecuaristas doaram parte da produção de leite para entidades filantrópicas do município, pois não conseguiram vendê-la. “Nós estávamos bem preocupados e corríamos o risco de perder tudo, mas a aceitação na internet foi tão boa que estamos conseguindo passar por essa fase”, destaca.
Aos poucos, o pecuarista foi acertando a sua produção de leite – seguindo também algumas orientações da Emater para evitar prejuízos na pecuária leiteira com a redução dos gastos com a alimentação dos animais. “Eu reduzi a ração para as vacas, fui diminuindo por semana para evitar problemas de saúde dos animais. Coloquei os animais com alimentação mais a pasto. Para as vacas que estão com pouco leite, optamos por secá-las”, finaliza Marcus.
Recomendação
O momento de quarentena talvez seja uma oportunidade para os pequenos e médios produtores rurais reunirem a família e os colaboradores para discutir e planejar o empreendimento rural com ações de curto, médio e longo prazo. Além disso, todos devem rever os investimentos para a próxima safra. Se os recursos estiverem apertados, o ideal é reprogramar a produção, sem esquecer a qualidade do processo.
Com certeza, estamos tirando grandes lições com esta crise, e muitas delas vão gerar transformações nas diversas cadeias. É notório o esforço dos profissionais do agronegócio em ampliar seus serviços por meio da tecnologia e em fortalecer esse aprendizado.
Por: pastoextraordinario