Escola paulistana defende o enredo “Do nosso solo para o mundo: o campo que preserva, o campo que produz, o campo que alimenta”
A realidade do campo é tema recorrente entre as escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo. Vila Isabel, Mocidade, Unidos da Tijuca, Salgueiro, Império da Casa Verde e X-9 foram algumas das agremiações que apostaram no agro para conquistar o título de campeã do Carnaval. Os enredos foram os mais variados: o Brasil como celeiro do mundo, o açaí, a produção agrícola de Mato Grosso, etanol, café e guaraná.
Este ano não é diferente. Pelo menos duas grandes escolas vão contar histórias do campo em seus desfiles: a Mocidade Independente de Padre Miguel, do Rio de Janeiro, vai explorar a brasilidade do caju, na Marques de Sapucaí, e a Mancha Verde, de São Paulo, homenageará a agricultura familiar no Sambódromo do Anhembi.
A bicampeã do carnaval paulistano vai desfilar a vida do pequeno agricultor na madrugada deste sábado, dia 10, com o enredo “Do nosso solo para o mundo: o campo que preserva, o campo que produz, o campo que alimenta”.
Tudo começa no passado, quando a humanidade vivia o martírio da fome e Deus Olorum ordena à divindade Ocô que crie a agricultura. Ocô convocou as abelhas, suas mensageiras, para polinizar o mundo e assim acabar com a miséria na Terra. A partir deste ponto a escola vai narrar em seu desfile os ciclos de produção agrícola no Brasil, passando pela borracha, cana-de-açúcar e café.
“Vamos destacar a vida do pequeno agricultor, esse sujeito simples que acorda cedo e trabalha com a terra, que gosta de viola caipira, de sanfona, que tem berrante”, conta o carnavalesco da escola, André Machado.
A ideia de retratar o amor do homem do campo pela terra que o sustenta foi explorada em parceira com uma família de produtores de Patos de Minas (MG).
Glaucia Nasser, filha de produtor rural e uma das proprietárias da fazenda, convidou os carnavalescos a visitarem o chamado Complexo JK, estrutura instalada na propriedade mineira que trabalha com os conceitos de sustentabilidade, agricultura regenerativa e economia circular.
“Acreditamos na produção agrícola sem desperdício, no respeito à terra e no futuro sustentável, longe da escassez dos recursos naturais, da extinção, da fome e da miséria”, conta Glaucia, que é relações institucionais da Fundação Brasil Meu Amor, uma organização de sociedade civil (OSC) que investe em projetos educativos e artísticos.
Economia circular
Na fazenda em Minas Gerais, os carnavalescos visitaram plantações de grãos, granjas de suínos, armazéns de café e de sementes e fábrica de insumos biológicos, áreas essas que se integram para reduzir tanto a quantidade de matéria-prima que entra pela porteira, quanto os resíduos gerados pela produção.
O desfile da Mancha Verde terá também um carro com esculturas de porquinhos com chapéus de palha, a figura de São José, o padroeiro que atende aos pedidos dos agricultores de chuva para uma colheita farta, e se encerra com a ideia de que precisamos semear a esperança, pois em um país reconhecido como celeiro do mundo não deve haver fome.
Homenagem
O último carro alegórico prestará uma homenagem ao agrônomo Alysson Paolinelli, um dos nomes mais importantes da agropecuária brasileira, reconhecido por seu trabalho incansável na defesa da ciência e do desenvolvimento sustentável.
Paolinelli – que faleceu no ano passado aos 86 anos – foi ministro da Agricultura, um dos responsáveis pela criação da Embrapa e faz parte de um seleto grupo de brasileiros que foram indicados ao Prêmio Nobel da Paz.
Por: Globo Rural