Tecnologia, que é resistente ao herbicida dicamba, criou alerta entre os agricultores brasileiros por conta das reclamações ao agrotóxico nos Estados Unidos
Os produtores brasileiros estão cautelosos quanto à chegada ao mercado da terceira geração da soja transgênica, que é resistente ao herbicida dicamba, um agrotóxico utilizado no controle de plantas daninhas. O motivo são as reclamações de agricultores americanos sobre o produto.
A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) afirmou que mais de 2.700 reclamações foram abertas nos Estados Unidos por sojicultores que não utilizavam a tecnologia “Intacta 2 Xtend”, mas foram afetados pelo dicamba aplicado em fazendas vizinhas.
A janela de plantio mais ampla no Brasil apresenta riscos que os agricultores norte-americanos não enfrentam, acrescentou a Aprosoja.
Amplamente utilizado nos EUA, o dicamba foi descrito como um produto volátil e que pode facilmente ser espalhado pelo vento, comprometendo a soja não tolerante a ele, disseram produtores à Reuters.
“O dicamba fica suspenso no ar, qualquer brisa leva esse produto muito longe, e isso causa uma toxicidade em outras sojas”, disse Cayron Giacomelli, agricultor e agrônomo. “Por isso, eu tenho medo dessa tecnologia.”
A Aprosoja solicitou aos agricultores que eles busquem informações com a Bayer a respeito do impacto do uso do dicamba, acrescentando que há herbicidas alternativos no Brasil.
“Nos EUA, onde a tecnologia já foi lançada, as ervas daninhas são diferentes das existentes no Brasil. Lá o dicamba se constitui em ferramenta essencial”, afirmou a Aprosoja.
A disputa entre produtores brasileiros de soja e Bayer, proprietária da Monsanto, se arrasta nos tribunais por causa da patente de outras gerações da soja transgênica.
Empresa diz que tecnologia será adaptada ao Brasil
Segundo a Bayer, variedades de soja com a tecnologia Xtend foram lançadas em 2016 nos EUA. A Bayer informou que planeja lançar a tecnologia comercialmente no Brasil na safra 2021/2022.
A companhia alemã disse ainda que há especialistas e acadêmicos acompanhando os testes da nova semente e a aplicação do defensivo dicamba, com o intuito de entender as especificidades das condições brasileiras.
Os produtores brasileiros não se opõem ao uso da nova tecnologia, mas querem que a Bayer se responsabilize por eventuais problemas.
Antonio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), disse à Reuters que a contaminação decorrente da aplicação do dicamba nos EUA é uma preocupação.
“Se o produto for para o mercado, que a empresa seja totalmente responsabilizada por qualquer problema que venha a acontecer”, afirmou Galvan, acrescentando que a soja que não tem resistência ao dicamba é um dos produtos mais suscetíveis à toxicidade do herbicida.
A companhia disse que vai recomendar que agricultores no Brasil utilizem o dicamba “com uma nova formulação, capaz de reduzir significativamente a volatilidade do produto em relação à primeira geração”.
Sobre o herbicida dicamba, a Bayer disse que está preparada para responder a questões e treinar intensamente agricultores que optarem pelo uso da tecnologia.
“A escolha sobre qual tecnologia usar é sempre do produtor”, apontou a empresa.
O produtor José Soares disse à Reuters que não vai participar dos testes da Bayer. “O dicamba é muito perigoso, e não temos necessidade.”
A Bayer afirmou que a semente combina biotecnologia com novas ferramentas de proteção ao cultivo para elevar “a produtividade do agricultor a um novo patamar”.
Terceira geração de soja transgênica
Apontada por especialistas como fundamental para aumentar a produção mundial de soja, a primeira geração de soja transgênica foi lançada pela empresa americana Monsanto em 1995 nos Estados Unidos e chegou ao Brasil em 1998.
Embora outras empresas tenham criado tecnologias próprias de soja transgênica, as desenvolvidas pela Monsanto acabaram se tornando mais populares entre os agricultores.
O diferencial dessa planta foi a resistência ao herbicida glifosato, o que permitiu aumentar a utilização desse agrotóxico durante a safra, garantindo mais produtividade. A tecnologia ganhou o nome de Roundup Ready e passou a ser popularmente chamada de “soja RR”. Depois, milho e algodão ganharam a tecnologia.
A segunda geração da soja transgênica ganhou a tolerância contra lagartas como característica extra, a planta desenvolvia uma toxina que matava o inseto que tentasse consumir as folhas da planta, além de também ter resistência ao glifosato. Novamente desenvolvida pela Monsanto, a “soja RR2” ou “Intacta” chegou ao mercado brasileiro na safra 2013/2014.
Com a aquisição da Monsanto pela Bayer, a empresa alemã assumiu o desenvolvimento da terceira geração, conhecida como “Intacta 2 Xtend”.
Com a resistência de algumas ervas daninhas ao glifosato, a tecnologia apostou em uma soja tolerante a outro produto: o dicamba, um herbicida que tem características diferentes do glifosato e promete maior eficiência no controle das plantas invasoras na lavoura.
Fonte: G1