O Sul terá de rever suas práticas sem ignorar as ameaças do clima

Com a repetição de episódios climáticos na região, serão necessárias medidas de adaptação também para as atividades agrícolas, em paralelo à conservação e à restauração da vegetação.

Em meio às especulações sobre o tamanho das perdas nas lavouras do Sul do Brasil, resta a certeza de que o país precisa fazer a lição de casa para enfrentar as mudanças climáticas. O agronegócio responde direta e indiretamente por 40% do PIB gaúcho, incluindo aí a indústria de produtos voltados para a agropecuária. Nesse espectro, o setor agrícola, no qual predominam as culturas de soja, arroz, trigo e milho, será o primeiro a sofrer com os efeitos das chuvas. “Boa parte das safras já tinha sido colhida, mas só saberemos o aproveitamento do que restou no campo depois que as condições para o fim da colheita forem restabelecidas, assim como a logística de entrega e armazenamento. É uma tragédia sem precedentes e teremos de aprender a lidar com os eventos extremos, que devem se repetir em diferentes locais do país”, afirma o engenheiro agrônomo Eduardo Trevisan, diretor de ESG e Certificações do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

O governo federal anunciou, por exemplo, que vai aumentar a importação de arroz para compensar as perdas estimadas. Já os produtos hortifrutigranjeiros, básicos no prato da população, também correm risco — tanto pelo ataque de pragas e doenças (em função da umidade) quanto pela dificuldade de entrega.

Nada disso deveria surpreender. A região Sul vem sendo assolada por ciclones extratropicais, microexplosões atmosféricas, bloqueios meteorológicos, tudo agravado por um dos El Niño mais intensos de que se tem notícia e pelo agravamento das mudanças climáticas. Há quase uma década, modelos matemáticos apontaram que o Sul do Brasil sofreria com aumento de chuvas e enchentes, também em função do relevo das áreas próximas a Porto Alegre e do extremo sul do estado. Enfrentar a crise climática exige planejamento e ações em diferentes frentes para diminuir a vulnerabilidade da área. “A fórmula combina melhores práticas agrícolas, minimização de danos ambientais e investimentos na otimização dos processos pós-colheita e armazenagem”, defende Trevisan.

No curto e médio prazos, será fundamental também restaurar e restabelecer os limites das áreas de preservação permanente (APPs) próximas de rios e nascentes. Boas práticas de conservação do solo ajudarão a diminuir a erosão, melhorando a infiltração de água e diminuindo o assoreamento dos rios pelo carreamento de terra para os leitos. “É fundamental que a sociedade em geral se conscientize da gravidade da situação, incluindo o poder público, a quem cabe o estímulo e a abertura de caminhos para lidar com essa realidade”, conclui Trevisan.

Sobre o Imaflora: desde 1995, atua na promoção do uso sustentável e inclusivo dos recursos naturais. Seus projetos conciliam conservação ambiental e desenvolvimento econômico, atendendo a demandas das cadeias florestal, agropecuária, da sociobiodiversidade e da agenda climática. Realiza trabalho em campo, assistência técnica e certificações, além de pesquisa e desenvolvimento de dados (imaflora.org).

Informações para imprensa: Suzana Lakatos

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