Os benefícios econômicos, agrícolas e ambientais do fertilizante orgânico composto

Melhoria das condições do solo, aumento da produtividade, mais resistência a doenças e ganhos ambientais são os principais valores agregados pelos fertilizantes orgânicos compostos, atestados mundialmente
Os benefícios econômicos, agrícolas e ambientais do fertilizante orgânico composto

Fernando Carvalho Oliveira, engenheiro agrônomo da Tera Ambiental, que produz fertilizantes orgânicos a partir de lodos gerados no tratamento biológico de efluentes industriais e de esgotos captados pela Estação de Tratamento do município paulista de Jundiaí, salienta que o processo já é bastante consolidado em numerosos países, principalmente os mais desenvolvidos. “A qualidade e desempenho desses compostos são comprovados internacionalmente”, afirma.

Citando pesquisa realizada pela Nature’s Way Resources (NWR), localizada em Conroe, no Texas, uma das principais produtoras de compostos orgânicos dos Estados Unidos, Fernando enfatiza os benefícios desses insumos, a começar pelo fato de que são ricos em macro e micronutrientes para as plantas, além de os liberarem de modo gradativo, ao longo do ciclo da cultura, apresentando significativo efeito residual para cultivos subsequentes. Assim, obtêm-se excelentes resultados quando um bom produto é utilizado desde o princípio, a longo prazo, desempenhando papel fundamental para o desenvolvimento das plantações.

Com o tempo de uso do composto, os microrganismos nele presentes fixarão nitrogênio (N) da atmosfera e abastecerão as plantas conforme necessário. Isso é o que se chama de nitrogênio livre e adicional, cuja liberação não polui e não cria nitrato tóxico nas frutas e vegetais.

Para viabilizar a vida no solo, desde os microrganismos que criam sua estrutura e previnem doenças, a energia vem das ligações de carbono da matéria orgânica aplicada na terra. Esse é outro fator que demonstra a importância do fertilizante orgânico, também fundamental para a saúde e fertilidade das culturas, explica o engenheiro agrônomo. O composto melhora a retenção de água, estrutura, porosidade e aeração do solo. “Sem matéria orgânica, as plantas sofrem e enfrentam muitos problemas”, frisa.

Estudos demonstraram que um bom composto contém até 70% de substâncias húmicas. Estas são misturas heterogêneas de vários compostos orgânicos, constituídas por três tipos de húmus: um com fração ativa que durará de 1 a 5 anos; outro com fração lenta, que se degradará ao longo de 20 a 40 anos; e um terceiro com fração passiva resistente à decomposição microbiana, com uma vida útil de 200 a 1.500 anos. “São benefícios reais para a terra e a lavoura, além de realizarem sequestro de carbono, com ganhos ambientais”, ressalta Fernando.

A pesquisa abordada pelo engenheiro agrônomo da Tera também cita a importância dos micro-organismos contidos nos fertilizantes orgânicos para o crescimento e a saúde das plantas. Os compostos têm milhares de espécies de bactérias e fungos, organismos benéficos para o ciclo e retenção de nutrientes, prevenção de doenças das plantas e melhoria da estrutura do solo.

Alguns microrganismos podem suprimir o ataque de doenças nas plantas pela competição, inibição, predação de organismos nocivos, mineralizam os nutrientes e os disponibilizam para as plantas, permitem que água e oxigênio movam-se para o solo e decompõem substâncias tóxicas, como fenóis, taninos e pesticidas. Além disso, produzem compostos que promovem o crescimento das plantas e melhoram a qualidade do cultivo, com impacto positivo no sabor e produtividade.

São numerosos os benefícios e o valor agregado pelos fertilizantes orgânicos, como atesta a pesquisa, observa Fernando, sintetizando as vantagens: as plantas usam muito menos água quando o composto é utilizado. Em alguns gramados, é necessário de 50% a 70% menos água; mais resistência a doenças e insetos; melhor retenção dos nutrientes de fertilizantes minerais; neutralização de solos ácidos e alcalinos, mantendo valores pH na faixa ideal; solos arenosos também retêm mais água e nutrientes quando se utiliza o composto orgânico; e redução dos riscos de erosão.

Além disso, o fertilizante orgânico contribui para manter alguns nutrientes retidos suficientemente para evitar que sejam lixiviados (carreados no perfil do solo), mas trocáveis o suficiente para que as plantas possam absorvê-los facilmente. “Também devemos atentar para a conclusão do trabalho de que solos enriquecidos com compostos orgânicos têm muitos insetos benéficos, minhocas e outros organismos que estruturam as partículas e formam canalículos que mantêm a aeração. Finalmente, enfatizam que um aumento de apenas 5% no teor de matéria orgânica do solo quadruplica sua capacidade de retenção de água.

“Cada vez que usamos o fertilizante orgânico é como se estivéssemos fazendo um depósito em uma conta bancária, cujo rendimento é fertilidade do solo”, salienta o engenheiro agrônomo, acentuando: “É um investimento que concorre para aumentar o equilíbrio e a resiliência do sistema solo-planta, uma nova fronteira da produtividade agrícola”.

Por isso, esses compostos são hoje conhecidos internacionalmente no mundo agrícola como ouro negro.

Demanda crescente e importante

Fernando pondera que, na presente conjuntura geopolítica no Leste da Europa, com a invasão da Rússia à Ucrânia, poderá haver uma quebra no fornecimento de fertilizantes minerais, além de aumento de preços, como já se observa. Cabe considerar que o Brasil importa 85% desses insumos, tendo expressiva dependência externa.

Nesse sentido, além dos benefícios biológicos e ecológicos apontados no estudo da NWR, o uso de fertilizantes orgânicos ganha mais importância. Esses compostos, segundo aquilatou a Tera Ambiental em sua experiência no setor desde 1999, podem complementar em até 50% os minerais. Tal proporção é atingida em situações no qual sua utilização é repetida durante três anos subsequentes.

Em prazo mais curto, para atender a uma possível redução da oferta, considerando a aplicação de cinco toneladas de fertilizantes orgânicos por hectare, na primeira aplicação deste já seria possível reduzir em até 30% a dose recomendada de minerais. Em mais longo prazo, considerando também o Plano Nacional de Fertilizantes 2050 anunciado pelo governo, é possível pensar numa substituição mais ampla dos minerais pelos orgânicos. Porém, a aplicação combinada sempre oferecerá maiores ganhos ao produtor.

Outra vantagem do uso dos fertilizantes orgânicos é que eles apresentam altos benefícios para o meio ambiente. Efluentes industriais, lodo de esgotos, resíduos sólidos urbanos e outros despejos considerados passivos ambientais, ao serem transformados em insumos agrícolas, convertem-se em ativo gerador de empregos, renda, investimentos e compostos importantes para o fomento da atividade agrícola. “É um conceito perfeito de economia circular, cujo desenvolvimento, em todas as áreas, é decisivo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e conter as mudanças climáticas”, enfatiza o engenheiro agrônomo.

Por: Portal do Agronegócio

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