Os efeitos da guerra começam a chegar pelo pãozinho

Incertezas e dificuldades no comércio mundial provocaram alta de 40% nos preços do trigo em 30 dias.
Legenda: Ucrânia e Rússia exportam 30% do trigo comprado pelo resto do planeta. O Brasil é um dos maiores importadores de trigo, o que pressiona preço. Foto Valentyn Ogirenko/Reuters
Legenda: Ucrânia e Rússia exportam 30% do trigo comprado pelo resto do planeta. O Brasil é um dos maiores importadores de trigo, o que pressiona preço. Foto Valentyn Ogirenko/Reuters CAMPO DE TRIGO  Foto Valentyn Ogirenko Reuters

Os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia começam a chegar ao consumidor brasileiro pelo pãozinho. O trigo, que teve elevação internacional de preços ainda no período das tensões entre os dois países, é o cereal com maiores reajustes no mercado externo, após a invasão russa.

Os efeitos no Brasil, um dos principias importadores de trigo do mundo, são imediatos. A participação russa direta nas importações brasileiras de trigo tem pouca importância, mas a influência da Rússia na formação dos preços internacionais é grande.

No ano passado, os russos foram responsáveis por apenas 0,5% do cereal importado pelos brasileiros, exportando 28 mil toneladas.

Os russos tiveram acesso ao mercado nacional em 2018, quando colocaram 26 mil toneladas no país. Em 2020, foram 238 mil toneladas, o maior volume até então e 4% das compras brasileiras.

A importância da Rússia no setor de trigo —é a principal exportadora mundial—, porém, já provocou a elevação de preços do cereal em 40%, em dólares, nos últimos 30 dias.

O primeiro contrato fechou em US$ 10,585 por bushel (27,2 kg) na Bolsa de Chicago nesta quarta-feira (2), com o cereal atingindo a máxima de US$ 11,32 durante o pregão.

O trigo está perto de atingir o maior valor histórico até então registrado na Bolsa de Chicago, quando chegou a US$ 13,345 por bushel. Esse pico ocorreu em 2008, ano da bolha financeira.

O mercado internacional está agitado devido às incertezas atuais na oferta do cereal. Além da Rússia, a Ucrânia também é importante no mercado internacional.

As exportações russas devem atingir 35,5 milhões de toneladas na safra 2021/22, e as ucranianas, 24 milhões. Juntos, os dois países têm 29% do mercado internacional.

  O trigo comprado pelo Brasil vem basicamente do Mercosul. A Argentina forneceu 5,43 milhões de toneladas em 2021; o Paraguai, 334 mil; e o Uruguai, 308 mil. As importações totais do ano passado somaram 6,22 milhões.

O aumento de preços no mercado internacional reflete nos preços internos. A tonelada de trigo já atinge R$ 1.722 no Paraná, valor que acumula alta 80% em dois anos.

Os preços do pãozinho e da farinha de trigo, que vinham recuando no final de 2021, voltaram a subir. Na segunda quadrissemana de fevereiro (últimos 30 dias até meados do mês), o pão francês teve reajuste de 1,2%, e a farinha, de 1,4%, percentuais bem acima dos de dezembro.

Essa retomada de preços da farinha de trigo e do pãozinho ocorre após um aumento acumulado de 23% e de 19%, respectivamente, nos dois últimos anos por esses produtos, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

O aumento da farinha retira margens das indústrias, que não têm mais espaço para repasses. Já o aumento do pão pesa no orçamento do consumidor. De cada R$ 100 gastos pelos paulistanos, R$ 1,4 é com esse alimento, segundo a Fipe.

Esses derivados de trigo, que já começam a ter elevação de preços, em poucas semanas incorporarão novos reajustes vindos do mercado externo.

Por: Brasil Agro

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