Por falta de armazéns, produtores buscam embalagens alternativas mais práticas

Com a falta de armazéns para guardar a safra de 185 milhões de toneladas de grãos colhidos nas lavouras do País, e enquanto os silos de metais e alvenaria aguardam investimentos para saírem do chão, o mercado de embalagens alternativas está bombando. os silos bolsa, ou silo bags, sacos gigantes confeccionados em plástico, são cada vez mais vistos na agricultura e têm sido os mais procurados, pela facilidade e rapidez em resolver a falta de local adequado para a estocagem de grãos. na safra 2012/2013, segundo a Companhia nacional de abastecimento (Conab), cerca de 40 milhões de toneladas de grãos chegaram a ficar a céu aberto durante o período de colheita.
a demanda por armazenagem no País superou em mais de 20% sua atual capacidade de estocagem.

img-341844-bola-da-vezSegundo a executiva Ana Paula de Paiva Ruas, responsável pelo mercado de agronegócio da unidade de Poliolefinas da Braskem, do grupo Odebrechet, a maior fabricante de resinas termoplásticas do País, as vendas de silo bags começaram a crescer aos olhos dos agricultores brasileiros, principalmente por serem uma alternativa economicamente viável. “O agricultor começa a ver nas bolsas de armazenagem uma solução barata para os gargalos da colheita”, afirma Ana Paula. um silo bag com capacidade de guardar até 180 toneladas de soja custa cerca de R$ 1,5 mil e os equipamentos para enchimento e retirada do grão, em torno de R$ 100 mil. O custo da saca armazenada sai por cerca de R$ 0,50. Construir um silo para Granéis, que nunca pode ser muito pequeno, em função do custo-benefício – por exemplo, com capacidade para oito mil toneladas –, pode chegar a R$ 1,4 milhão.

Para dar conta da demanda por silo bags, a Braskem fechou uma parceria para fornecer resinas à gaúcha Pacifil, de Sapiranga, fabricante do produto. No mês passado, a Pacifil investiu R$ 10 milhões na compra de maquinário para dobrar a sua atual capacidade de produção. “Armazenar é ampliar as vantagens competitivas do negócio”, diz Ana Paula. “A estocagem de grãos pode ser mais bem gerenciada, principalmente no Centro-oeste.” Não por acaso, a Rafitec, do município de Xaxim, no oeste de Santa Catarina, região de tradição em armazenagem de produtos agrícolas, vem apostando alto nas vendas do equipamento, que atualmente representam 70% de sua produção. “Nós tínhamos os estados do Sul, com tradição de armazenagem, como principais clientes até pouco tempo atrás”, diz Sonia Hensel, gerente comercial da Rafitec, que também produz embalagens para rações. “Mas a atual demanda está nos levando para as regiões centrais do País.”

Atualmente, o Centro-oeste conta com silos de Granéis capazes de estocar 46 milhões de toneladas de milho e soja, insuficientes para atender a demanda da safra 2012/2013, que está fechando com 72 milhões de toneladas colhidas. Além da pouca estrutura oferecida pela Conab, parte da armazenagem se encontra em condições inadequadas de uso, em função de falhas técnicas, irregularidades tributárias, entre outros impedimentos. Em Mato Grosso, por exemplo, das 21 unidades de armazenagem espalhadas pelo estado, seis estão desativadas. Com a pressão por estocagem, estima-se que hoje 5% da lavoura na segunda safra do milho já seja estocada em silo bags, o que daria cerca de quatro milhões de toneladas. Mas ainda é muito pouco na comparação com a argentina. No país vizinho, cerca de 35 milhões de toneladas de soja e milho vão para os silo bags como estratégia de gestão das propriedades, volume equivalente a 50% da produção.

No Brasil, a produtora Michele Goulart, do Grupo Goulart, de Guiratinga, em Mato Grosso, descobriu os silo bags há quatro anos. Michele cultiva cinco mil hectares de milho e mil hectares de sorgo na segunda safra, além de nove mil hectares de soja. Em sua propriedade, o que vai ser comercializado imediatamente após a colheita fica no chão à espera dos caminhões, enquanto o excedente vai para os silo bags. “Foi a maneira que encontrei para negociar com tranquilidade”, diz Michele. Segundo os fabricantes do produto, os silo bags podem armazenar os grãos por até um ano.

De acordo com o diretor da Novanis Saúde Animal, Arlindo Vilela, de Rondonópolis, um dos municípios agrícolas mais ricos de Mato Grosso e que fica próximo a Guiratinga, o silo bag, um produto que começou como uma alternativa para os pecuaristas fazerem a silagem de grãos e capim destinados à alimentação do gado, vem mudando a paisagem em algumas regiões do estado. “No Vale Rio Xingu, no norte do estado, onde a soja tem avançado sobre áreas de pastagens, o uso de silo bags é uma prática irreversível”, diz Vilela. “E deve crescer mais daqui para a frente.” Entre 2009 e 2013, a área cultivada no Xingu chegou perto de 400 mil hectares, número que deve triplicar nos próximos cinco anos. “Como a região vai armazenar a produção desses 800 mil hectares adicionais?”, indaga Vilela.
Briga por espaço

Para o empresário Douglas Fonseca de Oliveira, dono da Bag MT, também de Rondonópolis, maior fabricante de silo bags da região, a maior vantagem do produto vai além de sua praticidade. “Para quem planta o milho na segunda safra, com o silo bag é possível guardar o grão e tentar um preço melhor no mercado”, diz Oliveira. “Também se economiza no frete fora do pico de demanda por caminhões.” Ele dá como exemplo o que aconteceu na última safrinha. No pico da colheita, com a falta de caminhões para tirar a lavoura do campo e com os silos disponíveis entupidos de soja, o produtor precisou vender a saca de milho a R$ 12. “Quem esperou algumas semanas conseguiu janelas para vender por até R$ 17 a saca em algumas regiões do estado.” No caso do frete, transportar o grão fora do período de pico significou uma economia entre R$ 20 e R$ 40 por tonelada. Segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), o frete da tonelada até o porto de Santos chegou a R$ 300 nesta safra.

Sem competir com a soja no momento do plantio, o milho da safrinha deve brigar cada vez mais por espaço de armazenamento no momento da colheita, entre maio e setembro. No décimo levantamento da safra 2012/2013, divulgado pela Conab no mês passado, a colheita do milho era estimada em 81 milhões de toneladas, 11,5% a mais em relação à safra anterior. “O problema é que, quando o milho está para ser colhido, a soja ainda não foi toda vendida”, diz Oliveira. “Esse movimento, que aumentou muito nos últimos três anos, é que vem provocando uma corrida aos silo bags.” Em 2011, a empresa de Oliveira vendia cerca de 600 silo bags, ante 1,4 mil no ano passado. Para 2013, a previsão é fechar o ano com duas mil unidades vendidas.

Na opinião do diretor do grupo Sinagro, Marcos Antônio Vimercati, de Primavera do Leste (MT), que conta com seis armazéns em quatro estados e opera em 58 municípios, quanto mais os produtores investirem no plantio de soja precoce, mais haverá milho na segunda safra. “É uma tendência para o Centro-oeste daqui para a frente.” Segundo Vimercati, com o milho armazenado o produtor deixa de ser pressionado pelos preços na bolsa de Chicago. “Posso vender no melhor momento.” Vimercati, que, além de diretor da Sinagro, é pr dutor rural, cultiva 45 mil hectares de soja e 15 mil hectares de milho e vem se tornando um adepto dos silo bags. “Eles não substituem os armazéns de granéis, mas são uma ótima solução”, diz Vimercati.

Fonte: Dinheiro Rural

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