Duas vezes por ano, em abril e outubro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) publica um relatório com as expectativas de produção, exportação, consumo e estoques das proteínas bovina, de frango e de suíno no mundo.
1.Exportações.
Segundo o último relatório, a expectativa para 2018 é de que o comércio mundial de carne bovina cresça 5% chegando a 10,5 milhões de toneladas, o de frango aumente 2% (11,3 milhões de toneladas) e o de suíno 1% (8,3 milhões de toneladas) em relação a 2017.
Figura 1. Volume de carne bovina, de frango e suína comercializada no mundo, em milhões de toneladas.
O aumento das exportações de carne bovina deverá ser impulsionado pela melhora na demanda global e pelos preços competitivos. A expectativa é de que importantes exportadores, como Brasil e EUA, aumentem as exportações, com preços menores.
Em 2018, para o Brasil a expectativa é de que o aumento chegue a 9%, resultado da demanda da China e de Hong Kong que deverão continuar crescendo já que a produção doméstica, estagnada, não é capaz de atender ao aumento do consumo.
Nos EUA, a alta deverá ser de 6% com o aumento da demanda da Coreia do Sul, Japão, México e Canadá.
Para a carne suína a expectativa é de que as exportações cresçam principalmente para a União Europeia, EUA e Canadá. Por outro lado, a expansão deve ser limitada devido ao investido na produção doméstica de carne de frango em importantes compradores como a China e devido a proibição da compra do produto brasileiro pela Rússia.
Figura 2. Importação global de carne suína, em volume (milhões de toneladas de equivalente de carcaça) eixo primário, e volume de carne suína importada pela China e Rússia em milhares de toneladas de equivalente de carcaça (eixo secundário).
Nos EUA, o crescimento esperado é de 5%, valor reduzido devido aos impactos das tarifas impostas pela China, que subiram de 24,3% para 50,7%, e que foi compensado com o aumento dos embarques para México, Japão e Filipinas.
Por fim, para a carne de frango, o crescimento não deverá ser expressivo devido às barreiras ao comércio do Brasil e EUA.
Os EUA, não podem exportar para a China devido a gripe aviária e o Brasil sofre com as restrições impostas pela Rússia e União Europeia. O crescimento deverá ocorrer devido à importação do Japão, Cuba, Hong Kong, Angola, Iraque e Gana.
Entre os exportadores, destaca-se a Tailândia e a Ucrânia. A expectativa é de que a Tailândia melhore em 7% as exportações chegando a 810 mil toneladas com forte demanda da Ásia e aumento das vendas para o mercado chinês. Já para a Ucrânia a expectativa é de alta de 18% (embarque de 310 mil toneladas) devido a demanda do Oriente Médio, União Europeia e Norte da África.
2.Carne bovina.
A produção global de carne bovina deverá ter crescimento anual de 2% em 2018, chegando a 63 milhões de toneladas, resultado do aumento da produção principalmente nos EUA, Brasil, Austrália e Argentina.
Figura 3. Volume de carne bovina produzida no mundo, em milhões de toneladas
No Brasil, a maior produção é resultado do aumento do peso de carcaça dos bovinos, maior demanda interna e melhora nas exportações. Já na Argentina, a seca que atingiu o país está obrigando os produtores a comercializarem o gado mais cedo para aliviar as pastagens e com isso, espera-se que com a maior taxa de abate ocorra melhora na produção.
Na Austrália, as condições climáticas adversas retardarão os esforços de reconstrução do rebanho, mas os pesos mais altos das carcaças aumentarão a produção.
Nos EUA, o aumento na produção deverá ser de 6% ou 663 mil toneladas de equivalente de carcaça, resultado da expansão do rebanho no país.
Tabela 1. Produção de carne bovina nos principais produtores, em milhões de toneladas de equivalente de carcaça.
Nota: A Índia inclui búfalos e a partir de 2015 foram excluídos os seguintes países: Albânia, Azerbaijão, Costa do Marfim, Geórgia, Gana, Jamaica, Senegal e Uzbequistão.
3.Carne suína.
A expectativa é de que a produção mundial cresça 2% em 2018 e chegue a 113,5 milhões de toneladas, resultado do incremento de 1,25 milhões de toneladas em equivalente de carcaça na China e de 0,55 e 0,37 milhões de toneladas nos EUA e na União Europeia, respectivamente. Esta é a maior taxa de crescimento da produção mundial dos últimos cinco anos.
Os investimentos na suinocultura na China e o aumento no número de matrizes na Polônia, Holanda e Espanha contribuem para este cenário. Além disso, os preços favoráveis em 2017, incentivaram a produção.
Figura 4. Produção mundial de carne suína, em milhões de toneladas de equivalente de carcaça.
Por outro lado, a enfraquecida demanda doméstica e as perspectivas de exportações desafiadoras, devido à demanda mais fraca na China e a valorização do euro, devem pressionar os preços em 2018.
Nos EUA, a expectativa é de que a produção aumente 5% em 2018, resultado do abate de suínos maiores e ganho de peso de carcaça.
A melhora na demanda interna e da exportação colaborou para a alta dos preços em 2017. O consumo per capita de carne suína nos EUA aumentou nos últimos três anos e espera-se que atinja 30 kg por pessoa em 2018, melhor resultado desde 2004. Além disso, a abertura de novos frigoríficos para abate de suínos resultou em melhora na demanda e nos preços.
Entretanto, com o aumento da oferta (segundo o relatório do USDA de março, a parição de suínos aumentou 2% no segundo trimestre de 2018 em relação ao primeiro), a expectativa é de queda de 9% nos preços para 2018 no país, o que deve impulsionar o consumo no México, maior comprador do produto americano, do Japão, Coréia do Sul e Canadá.
O cenário de maior oferta também está resultando em menores preços na China. Após vários anos de declínio no rebanho de matrizes, os investimentos nos dois últimos anos resultaram em aumento no fornecimento de suínos. Desde fevereiro os preços estão aproximadamente 10 yuan/kg menores que o custo de produção. Com margens pressionadas, o crescimento da produção pode ficar limitado nos próximos anos.
Na União Europeia, os bons resultados das exportações em 2017, colaboraram para o aumento na produção. Para 2018, a expectativa é de que a produção deverá crescer 375 mil toneladas e, as exportações cresçam 50 mil toneladas, o que resultará em maior oferta no mercado interno diante de um consumo per capita em queda na maior parte da Europa. Assim, a demanda doméstica fraca já está afetando a produção em partes da UE, especialmente na Alemanha.
No Brasil, tanto a produção como a exportação devem ser menores que o observado em 2017. A expectativa é de queda de 1,3% na produção e de 20,5% na exportação, resultado do fechamento do seu principal mercado, a Rússia, o aumento nos custos de produção e as consequências da Operação Carne Fraca.
Vale destacar, que a Rússia importou mais de 40% do produto embarcado ou 20% da produção brasileira. Assim, com as incertezas quanto as importações e maior oferta no mercado interno, os preços estão caindo e provocando a diminuição da produção.
3.1.Mercados em crescimento.
3.1.1. América Latina.
O consumo de carne suína está aumentando na América Latina, especialmente na Argentina, Colômbia, México, Uruguai e parte da América Central. Tradicionalmente, esses países possuem pequenas e ineficientes indústrias de suínos e preferem carne bovina. Entretanto, a combinação do maior preço da carne bovina e melhora no marketing da carne suína, vem resultando em aumento do consumo. Isso tem colaborado para o crescimento das importações principalmente do Brasil e dos Estados Unidos.
3.1.2.Ásia e Oceania:
O consumo de suínos também está crescendo na Ásia e na Oceania, resultado do crescimento da renda. A expansão da classe média vem aumentando a demanda por carne suína, em países como as Filipinas, é a carne preferida. As importações também estão crescendo no Japão, na Coréia do Sul e na Austrália. Em 2017, o consumo de carne suína cresceu 4% no Japão, a maior taxa dos últimos 10 anos e na Austrália, a expectativa é de que as importações cresçam 5% em 2018.
3.2.Preços.
Nos principais países produtores, o setor está em expansão. A forte demanda em 2017, resultou em maiores preços da carcaça, enquanto que o custo com a alimentação caiu, colaborando para aumento da margem dos produtores. Para 2018, a projeção é de estreitamento das margens por causa do aumento de preços dos alimentação que compõem a dieta.
O crescimento da produção em 2018, deverá ser liderado pela China com a recuperação do seu rebanho e nos EUA, Canadá e União Europeia devido a expectativa de aumento da exportação e de melhora do consumo interno na América do Norte. Contudo, a expectativa é de que o aumento da produção seja maior que o das exportações, o que deve resultar em preços em 2018, abaixo dos de 2017.
4.Carne de Frango.
A produção global deverá crescer 2% em 2018, chegando a 92,5 milhões de toneladas. Resultado da maior produção nos EUA, Brasil, Índia e União Europeia.
Na UE e na Índia, o impulso na produção é resultado do aumento no consumo doméstico.
Figura 5. Produção mundial de carne de frango, em milhões de toneladas.
Na UE, a produção deverá crescer 2%, chegando ao recorde de 19 milhões de toneladas em 2018, resultado principalmente do crescimento do consumo interno. Além disso, as exportações do país deverão crescer 3% chegando a 3,2 milhões de toneladas em relação a 2017.
Para o Brasil, a expectativa é de que a produção cresça 1,7% ou 225 mil toneladas. As quedas nos preços e os entraves enfrentados na exportação, são fatores que limitaram o crescimento.
Repost: Scot Consultoria (por Isabella Camargo)