A forte estiagem que atinge o Brasil tem potencializado os focos de queimadas e incêndios florestais nos principais biomas brasileiros. Na Amazônia, o Pará é um dos estados mais atingidos pelas queimadas, com aumento de 200% dos focos comparado com o mesmo período do ano passado, segundo o Governo do Estado. Preocupada com esta realidade, a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará, Faepa, promoveu nesta quarta-feira (25), na sede da entidade, em Belém, um encontro entre lideranças rurais e o Corpo de Bombeiros Militar Estadual.
Por meio do coronel Wagner Silva, dúvidas dos produtores foram esclarecidas, principalmente no que se refere ao combate dos focos que se alastram com rapidez e atingem cada vez mais produções e criações rurais. O bate-papo ocorreu durante o Encontro das Mulheres do Agro. Silva iniciou afirmando que é muito importante que todos sigam as orientações das autoridades competentes. “Primeiramente, deve-se contactar o Corpo de Bombeiros. Nas cidades onde não há presença dos militares, é importante procurar apoio e auxílio das prefeituras, por meio das defesas civis municipais. São órgãos que já têm um trabalho organizado de primeira resposta a estes incêndios. Onde há presença do Corpo de Bombeiros nós já estamos atuando no combate apoiando produtores para que o fogo não atinja as sedes e não cause danos aos produtos”.
Outro ponto esclarecido pelo coronel Silva foi a respeito do início do fogo. Segundo ele, a própria estiagem é um fator determinante para a proliferação e que na maioria dos casos a ignição geralmente ocorre nas beiras das estradas, em áreas públicas, por ação descuidada de transeuntes. Silva citou o exemplo de bitucas de cigarro que são jogadas fora, a queima de lixo, soltura de balões e similares. “Muitas vezes os incêndios estão ligados a fatores climáticos e situações isoladas. A maior parte das nossas fazendas e grandes propriedades ficam próximas de estradas, então são pessoas viajando ou transitando que jogam algo que pode se transformar em centelha e alastrar. Por causa da estiagem tem muito material vegetal seco e durante as horas isso tende a sair do controle”, explica Wagner Silva.
O coronel Wagner Silva também foi enfático ao dizer que no Pará os produtores rurais estão auxiliando as forças públicas no combate ao fogo. “Seria leviano de qualquer órgão acusar os produtores rurais. Tudo está sendo investigado. Os produtores, na verdade, são grandes parceiros. A gente sabe que os nossos agricultores estão evoluindo nas técnicas de fazer o tratamento de renovação do pasto e do solo. Existem vários trabalhos desenvolvidos pelos órgãos de apoio e pesquisa, como a Embrapa e o Senar, que passam treinamentos e capacitações”.
Tarcísio Burim, produtor rural e presidente do Sindicato Rural de Dom Eliseu, no nordeste do Pará, esteve presente no evento e compartilha da mesma opinião do coronel. Ele cita exemplos que adota na sua própria fazenda para fazer o combate a possíveis focos e também impedir que incêndios vindos de fora atinjam a propriedade. “Não tem nada a ver com o produtor rural. No momento da colheita, neste período onde as temperaturas são muito altas, há o acompanhamento com todos os equipamentos necessários para combater possíveis incêndios como forma de prevenção. O grande problema são as beiras de rodovias e estradas mesmo”, pontua Tarcísio.
O evento realizado na Faepa reafirma o compromisso do sistema em observar práticas e tecnologias que evitem o crescimento de incêndios e como os produtores rurais têm se unido a empresas, outros produtores e a própria comunidade que reside no campo para evitar que o fogo se alastre. “Os produtores de médio e grandes porte geralmente têm os equipamentos como carro pipa, trator e grades aradoras, que podem ser usados no início de um eventual incêndio e conseguem combater. O maior gargalo está nos pequenos que não dispõe de recursos e é necessário que as prefeituras tenham equipamentos de combate ao fogo e funcionários treinados para esta prática. Os produtores são contra o fogo, pois prejudica a qualidade da terra e compromete a produção, por isso mesmo não é desejado e nem praticado pelos produtores rurais. Até mesmo por ser ilegal e poder causar consequências administrativas e econômicas, como multas. O compromisso do produtor rural paraense é por uma produção sustentável dentro das práticas legais”, explica Cristina Malcher.
Além da palestra, o Sistema Faepa/Senar sinalizou apoio ao Corpo de Bombeiros para o desenvolvimento de outros encontros e orientações a produtores sobre protocolos que podem ser adotados para ajudar no combate aos incêndios nas áreas de pastagens e áreas de florestas das propriedades, assim como na proteção de empreendimentos rurais que eventualmente possam ser atingidos com o alastramento das chamas. O coronel Silva também se colocou à disposição pessoalmente para se fazer presente em empreendimentos que precisem de ajuda e esclarecimentos.
Em 17 de setembro, o governador do Pará, Helder Barbalho, decretou situação de emergência no estado por causa da estiagem. Segundo Barbalho, a medida leva em consideração a estiagem prolongada que tem afetado diversas regiões, reduzindo os níveis de água em reservatórios, rios e aquíferos. Na visão dele, esse cenário tem causado graves impactos na agricultura, no abastecimento de água potável, na pecuária e em outras atividades econômicas essenciais.
Fonte: Faepa/Senar