Projeto de rastreabilidade une frigorífico Rio Maria e Durlicouros

“A gente está ficando ilhado”, diz Roberto Paulinelli, proprietário do frigorífico Rio Maria, no Pará, sobre a crescente pressão para que a pecuária brasileira garanta que a carne e o couro que vão parar nos mercados internacionais não vêm de bois criados em áreas desmatadas.

Por isso, na semana passada, Paulinelli fez questão de acompanhar uma série de visitas técnicas de representantes da indústria do couro que queriam conhecer o Protocolo de Rastreabilidade Individual e Monitoramento Indireto (Primi), criado para atender essa demanda. “A única forma é colocar o brinco no boi”, afirma.

O Primi foi desenvolvido pelo Rio Maria em parceria com a gaúcha Durlicouros, segunda maior empresa do setor de couros do país, a assessoria em conformidade Niceplanet, a certificadora SBCert e a consultoria Green Level Environment Strategy.

O projeto-piloto começou em junho com previsão de chegar a 20 mil animais rastreados até dezembro, mas já alcançou 113 mil, de 40 propriedades. Os bezerros são rastreados individualmente desde o nascimento — em alguns casos, as empresas conseguiram certificar animais de forma retroativa graças à documentação dos pecuaristas.

Na semana passada, as empresas apresentaram os primeiros resultados do Primi a membros da indústria de couro. Segundo Paulinelli, eles puderam ver de perto como funciona a cadeia, da criação de bezerros até o couro que lhes será vendido pelo programa.

“Também fomos procurados pelo Carrefour para desenvolver produto rastreado, e o McDonalds, a chefe de sustentabilidade veio na visita. Além do couro, acredito que vão surgir muitos negócios bons para a carne”, afirma.

Agora, as empresas engajadas na iniciativa acreditam que há como alcançar 200 mil animais rastreados antes do fim do ano, superando a meta inicial em dez vezes.

Volume de abates

O Rio Maria abate aproximadamente 18 mil cabeças de bovinos ao mês. Ainda que 50% de sua receita venha das exportações à China, Paulinelli vê que a certificação de sustentabilidade que será exigida pela União Europeia a partir de 2025 também pode colocar os produtos da empresa em destaque para outros mercados exigentes.

A Durlicouros também entrou no projeto para garantir que as peles fornecidas são livres de desmatamento e outros crimes socioambientais, posicionando a companhia como uma fornecedora segura para empresas europeias que redobraram as exigências em relação à origem dos produtos.

Geralmente, a rastreabilidade costuma ser feita por lote de animais, o que torna o processo menos seguro do que o modelo desenvolvido neste projeto. “Isso nos coloca à frente para acessar mercados. Estamos fazendo um investimento grande e melhorando os processos internos de qualidade”, disse Ivens Domingos, gerente de sustentabilidade da Durlicouros.

Cerca de 75% das seis milhões de peles produzidas pela empresa ao ano são exportadas, principalmente para Itália, China e Estados Unidos. A Durlicouros vende couro curtido (wet blue), semi acabado (crust) e acabado para outras companhias, que processam as peças para uso em estofamento automotivo, móveis ou calçados.

Expectativa

A empresa vê espaço para chegar a 200 mil animais até o fim do ano. Para isso, espera engajar os outros elos da cadeia do couro — dos frigoríficos até as companhias na ponta final — a doarem recursos para fornecimento de brincos e assistência técnica aos produtores.

“Apoiar projetos responsáveis é melhor do que virar as costas e criticar”, defende o diretor financeiro da companhia, Christiano Frizzo. A expectativa é expandir o projeto no Pará e, depois, no país inteiro.

Há mais de 60 anos em atividade, a Durlicouros está em oito Estados brasileiros e no Paraguai. Detém cerca de 15% de participação de mercado em couro no Brasil.

Maior empresa do segmento, a JBS Couros não integra o Primi e, por meio de nota, diz que utiliza o mesmo sistema de rastreabilidade que garante a origem da carne aos frigoríficos. A companhia permite que clientes e consumidores acessem as informações das fazendas consumidoras por meio da plataforma Leather ID. Segundo a JBS, a ferramenta permite identificar o curtume e a unidade produtiva de origem de cada couro, além de dados como dia do processamento e o grupo de fazendas que formaram o lote naquela data específica.

Por: Globo Rural

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