Diretor de Agronegócios do banco pondera, no entanto, que situação fiscal é fator limitante e maior efeito da mudança pode ser “psicológico”
POR RAPHAEL SALOMÃO, DE SÃO PAULO (SP)
O banco Santander avalia que há espaço para taxas menores de juros no crédito rural no Plano Safra para o ciclo 2018/2019. Mas essa redução pode ser limitada pela situação fiscal do Brasil, pondera o diretor de Agronegócios da instituição, Carlos Aguiar Neto.
“Pode haver uma redução, mas não deve ser grande dada a redução fiscal do país. É muito mais psicológico”, diz ele.
O executivo acredita que a taxa Selic a 6,5% ao ano – com o Banco Central sinalizando a possibilidade de mais cortes – traz uma “oportunidade” aos bancos privados em relação aos públicos nos negócios com a agropecuária. O líder nacional em financiamentos para o setor é o Banco do Brasil.
“Sou cético em relação à necessidade de recursos públicos com uma taxa de 6,5%. Selic abaixo do custo do crédito é uma oportunidade para os bancos mostrarem que gostam do setor”, diz Aguiar.
Ele acredita também que a oferta de crédito para a próxima safra deve ter uma participação maior dos financiamentos a juros não controlados. “O cenário está dado para a parte da economia real sem subsídio prevalecer”, acredita, sem, contudo, detalhar a que proporções isso deve ocorrer.
No geral, a safra atual já registra um crescimento desse tipo de contratação. Segundo o Ministério da Agricultura, de julho de 2017 a fevereiro de 2018, foram R$ 23,55 bilhões, 54,8% a mais que no mesmo período na safra passada. Nas taxas controladas, foram R$ 68,55 bilhões, um aumento de apenas 2,8% na mesma comparação.
O crédito a juros não controlados representou 25,57% do total liberado de julho de 2017 a fevereiro de 2018, que foi de R$ 92,10 bilhões. No mesmo período na safra passada, a proporção era de 18,56%, o equivalente a R$ 15,21 bilhões dos R$ 81,93 bilhões emprestados até então.
No Santander, o volume atual em financiamentos para o agronegócio, segundo Aguiar, está em torno de R$ 14 bilhões. Desse total, R$ 4 bilhões são subsidiados. É o equivalente a 28,57% do total da carteira e bem mais do que ele diz que gostaria, que é em torno dos 10%.
Os juros estão entre os principais pontos de discussão do próximo Plano Safra. Com o atual ciclo de redução imposto pelo Banco Central, a Selic de 6,5% ao ano é menor que as taxas das linhas de financiamento para o agronegócio. Lideranças do setor têm pressionado o governo por redução no custo de capital para custeio e investimentos.
No Ministério da Agricultura, o discurso é o que de as taxas tendem a cair. O próprio ministro Blairo Maggi tem dito que, diante da situação atual, o produtor não pode continuar pagando os mesmos patamares de juros.
Em debate com produtores rurais, em Lucas do Rio Verde (MT), na semana passada, o secretário de Política Agrícola, Neri Geller, disse que o novo Plano terá, ao menos, os R$ 188 bilhões aprovados para a safra atual. Ele tem dito que, em função da queda da Selic e da inflação, o governo tem espaço para bancar a equalização das taxas subsidiadas.
Mas o Ministério descarta mudanças antes da virada do calendário-safra, em 1º de julho. Diante da situação, representantes do empresariado e do setor financeiro tentam evitar que a indefinição dos juros afete a decisão do produtor. Dizem que quem tiver negócios para fechar agora, que o faça, pois o futuro pode não ser tão vantajoso.
“Existe a possibilidade dos juros caírem, mas o produto pode ficar mais caro nos próximos meses”, diz Francisco Matturro, presidente da Agrishow, em entrevista à Globo Rural. A feira de tecnologia chega, neste ano, à 25ª edição, entre 30 de abril e 4 de maio, em Ribeirão Preto (SP).
Carlos Aguiar Neto, do banco Santander, faz avaliação semelhante. “Aproveitar um desconto a vista agora pode ser melhor do que o 1% que pode nem vir. Sempre falo para o cliente pensar em vez de esperar pelo governo.”
Fonte: Globo Rural