Sem Índia, carne bovina brasileira ganha espaço no Oriente Médio

Devido a dificuldade de comprar carne de búfalo indiana, importadores do Oriente Médio estão buscando carne brasileira

O Brasil está ganhando mais espaço no mercado de carne bovina do Oriente Médio em função do menor fornecimento de carne de búfalo da Índia. A informação foi dada pelo sócio-diretor da Radar Investimentos, Leandro Bovo, em webinar promovido na terça-feira, 14 de abril, pela consultoria Datagro e Grupo Pecuária Brasil (GPB). A Índia exporta carne de búfalo para o Oriente Médio, mas em função da pandemia da covid-19 enfrenta dificuldade de abater os animais e produzir.

“A Índia era um fornecedor relevante de proteína barata para o Oriente Médio, quando pararam esse abate, o Oriente Médio já veio para o Brasil, num reflexo quase que imediato, eles estão voltando a comprar de forma muito mais relevante”, disse Bovo. No webinar também falaram o diretor de Relações Institucionais da Minerva Foods, João Sampaio, e o representante da GPB/Datagro, Leonardo Bacco, com mediação do diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Bento Mineiro.

Segundo Bovo, a China também está vindo com grande apetite para a carne bovina do Brasil. O coronavírus desvalorizou moedas mundo afora e o real foi um dos que mais perdeu valor frente ao dólar. Ao mesmo tempo em que afeta negativamente outras áreas da economia, o dólar valorizado favorece a exportação brasileira pois torna os produtos do País mais competitivos no mercado internacional. “Deixou a nossa carne num patamar bastante barato”, disse o sócio-diretor da Radar Investimentos.

De acordo com as informações divulgadas no webinar, o preço da arroba do boi produzido no Brasil estava em US$ 37,5 nesta terça-feira, enquanto na Austrália era de US$ 58 e Estados Unidos US$ 58,5. A Argentina tinha arroba mais barata, em US$ 37, mas tem limitações na produção. “Nenhum país do mundo tem condição de produzir hoje na qualidade que a gente produz, no volume que a gente produz, e com a estrutura para colocar a carne em todos os mercados do mundo, no preço que a gente produz”, disse Bovo.

Pelas análises dos palestrantes do webinar, em função do cenário atual, o mercado externo está ganhando importância como destino da produção de carne bovina brasileira. Sampaio afirmou que a demanda atual não é momentânea ou se dá apenas pela circunstância cambial. “Essa é uma demanda sólida”, disse ele. “A América do Sul, de uma maneira geral, mas o Brasil em especial, tem a melhor condição para produzir essa carne, para fornecer essa carne que o mundo precisa”, disse João Sampaio.

Sampaio disse que a China já cresceu como importadora no ano passado, em função da febre suína, mas também do aumento de renda e da transferência da população para centros urbanos, com mais consumo de carne bovina.

“E vêm vindo outros grandes países, a Indonésia comprava basicamente carne da Austrália, é uma população de 300 milhões de habitantes, com crescimento econômico grande, migração para costumes mais ocidentais comendo mais carne bovina, o Oriente Médio todo, o Norte da África, tem uma demanda consistente mesmo”, afirmou o diretor de Relações Institucionais da Minerva Foods.

Os especialistas entendem que os produtores de carne bovina estão entre os segmentos menos afetados no Brasil pela pandemia da covid-19. Eles acreditam que o setor foi favorecido pelo fato de o problema chegar em um momento de baixa oferta de carne bovina. Em grande parte pela demanda que vem do exterior, a situação da indústria brasileira de carne bovina é relativamente boa, segundo a análise dos palestrantes. A logística do setor vai relativamente bem, com o processo nos portos mecanizado, e o governo atuando para manter a logística em funcionamento, segundo os palestrantes. Mas eles ressaltam que o ambiente atual é de enorme incerteza.

“A gente tem muitos outros riscos, difíceis de mensurar, como exemplo o que aconteceu nos Estados Unidos agora, do fechamento de plantas por conta de funcionários contaminados pelo coronavírus”, disse Bovo. O sócio-diretor da Radar, porém, acredita que o Brasil está melhor que os Estados Unidos, já que têm plantas grandes, mas a maioria das unidades abate em média 500 animais por dia. “O risco não fica tão concentrado em uma planta só, se uma planta parar, você pode transferir esse abate para outros plantas”, disse Bovo.

Há incertezas sobre a oferta de carne bovina brasileira no segundo semestre deste ano. Bovo informa que várias empresas reduziram o confinamento de gado diante do custo de reposição desfavorável e falta de sinalização de preços futuros, entre outros fatores.

“Até agora o confinamento (de gado) não foi incentivado de nenhuma forma”, disse Leandro Bovo. Ele acredita que se a economia se recuperar no segundo semestre, o que eleva o consumo, pode haver problema na oferta de carne bovina.

Fonte: AGÊNCIA DE NOTÍCIAS BRASIL-ÁRABE

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