Apesar da alta no endividamento, cooperativa vê estabilidade na demanda por crédito e aponta riscos com aumento de recuperações judiciais.
O Sicredi estima liberar R$ 68 bilhões em crédito rural para o Plano Safra 2025/2026, o que representa um crescimento de 9,8% em relação ao ciclo anterior. Os recursos devem ser distribuídos entre custeio, investimentos, CPR e linhas dolarizadas, com destaque para operações mais flexíveis e adaptadas à realidade dos produtores. No entanto, o crescimento das recuperações judiciais preocupa e acende o alerta sobre a sustentabilidade financeira da cadeia produtiva.
O cooperativismo de crédito se prepara para um novo ciclo do Plano Safra. O Sicredi anunciou uma projeção de R$ 68 bilhões em crédito rural para a safra 2025/2026, representando um aumento próximo de 10% em comparação ao ciclo anterior. Os recursos devem ser alocados da seguinte forma: 36% para custeio, 36% para operações com Cédula de Produto Rural (CPR), 18% para investimentos, 7% em linhas de crédito dolarizadas e 2,2% para atividades de comercialização e industrialização.
A estimativa considera um cenário de estabilidade climática e manutenção da força estrutural do setor agropecuário brasileiro. A agricultura familiar deverá receber 20% dos recursos; os médios produtores, 25%; e os demais perfis, 12%.
O crescimento da CPR e das linhas em dólar reforça a busca por alternativas mais competitivas num ambiente ainda pressionado pelos juros. As operações dolarizadas, por exemplo, devem movimentar R$ 4,9 bilhões — uma alta de 21% em relação à safra passada — e são voltadas principalmente aos produtores exportadores, com custo estimado em 65% da Selic e isenção de IOF.
Apesar do otimismo com a demanda, o cenário não é isento de riscos. O endividamento do produtor rural tem aumentado nos últimos ciclos, principalmente nas regiões afetadas por quebras de safra e oscilações nos preços das commodities. O impacto é mais expressivo em operações de maior porte, onde o grau de alavancagem é mais elevado. Além disso, o índice de inadimplência, ainda que relativamente controlado no cooperativismo, dobrou recentemente.
O maior ponto de atenção recai sobre o uso crescente das recuperações judiciais no campo. Essa prática, embora legal, rompe com a tradicional dinâmica de confiança e parceria do meio rural e tem gerado impactos em cadeia entre fornecedores, cooperativas, revendas e demais integrantes do ecossistema. O aumento das RJs provoca uma aversão generalizada ao risco, inclusive sobre produtores com bom histórico.
Enquanto a metade sul do país segue enfrentando desafios climáticos mais severos, regiões como o Centro-Oeste sofrem com os efeitos combinados de alavancagem financeira e choques de preços. A perspectiva é de que o setor passe por um período de ajuste natural, após anos de otimismo e expansão, especialmente entre produtores que apostaram alto em crescimento durante ciclos anteriores.
Ainda assim, o crédito segue como um pilar essencial para o funcionamento e evolução do agro. Com um Plano Safra mais previsível, taxas mais definidas e instrumentos como CPR e crédito em dólar ganhando protagonismo, o Sicredi aposta na continuidade do crescimento, ainda que com mais cautela e foco na sustentabilidade da cadeia produtiva.
Fontes:
Globo Rural / Canal Rural / Valor Econômico
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Jornalismo Ruralbook
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