Em nosso país, apesar de todas as dificuldades pelas quais a ciência nacional passa, fomos capazes de desenvolver produtos inovadores
Por Hugo Molinari*
O Brasil comemora vinte anos de transgênicos em 2018 (o primeiro OGM do País foi aprovado em 1998), podemos calcular, para além deste tempo, pelo menos mais dez anos de pesquisa e desenvolvimento. Isso representa trinta anos de transgênicos sem nenhum registro de malefício às saúdes humana e animal ou ao meio ambiente. É bastante coisa. No mínimo, isso confirma a segurança desses produtos, desde o princípio atestada por inúmeros pesquisadores e agências reguladoras.
A biotecnologia é uma atividade que demanda, também, muito investimento. Segundo a Phillips McDougall, um novo transgênico custa, em média, US$ 136 milhões – aproximadamente R$ 400 milhões. Desse total, cerca de 51% são usados para o desenvolvimento do produto, 23% na descoberta do gene e os 26% restantes investidos em testes de biossegurança e no processo de aprovação. O rigor das avaliações pelas quais passam esses produtos torna o trabalho com biotecnologia agrícola uma atividade de risco e custo altos, afinal poucas empresas têm capital suficiente para investir quantias dessa grandeza e esperar mais de dez anos para ter algum retorno, se tudo der certo.
Em nosso país, apesar de todas as dificuldades pelas quais a ciência nacional passa, fomos capazes de desenvolver produtos inovadores e que têm potencial não só de facilitar a vida dos agricultores, mas de fazer o Brasil chegar mais perto dos líderes globais desse mercado. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por exemplo, foi a primeira empresa pública do mundo a aprovar um OGM. Em 2011, ela conseguiu, na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a autorização para a comercialização do feijão GM resistente ao vírus do mosaico dourado, uma doença que devasta as lavouras dessa leguminosa.
A FuturaGene, empresa que foi adquirida pela brasileira Suzano Papel e Celulose S.A. em 2010, obteve a aprovação de um eucalipto transgênico. O primeiro eucalipto GM do mundo tem potencial, por exemplo, de diminuir a área plantada com a cultura, reduzindo a pressão sobre as florestas naturais. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), outra empresa nacional, também está na vanguarda da biotecnologia vegetal. Em 2017, a CTNBio aprovou a cana-de-açúcar GM da empresa, uma variedade inovadora que apresenta resistência à broca-da-cana, inseto que causa prejuízos milionários à indústria sucroenergética, fundamental para o Brasil.
Esses exemplos mostram que o Brasil pode se tornar um importante player no setor de Biotecnologia. Para isso, entretanto, é essencial que o esforço dos cientistas brasileiros seja reconhecido, tanto nos serviços prestados à CTNBio, por meio de criteriosas análises de biossegurança, quanto nas empresas, liderando pesquisas de ponta que levam a produtos que podem revolucionar a agricultura.
* Engenheiro agrônomo, pós-doutor em Genética Vegetal e pesquisador da Embrapa.
Fonte: Cenário Agro