Em recente visita ao Brasil, a norte-americana Temple Grandin, uma das maiores referências mundiais em bem-estar animal, esteve em Pirassununga (SP) nos dias 4 e 5 de julho para o evento “Na fazenda com Temple Grandin”, promovido pelo Centro de Estudos Comparativos em Saúde, Sustentabilidade e Bem-estar (CECSBE) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenado pelo pesquisador Adroaldo José Zanella. Na ocasião, ela conheceu a campanha nacional para difusão de práticas favoráveis ao bem-estar animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
Eleita pela revista Times, em 2010, como uma das cem pessoas mais influentes do mundo, Temple Grandin se destaca por revolucionar o manejo e as instalações de animais nos Estados Unidos, em especial de bovinos. O desenho de curral em curvas, para que o fluxo de animais seja constante, e para que os animais não se machuquem no caminho, é uma de suas ideias. O uso da bandeira como guia dos animais também foi lançado por ela. Seu modo mais simplificado de ver o manejo e as instalações conquistaram o mundo.
E qual é a importância disso?
A indústria de proteína animal ainda é bastante forte em quase todo o mundo. Pensar em técnicas que reduzam o sofrimento dos animais de criação é uma demanda do consumidor para a produção, portanto, enquanto o animal viver, ele tem que ter sua saúde preservada. Deve ter acesso a comida e água, deve estar livre de dor, de doença, de desconforto, e até de medo e estresse, o que é descrito nas recomendações das cinco liberdades da Organização Mundial de Saúde Animal, nas quais se baseia a campanha do Conselho Federal de Medicina Veterinária. Promotores e conscientizadores das práticas de bem-estar animal na produção estão os médicos veterinários e os Zootecnistas, além dos desenvolvimentos em pesquisa.
Com uma visão muito prática sobre o manejo, a cientista afirmou que é preciso medir para que se tenha parâmetros reais e argumentos sobre o grau de bem-estar dos animais. Essa sugestão se baseia em sua experiência na indústria de proteína norte-americana, quando criou padrões com poucas escalas de classificação para avaliar as plantas frigoríficas, para a indústria, como o Mc Donalds. Com esses dados, pôde avaliar como era o bem-estar no abate de animais, sugerir ajustes e melhorar as instalações para que pudessem ser fornecedoras para a indústria de alimentos. A prova estava em cumprir padrões mínimos.
Temple sugere que o mesmo seja feito nas fazendas. Motivar a medição e mantê-la constante, de forma sistemática, é para ela, o segredo para que se consiga evoluir nas questões de bem-estar animal. “Devem-se criar escalas fáceis e práticas para que se avalie o bem-estar animal. E o médico veterinário ou zootecnista pode ensinar o produtor e sua equipe a aplicar os controles”, explica.
A capacidade de Temple Grandin para solucionar problemas relacionados à produção animal chamou a atenção principalmente por sua condição de saúde. Grandin foi diagnosticada, ainda na infância, com Síndrome de Asperger, que é um tipo de autismo altamente funcional, ou seja, de maior capacidade ou funcionalidade que outros autistas. Ela mesma diz que percebeu que sua maneira de pensar era diferente e que estaria mais próxima do modo que os animais pensam e sentem. Que seu pensamento não era baseado na linguagem, mas em imagens. Sua história Foi contada no filme de 2010, que é dirigido por Mick Jackson e estrelado pela atriz Claire Danes, a qual deve sua participação direta nos sets de filmagem. O filme ganhou cinco estatuetas do Emmy.